São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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PRAGAS URBANAS

Câmara vota projeto de lei que responsabiliza construtoras; situação de 13 bairros da capital é crítica

Cupim de solo terá de ser tratado na obra

Fernando Moraes/Folha Imagem
Cássio Gouveia há 11 anos tenta eliminar o cupim que destrói sua casa


ELENITA FOGAÇA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As pragas em edificações antigas e novas na cidade de São Paulo tornaram-se um problema tão crônico que o vereador Paulo Frange (PTB) criou o primeiro Código Municipal de Controle de Vetores e Pragas Sinantrópicas.
Traduzindo, o projeto de lei, que deve ser votado na Câmara na próxima semana, exige que as construtoras façam um tratamento contra cupins no solo antes de iniciar as obras. Estão especificadas, também, responsabilidades para condomínios, inquilinos e proprietários de imóveis.
Nos cinco primeiros meses deste ano, segundo a Aprag (Associação Paulista dos Controladores de Pragas Urbanas), o aumento da ocorrência de pragas (baratas, cupins e ratos) nos grandes centros urbanos do Estado de São Paulo foi de 20% a 25% comparado ao mesmo período de 2001.
Aclimação, Higienópolis, Jardim América, Jardim Europa, Jardim Paulista, Jardim Paulistano, Lapa, Moema, Pacaembu, Paraíso, Perdizes, Pinheiros e Vila Mariana têm a situação mais crítica. "Com o desmatamento desses bairros, que eram mais arborizados, os cupins saíram em busca de alimento", explica Luis Fernando Macul, presidente da Aprag.
Os cupins subterrâneos, que têm seus ninhos sob o solo, atacam qualquer tipo de imóvel em função de um desequilíbrio ecológico. Chegam ao interior da casa por meio de fissuras no concreto, passagem de cabos e conduítes, colunas ou por qualquer fresta.
"Mal à saúde eles não fazem, mas acabam com o patrimônio", garante o vereador e médico Paulo Frange. Dependendo do grau de comprometimento da estrutura, o imóvel chega a ser desvalorizado de 40% a 100%, afirma Benedicto Franco Silveira Netto, supervisor técnico de avaliação de bens da Caixa Econômica Federal (CEF). "E o crédito para financiamento não sai de jeito nenhum."
No projeto de lei, os condomínios deverão fazer controle das pragas das áreas comuns a cada 24 meses, e as unidades autônomas, a cada 18 meses. No caso do imóvel alugado, a responsabilidade recairá sobre o inquilino.

Até na cobertura
A comerciante Margarethe Corrêa Tschizik, 33, espera que o prédio faça uma eficiente descupinização para vender o imóvel que comprou, há quatro anos, na Mooca (zona leste). "Tive de me mudar da cobertura. Até lá os cupins de solo conseguiram chegar e contaminar os cinco cômodos."
Para Gonzalo Lopes, biólogo e pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) da USP (Universidade de São Paulo), "não se pode obrigar todo mundo a sair aplicando produtos químicos pela cidade". Na avaliação dele, "a questão ambiental tem de ser levada muito a sério".
O biólogo diz que o controle das pragas tem de estar "muito bem alinhado" com a fiscalização do poder público. "O tratamento não pode ser aplicado aleatoriamente com produtos químicos, e não são todos os terrenos da cidade que estão infestados de cupins."
O diretor da Aprag, Antônio Marco França, garante que, hoje, existem produtos mais "amigáveis" com o meio, e é justamente por isso que as pragas são controladas e não exterminadas por completo. "Antigamente, o veneno era muito mais forte e aplicado sem controle algum."
"É quase impossível exterminar o cupim na cidade", reconhece o pesquisador do IPT. Segundo ele, para erradicá-los, "seria necessário encharcar o solo com veneno, e, mesmo assim, não se teria certeza da eliminação do problema".



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