São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2002

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INIMIGO À VISTA


Cada vez mais "confinados" em suas casas, moradores se deparam com as tensões da convivência na vizinhança

Vizinho inconveniente à vista

Fernando Moraes/Folha Imagem
O síndico Nilton Savieto (à esq.) tenta aproximar as famílias do condomínio com festas e viagens


DA REPORTAGEM LOCAL

Assustados com a violência e o trânsito, muitos buscam em casa o refúgio ideal. Mas, à procura do paraíso, podem encontrar justamente o inverso por causa de um detalhe: o vizinho inconveniente.
É nessa hora que a política da boa vizinhança pode ser a melhor alternativa para evitar a presença de um inimigo morando ao lado.
"Ter bom relacionamento com os vizinhos é essencial para viver bem", diz Benjamim Souza Cunha, 59, vice-presidente do Secovi-SP (sindicato das imobiliárias e construtoras). Para Maria Lucia Abdalla, da administradora Oma, tudo começa com a escolha certa do lugar para morar: "É importante informar-se sobre a vizinhança e seus hábitos antes".
José Roberto Graiche, 56, presidente da Aabic (associação das administradoras de condomínios), recomenda adequar os hábitos ao estilo de vida dos outros moradores. "Se é uma família com crianças, não deveria se mudar para um local sem um playground e com muitos idosos."
Atenção a detalhes como o horário de jogar o lixo, para que o odor não se espalhe pelo prédio, ou avisar o vizinho de que vai dar uma festa ou reformar o imóvel são outras "regras de etiqueta" que garantem convivência pacífica a quem divide paredes.
"O que mais falta é diálogo", resume a juíza-diretora Mônica Rodrigues Dias de Carvalho, 36, do Juizado Especial Cível Central de São Paulo. Segundo ela, 17% das reclamações no juizado são de litígios entre vizinhos. "São os casos mais difíceis, pois já chegam com predisposição ao confronto."
Apesar de não ser uma relação de consumo, o direito de vizinhança motivou 561 consultas recebidas pelo Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) em 2001 -17,8% de um total de 3.146 ligações. "A procura é tão grande que lançamos um livro com dicas de como viver melhor em condomínio", afirma o advogado do Idec, Marcos Diegues, 43.

Violência
Para o psiquiatra Marco Antonio Spinelli, o alto nível de irritabilidade e estresse social ajuda a explicar os conflitos. "As pessoas estão mais confinadas em casa, fugindo da violência e do trânsito, e têm mais tempo para se desentender com quem mora ao lado."
Já a psicóloga e consultora organizacional Neyde Marques, 58, compara a vida em condomínio a um "caldeirão de emoções": "Como dizia Guimarães Rosa, "quem quer viver faz mágica". No condomínio, é preciso "magicologia'". Para isso, sugere a integração entre os vizinhos por meio de festas.
E é o que faz o síndico Nilton Savieto, 51. Para aproximar as 40 famílias de seu condomínio, Savieto organiza festas, jantares, campeonatos e até viagens fretadas entre os vizinhos. "Prova de que funciona é que, em dez anos, nunca foi aplicada uma multa, e as assembléias contam com uma presença superior a 50%." (CÁSSIO AOQUI)


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