São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 1998.



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LEGADO
Construções feitas por Ramos de Azevedo ou sua equipe, como o Teatro Municipal, são hoje marcos históricos
Arquiteto ajudou metrópole a nascer

ROSANA DE VASCONCELLOS
Editora de Imóveis

Muito mais que nome de praça, o arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) teve um papel fundamental na definição da "cara" que a cidade de São Paulo assumiu a partir do momento em que começou a virar metrópole -e cujos principais marcos persistem até hoje, quando a cidade completa 444 anos, na região conhecida como centro velho.
Construções como o Teatro Municipal, o edifício dos Correios, o Mercado Municipal, o colégio Caetano de Campos (ocupado pela Secretaria da Educação), a atual sede da Pinacoteca e os prédios do pátio do Colégio, projetados por Ramos de Azevedo ou de responsabilidade de sua empresa, o Escritório Técnico FP Ramos de Azevedo, ainda hoje são reconhecidos como marcos históricos da cidade.
"Ramos de Azevedo surgiu no momento em que São Paulo atingia o primeiro estágio de metrópole. Suas obras são signos desse processo de transformação", diz Maria Aparecida Lomônaco, 52, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e integrante do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.
Para Carlos Lemos, 72, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), uma das principais contribuições de Ramos de Azevedo foi a modernização que ele promoveu na cidade. "São Paulo era muito pobre, provinciana, sem ruas e avenidas. A sociedade estava se acotovelando no centro, em casas antigas, de taipa de pilão. Foi Ramos de Azevedo que deflagrou a reforma das condições de habitação da cidade", diz Lemos, autor de uma biografia do arquiteto, intitulada "Ramos de Azevedo e seu Escritório".
Essa contribuição, segundo Lemos, se deu principalmente por meio da atuação de sua empresa de arquitetura e construção, que aparece como responsável pela maioria das obras. "Não existe a pessoa Ramos de Azevedo. Existe o escritório Ramos de Azevedo. Ele não prescindiu do auxílio de outros arquitetos", diz Lemos.
Revalorização
Para Lomônaco, está ocorrendo uma revalorização da obra do arquiteto, traduzida na recuperação de edifícios como o Teatro Municipal e a Pinacoteca.
Ela destaca o fato de Ramos de Azevedo ter participado de todas as áreas da metrópole que nascia: fez obras na área da educação, da cultura, da alimentação.
Outro aspecto importante, segundo ela, é o status que ele adquiriu na época. Como exemplo, ela cita o fato de uma personagem (Lenita) do romance "A Carne", de Julio Ribeiro, declarar que seu sonho é morar em São Paulo, em uma casa projetada por Ramos de Azevedo. "Ele era uma grife."



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