UOL


São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MICROBAIRRO

Plano da incorporadora e construtora São José é erguer nos entornos a Vila Nova Conceição desta década

Franz Schubert vira endereço milionário

Fernando Moraes/Folha Imagem
O lado esquerdo da rua Franz Schubert já está sendo demolido


NATHALIA BARBOZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Acaba a badalação noturna, começa o barulho dos bate-estacas. As cifras embutidas na reconstrução da rua Franz Schubert, no Jardim Paulistano (zona oeste de São Paulo), são impressionantes. Em abril, a construtora e incorporadora São José lança o primeiro edifício de um projeto que pretende transformar o seu entorno na Vila Nova Conceição -um dos metros quadrados mais caros da cidade (R$ 4.112)- desta década.
O George Sands, localizado na esquina com a rua Frederico Chopin, segundo a Folha apurou, não sairá por menos de R$ 8.800 o m2. Os 17 apartamentos, de 743 m2 a 1.515 m2, já estão sendo ofertados pela imobiliária Fernandez Mera por de R$ 6,5 milhões a R$ 13,3 milhões. "Mas os preços tendem a dobrar até a entrega do empreendimento", calcula Levi Zylberman, diretor da São José. "Vai virar objeto de desejo", diz.
A julgar pelo exemplo mais próximo -o residencial Frederico Chopin, que começou a ser erguido pela São José no número 157 da rua de mesmo nome, em dezembro de 1999- , a evolução dos valores é certa. Entregue em junho de 2002, as últimas unidades à venda custam de R$ 6,5 milhões a R$ 7 milhões o m2. Como no lançamento o preço do metro quadrado era de R$ 5.450, a valorização foi de 28% e 38%, respectivamente, já descontadas a inflação do período (IGP-M).
Há tempos o Jardim Paulistano é considerado um bairro de localização privilegiada, com acessos fáceis e infra-estrutura de comércio e serviços voltados para o público de alto poder aquisitivo. O projeto da São José é ambicioso: há três anos, ela começou a comprar 8.000 m2 de terrenos na rua Franz Schubert -todo o lado esquerdo- e há outros 6.000 m2 em negociação. O objetivo: transformar a região num microbairro.
"A área limitada pelas avenidas Cidade Jardim e Faria Lima, pelo clube Pinheiros e pela marginal Pinheiros é um bolsão de tranquilidade, conceito que deveria se espalhar pela cidade inteira, não só nos bairros caros", diz o urbanista Cândido Malta Campos Filho, 67, presidente de uma associação de moradores nas proximidades dessa região. "É positiva a idéia de se preocupar com o entorno dos empreendimentos para a criação de bairros de qualidade."

Arquiteto argentino
Na avaliação dele, "não é exploração imobiliária", porque conta só com recursos privados. "Mas demonstra como o projeto urbanístico da cidade está atrasado, na comparação com Buenos Aires, Caracas e Santiago, por exemplo." Para criar "um novo centro de moradia para a classe alta, explorando a vocação das ruas", a São José contratou o arquiteto argentino Pablo Slemenson, 49.
"Queremos planejar e prever o futuro das plantas dos prédios e dar às novas construções uma noção de conjunto harmônico de arquitetura", explica. Em tese, o que Slemenson quer é tratar a região como um microbairro, inclusive com a padronização do ajardinamento, em acordo com a Subprefeitura de Pinheiros. "Os atributos do Jardim Paulistano são ainda melhores que os da Vila Nova Conceição. Só falta o parque."
"É interessante para a cidade de São Paulo a criação de mais um bolsão de moradia que acompanhe a tendência de o paulistano simplificar sua vida morando perto do trabalho", afirma Basílio Jafet, diretor de incorporação do Secovi (sindicato de imobiliárias e construtoras). "Não será um bairro fechado. O projeto deve trazer qualidade de vida à cidade e fazer com que ela flua e não se compartimente", explica o arquiteto.
A São José prepara também o lançamento do residencial Franz Schubert, ao lado do George Sands, cuja suntuosidade lembra o Golden Gate, entregue em 1978, um marco do estilo neoclássico de Adolpho Lindenberg. "Até hoje, a cobertura tríplex de 1.800 m2 do edifício da rua Prof. Artur Ramos atrai olhares", diz João Freire D'Ávila, da Amaral D'Ávila Engenharia de Avaliações.
À época, rivalizavam com ele os prédios da Gomes de Almeida, Fernandes (hoje Gafisa) e da Saint Patrick, que atuava nos arredores do clube Pinheiros. "Nos anos 90, a recessão fez o mercado sobreviver de imóveis de luxo. Foi quando houve a valorização estética na Vila Nova Conceição." Recentemente, o alto padrão migrou para as ruas Curitiba (Paraíso), Morás (Vila Madalena) e Fernandes de Abreu (Vila Nova Conceição).


Texto Anterior: Microbairro nasce das ruínas da Franz Schubert
Próximo Texto: Pay-per-view: Neoclássico inglês custa R$ 8.800 o m2
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.