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São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 2003

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"OFF-SHORE"

Vendas aumentam para Colômbia, Venezuela e Equador, mas caem 70% para o Brasil após a alta do dólar

Brasileiro deixa de ser "rei" do mercado de imóveis de Miami

NATHALIA BARBOZA
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI

Não foram só as lojas de eletroeletrônicos de Miami que sentiram os reflexos da alta do dólar frente o real. As compras tupiniquins no mercado imobiliário local representam hoje menos de 30% da movimentação que gerou em 1998, sinal claro do final do "milagre brasileiro" que significou a paridade entre as moedas.
Os brasileiros estão sendo desbancados por equatorianos, colombianos e venezuelanos, revela o corretor João Luiz Carvalho, da Swire Brickell Key Realty.
"Em 1989, fechávamos 30 negócios com brasileiros por mês. Hoje, não passam de seis", afirma Leo Ickowicz, 54, sócio da imobiliária Elite International.
E não eram apenas mansões, embora os brasileiros sempre preferiram imóveis caros (de US$ 700 mil a US$ 1,2 milhão). Por isso a prestação do financiamento também ficou maior. "Quem se apertou resolveu alugar", conta José Augusto Pereira Nunes, 56, vice-presidente da imobiliária Algebra International. Bom para quem ainda precisa pagar o financiamento, o condomínio e o imposto predial. "Em alguns casos, sobram até uns trocos."
Segundo Ickowicz, o aluguel de um apart-hotel de 70 m2 varia de US$ 1.500 a US$ 2.000. Já o imposto anual costuma equivaler a mais de 1% do valor do imóvel.
"Quem comprou a prazo nos EUA fez um negócio de alto risco, sobretudo se recebe em real", diz Alexandre Assaf Neto, consultor de finanças e professor da USP.
O problema é que, segundo os corretores ouvidos pela Folha, 99% dos brasileiros que compram imóveis em Miami optam pelo financiamento de 30 anos e estão sujeitos ao sistema de hipotecas (não leva mais do que 40 dias para o banco retomar o imóvel em caso de inadimplência).
"Para esses, a melhor estratégia é planejar o fluxo de caixa comprando dólar no mercado futuro sempre que tiver a perspectiva de que vai subir", recomenda Assaf Neto. Já a economista Beatriz Fereira sugere os fundos cambiais. "São um investimento mais acessível à pessoa física", justifica.
O proprietário também não deve se esquecer da taxa de condomínio, que não sai por menos de US$ 500, para um apartamento de 100 m2 em Brickell Key.

Caminho inverso
É por isso que muitos resolveram vender. Mas, nesse caso, alerta Carvalho, terão de pagar imposto sobre o lucro real obtido na negociação de imóveis que valem mais de US$ 300 mil.
No caminho inverso, a alta do dólar tem ajudado a construtora MRV a atrair quem mora fora do país para a compra de imóveis no Brasil. "Hoje, a maioria [420 unidades" de nossas vendas pela internet são para esse público", diz o gerente José Renato Araújo. É por isso que a MRV acaba de chegar a Portugal, onde está a segunda maior colônia brasileira, e planeja ir ao Japão e à Espanha.

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