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São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

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CLASSE MÉDIA

Lei da oferta e da procura faz incorporadoras lançarem 13 mil unidades neste ano, 67% a mais que em 2002

Escassez traz de volta o dois-dormitórios

MONICA FAVERO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de ter sido deixado de lado por dois anos consecutivos, amargando uma queda de ofertas de 25,8% e 23%, respectivamente, o mercado de dois-dormitórios (apartamentos e casas de 50 m2 a 60 m2, na faixa de preço "popular") será reabastecido neste ano com 13 mil novas unidades, contra as 7.768 lançadas em 2002.
Esse crescimento de 67%, estimado pela Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio) e sustentado pelas construtoras e incorporadoras ouvidas pela Folha, atende uma demanda reprimida. "Devido à falta de opções, as classes média e média baixa se decidiram mais velozmente pela compra. Do ano passado, sobrou pouco para vender", diz Tomas Salles, da imobiliária Lopes.
É o que mostra o termômetro do mercado imobiliário, o IVV (Índice de Velocidade de Vendas -percentual de unidades vendidas a cada cem ofertadas). Enquanto o de imóveis "populares" (R$ 50 mil a R$ 75 mil) foi de 12,9% (considerado excelente), o de alto padrão (mais de R$ 250 mil), que cresceu 100% em 2002, foi de 8,2% (bom), segundo o Secovi-SP (sindicato do setor).
"Não há dúvida que a procura foi grande. Quem não comprou com certeza teve dificuldades com o financiamento bancário", analisa Sérgio Vieira, da imobiliária Coelho da Fonseca. No ano retrasado, a CEF (Caixa Econômica Federal) encerrou o plano Carta de Crédito, que financiava imóveis novos e usados. Os novos voltaram a ser custeados em janeiro de 2002, e os usados, em agosto.
"Em 2001 e no ano passado, com a falta de energia elétrica, a crise na Argentina e as eleições, os lançamentos para a classe média ficaram limitados, criando uma enorme demanda reprimida. Nesses períodos, incorporadoras e construtoras investiram nos imóveis de alto padrão, com venda garantida", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp.

Financiamentos
A construtora e incorporadora Goldfarb vai dobrar sua produção de edifícios de dois dormitórios: estão previstas, neste ano, 1.400 unidades (Aricanduva, Butantã e Freguesia do Ó). Na Inpar, a meta é aumentar a oferta em 30%, chegando a 653 unidades no ano. A Tecnisa lançará sete condomínios neste primeiro semestre, e a Liderança, 500 unidades.
De olho nesse segmento, a Gafisa reservou 25% da sua produção para os empreendimentos de dois e três dormitórios compactos, mas para um público de maior poder aquisitivo. "Lançaremos 1.500 unidades para a classe média, porém nosso diferencial será a localização em distritos nobres como Moema e Perdizes", adianta Odair Senra, diretor.
Para escoar essa produção, o mercado conta com o aumento das linhas de crédito oferecidas pela CEF e pelos bancos privados. "Sem financiamentos que se estendem por até 15 anos, fica difícil para a classe média adquirir um imóvel na planta ou em construção. Nesse caso, o papel da CEF, como agente repassador, torna-se fundamental", pondera João D" Ávila, da consultoria Amaral D" Ávila Engenharia de Avaliações.
O aumento dos recursos já foi garantido pelo novo governo. Por ser responsável por 65% dos financiamentos, a CEF vai destinar cerca de R$ 6 bilhões para a área da habitação. Em 2001 e 2002, foram empregados R$ 4,7 bilhões e R$ 4,8 bilhões, respectivamente.
Quanto aos bancos, a resolução 3.005 do Banco Central, em vigor desde setembro do ano passado, determina que eles retornem obrigatoriamente ao mercado imobiliário parte dos recursos do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), formado pelo recolhimento de 5% do valor das prestações para cobrir resíduos de financiamentos.
"São R$ 35 bilhões que devem retornar ao mercado em parcelas mensais, cerca de R$ 350 milhões, que serão utilizados em financiamentos todos os meses, durante cem meses", explica Basílio Jafet, vice-presidente de Incorporações Imobiliárias do Secovi-SP. "Os bancos privados já estão fazendo isso, mas não na totalidade."


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