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CLASSE MÉDIA
Lei da oferta e da procura faz incorporadoras lançarem 13 mil unidades neste ano, 67% a mais que em 2002
Escassez traz de volta o dois-dormitórios
MONICA FAVERO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois de ter sido deixado de lado por dois anos consecutivos,
amargando uma queda de ofertas
de 25,8% e 23%, respectivamente,
o mercado de dois-dormitórios
(apartamentos e casas de 50 m2 a
60 m2, na faixa de preço "popular") será reabastecido neste ano
com 13 mil novas unidades, contra as 7.768 lançadas em 2002.
Esse crescimento de 67%, estimado pela Embraesp (Empresa
Brasileira de Estudos do Patrimônio) e sustentado pelas construtoras e incorporadoras ouvidas pela
Folha, atende uma demanda reprimida. "Devido à falta de opções, as classes média e média baixa se decidiram mais velozmente
pela compra. Do ano passado, sobrou pouco para vender", diz Tomas Salles, da imobiliária Lopes.
É o que mostra o termômetro
do mercado imobiliário, o IVV
(Índice de Velocidade de Vendas
-percentual de unidades vendidas a cada cem ofertadas). Enquanto o de imóveis "populares"
(R$ 50 mil a R$ 75 mil) foi de
12,9% (considerado excelente), o
de alto padrão (mais de R$ 250
mil), que cresceu 100% em 2002,
foi de 8,2% (bom), segundo o
Secovi-SP (sindicato do setor).
"Não há dúvida que a procura
foi grande. Quem não comprou
com certeza teve dificuldades
com o financiamento bancário",
analisa Sérgio Vieira, da imobiliária Coelho da Fonseca. No ano retrasado, a CEF (Caixa Econômica
Federal) encerrou o plano Carta
de Crédito, que financiava imóveis novos e usados. Os novos voltaram a ser custeados em janeiro
de 2002, e os usados, em agosto.
"Em 2001 e no ano passado,
com a falta de energia elétrica, a
crise na Argentina e as eleições, os
lançamentos para a classe média
ficaram limitados, criando uma
enorme demanda reprimida.
Nesses períodos, incorporadoras
e construtoras investiram nos
imóveis de alto padrão, com venda garantida", afirma Luiz Paulo
Pompéia, diretor da Embraesp.
Financiamentos
A construtora e incorporadora
Goldfarb vai dobrar sua produção
de edifícios de dois dormitórios:
estão previstas, neste ano, 1.400
unidades (Aricanduva, Butantã e
Freguesia do Ó). Na Inpar, a meta
é aumentar a oferta em 30%, chegando a 653 unidades no ano. A
Tecnisa lançará sete condomínios
neste primeiro semestre, e a Liderança, 500 unidades.
De olho nesse segmento, a Gafisa reservou 25% da sua produção
para os empreendimentos de dois
e três dormitórios compactos,
mas para um público de maior
poder aquisitivo. "Lançaremos
1.500 unidades para a classe média, porém nosso diferencial será
a localização em distritos nobres
como Moema e Perdizes", adianta Odair Senra, diretor.
Para escoar essa produção, o
mercado conta com o aumento
das linhas de crédito oferecidas
pela CEF e pelos bancos privados.
"Sem financiamentos que se estendem por até 15 anos, fica difícil
para a classe média adquirir um
imóvel na planta ou em construção. Nesse caso, o papel da CEF,
como agente repassador, torna-se
fundamental", pondera João D"
Ávila, da consultoria Amaral D"
Ávila Engenharia de Avaliações.
O aumento dos recursos já foi
garantido pelo novo governo. Por
ser responsável por 65% dos financiamentos, a CEF vai destinar
cerca de R$ 6 bilhões para a área
da habitação. Em 2001 e 2002, foram empregados R$ 4,7 bilhões e
R$ 4,8 bilhões, respectivamente.
Quanto aos bancos, a resolução
3.005 do Banco Central, em vigor
desde setembro do ano passado,
determina que eles retornem
obrigatoriamente ao mercado
imobiliário parte dos recursos do
Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), formado
pelo recolhimento de 5% do valor
das prestações para cobrir resíduos de financiamentos.
"São R$ 35 bilhões que devem
retornar ao mercado em parcelas
mensais, cerca de R$ 350 milhões,
que serão utilizados em financiamentos todos os meses, durante
cem meses", explica Basílio Jafet,
vice-presidente de Incorporações
Imobiliárias do Secovi-SP. "Os
bancos privados já estão fazendo
isso, mas não na totalidade."
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