São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

Próximo Texto | Índice

Leilão reduz inadimplência

Rapidez na retomada impulsiona queda de taxas de não-pagamento

Leo Caobelli/Folha Imagem
A assistente administrativa Clarissa Zanelato, 33, conta que já renegociou cinco vezes adívida do imóvel que financiou em 19 anos, em 2002, por ter ficado um ano desempregada


GIOVANNY GEROLLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No cenário econômico atual de inflação controlada, boom do mercado imobiliário e investimentos dos bancos em novos produtos de financiamento, outra boa nova é a queda da inadimplência dos mutuários.
Dados da CEF (Caixa Econômica Federal) apontam que o não-pagamento de prestações por período superior a 60 dias, que era de 9,54% em 2004, chegou a 5,96% em julho de 2007.
Mas, nos bastidores da mise-en-scène das porcentagens, a estabilidade econômica não é a única responsável pela pontualidade. Há outro fator crucial: a maior rapidez na retomada dos imóveis de inadimplentes.
Levantamento da Associação Nacional dos Mutuários revela que mais de 150 imóveis são arrematados por mês pela CEF em São Paulo, "um aumento de 20% em relação a 2006", calcula Marcelo Luz, presidente.
"Antigamente, a retomada do bem acontecia depois de um ano de inadimplência", revela o consultor jurídico da ABMM (Associação Brasileira dos Moradores e Mutuários), Wilson Gomes. "Hoje, depois de quatro meses inadimplente, o mutuário já bate em nossas portas."
A realização de leilões com maior freqüência sinaliza agilidade nos processos de alienação, afirma Gomes. "As estatísticas enganam se considerarmos que quem perde o imóvel em leilão deixa, em tese, de ser inadimplente", acrescenta.
A aceleração da retomada tornou-se possível graças a mudanças legais na alienação fiduciária, aprovadas em 2004.
Com a garantia, se o devedor não liquida a obrigação no vencimento, o credor pode exigir na Justiça a apreensão do bem, pois o comprador só adquire a sua propriedade definitiva depois que paga toda a dívida.
"O mutuário não pode questionar os juros inerentes [estipulados no contrato], o que dá aos bancos maior segurança", argumenta o superintendente de crédito imobiliário do Banco Real, Antônio Barbosa.

Em último caso
A CEF pondera que o processo pode ser suspenso a qualquer momento para a renegociação da dívida. Sua assessoria de imprensa informou à Folha que a retomada ocorre somente em última instância.
Amauri Bellini, presidente da ABMH (Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação), observa que a queda na inadimplência esconde um desfalque entre os contratos novos e os mais velhos, que passaram por crises e planos econômicos.
"Como as carteiras dos anos 80 já estão em fase de vencimento, restam as atuais, sem desequilíbrios de correções e saldos devedores", define.


Próximo Texto: Passo maior que a perna e desemprego são vilões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.