São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004

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DIVERSIDADE

Nas zonas leste e norte há preferência por grandes cozinhas; moradores dos Jardins privilegiam "livings" amplos para receber amigos

Bairros "lançam" imóveis com a cara do comprador

EDSON VALENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dize-me onde moras e te direi quem és. Dos que querem espaço para abrigar festas modernosas aos mais tradicionais, que não trocam por nada um farto almoço em família, a personalidade dos moradores se reflete no perfil dos imóveis em cada região da cidade.
Tanto que os bairros "se especializaram" em atender a demandas específicas do mercado. "Em Santana e na Mooca, as pessoas convivem mais na cozinha, não usam uma sala de jantar", afirma Odair Senra, 57, diretor da construtora e incorporadora Gafisa.
Os moradores dessas regiões são apegados à vizinhança e dificilmente saem de lá para comprar em outras localidades, lembra Amarildo de Oliveira, 40, gerente de relações comerciais da construtora e incorporadora Lider.
Por outro lado, áreas mais centrais, de densidade urbana maior, como os Jardins, reúnem pessoas mais pragmáticas. "Querem desfrutar do "home theater" ou receber amigos", define Bernd Rieger, 63, auditor de investimentos imobiliários. "É um tipo de Nova York, em que as pessoas desejam espaço de convívio e o maior "living" possível. Pela cozinha, passam depressa, só para comer."
Em suma, a escolha do imóvel é influenciada pela formação sociocultural do comprador. "Quem vem do interior ou de outros Estados e valoriza a família busca cozinha ou sala de almoço ampla e iluminada, que favoreça o convívio", observa o auditor.
Quando o estilo de vida muda, as pessoas geralmente migram para outro bairro mais compatível, de acordo com Frederico Bonnard, 50, diretor da construtora e incorporadora Brascan. "A Vila Madalena (zona oeste), por exemplo, atrai um públi- co mais jovem, que, quando constitui família, muda-se para Moema (zona sul)", exemplifica.

Sala ampla
Mesmo alheios às teorias, os consumidores comprovam sua lógica na prática. A atriz Luciana Azevedo, 35, conta ter visitado 80 imóveis em quatro meses para escolher o apartamento de seus sonhos. Acabou comprando um nos Jardins, com sala grande, no prédio em que mora a mãe dela.
"Vivo na região desde pequena, não queria me mudar dali", relata. "Quando vi o imóvel, a amplitude da sala me empolgou. Fiquei com ele na cabeça o tempo todo." Só há um problema -o chamativo cômodo ainda não foi decorado. "Não quero comprar qualquer móvel", explica a atriz.
Mas os incorporadores nem sempre conseguem atender às variações geográficas de demanda. "Sempre pesquisamos antes de lançar um empreendimento, mas não dá para variar muito os projetos, pois o que manda mesmo é o tamanho do bolso do comprador", pondera Senra, da Gafisa.


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