São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2001

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ZONEAMENTO

Sobra qualidade de vida nas Z1 (áreas só de casas); ausência de comércio e alto preço do m2 são pontos negativos

"Oásis" residenciais ocupam 4,8% de SP



Luana Fischer/Folha Imagem
TRANQUILIDADE Luciana Michelleti diz que não sente falta de comércio na Granja Julieta; a socióloga se considera privilegiada por criar Pedro, 4, e Cora, 1, em uma casa com piscina e jardim

TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma cidade caracterizada pela verticalização, elas se apresentam como verdadeiros oásis residenciais: estão livres do barulho e do trânsito intenso, são mais arborizadas e não possuem estabelecimentos comerciais.
Criadas pela lei de zoneamento de 1972, as Z1 (áreas de uso estritamente residencial, destinadas somente a casas) representam, hoje, 4,8% do total de São Paulo, segundo a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Somam cerca de 29 milhões de metros quadrados e diferem do resto da paisagem da cidade, com edifícios e avenidas movimentadas.
"As atuais Z1 serão preservadas, e nada impede que apareçam novas. Mas essa lógica de setorização das regiões está em desuso devido à grande demanda por serviços", afirma o secretário de Planejamento, Jorge Wilheim, 72.
Para Eduardo Della Manna, 43, urbanista e vice-presidente de legislação urbana do Secovi (sindicato das imobiliárias e construtoras), a existência das Z1 dificulta o adensamento de São Paulo, que "ainda precisa crescer internamente, não só nas regiões mais afastadas".

Prós e contras
Na defesa das zonas residenciais, qualidade de vida é o principal argumento dos moradores. "Tenho liberdade. Sem que os vizinhos reclamem, posso furar a parede para colocar um quadro, e meus filhos andam de velocípede", diz Luciana Micheletti, 28.
Há dois anos, ela trocou o apartamento de 100 m2 por uma casa de 600 m2 na Granja Julieta (zona sul de São Paulo). Um dos motivos da mudança foi oferecer mais espaço para as brincadeiras dos filhos Pedro, 4, e Cora, 1.
A psicóloga Mirthes Ferreira de Oliveira, 56, também moradora da Granja Julieta, aprecia a privacidade. "Sou reservada e não suporto elevador. Em casa, crio cinco gatos e três cachorros."
Se liberdade e privacidade são atrativos das ilhas residenciais, segurança, dificuldade de deslocamento e infra-estrutura de comércio e de serviços ausente são os pontos negativos. O preço do metro quadrado dos terrenos, em geral, é mais caro nas Z1 (confira quadro abaixo).
"Apenas uma linha de ônibus passa na minha rua. Para comprar pão, vou de carro", relata o advogado Felipe Francisco, 24, que mora no Pacaembu (zona central de São Paulo).
"Levo mais de uma hora para chegar à avenida Paulista. Se tivesse de fazer isso todo dia, seria inviável", diz Mirthes. A psicóloga perdeu 80% da clientela ao desativar o consultório no Itaim (zona sudoeste) para atender em casa.
Já Luciana Micheletti não dorme sozinha em casa. "Dá medo."


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