São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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GUIA DO FINANCIAMENTO

Ano deve bater recorde de empréstimos

RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para quem está pensando em financiar um imóvel, uma notícia boa e outra ruim. Primeiro, a boa: nunca houve tanto dinheiro em caixa para empréstimos pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação), e há quem aposte que 2004 será ano recorde na concessão de financiamentos bancários.
"O sistema todo está com a carteira imobiliária aberta", afirma Décio Tenerello, presidente da Abecip (que reúne entidades de crédito imobiliário e de poupança). De acordo com dados da associação, no ano passado foram financiadas 36.446 unidades (investimento de R$ 2,2 bilhões), contra 28.905 em 2002 (R$ 1,7 bilhão) -crescimento de 26%.
E o ritmo de alta permanece acelerado em 2004. No primeiro trimestre deste ano, o volume financiado alcançou 9.852 unidades, ou R$ 554 milhões, contra 6.817 unidades (R$ 397 milhões) no mesmo período de 2003.
Nas projeções da Abecip, 2004 deve terminar com um crescimento de, no mínimo, 15% sobre 2003. Não deverá haver, no entanto, demanda suficiente para tamanha oferta, afirma Tenerello. "As pessoas estão inseguras em assumir dívidas de longo prazo."
Agora, a notícia ruim. Apesar da oferta crescente, as dificuldades para a obtenção de crédito não diminuíram. "Os bancos continuam muito criteriosos. O volume dos financiamentos [concedidos] vem até diminuindo", diz Miguel de Oliveira, presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
A carteira de financiamentos imobiliários com recursos livres (do sistema hipotecário e do SFI -Sistema Financeiro Imobiliário), que os bancos investem como quiserem, teve queda de 17,3% de março de 2002 a março de 2003 (de R$ 1,658 bilhão para R$ 1,372 bilhão), exemplifica.

"Apetite"
O número aponta redução do "apetite" dos bancos pelo setor imobiliário. Segundo Oliveira, os bancos preferem financiamentos mais curtos, que ofereçam menos risco. Vale lembrar que a destinação de recursos para o SFH é obrigatória e independe da vontade das instituições.
Luiz Paulo Pompéia, diretor da consultoria Embraesp, concorda. "O governo vem anunciando novas linhas de crédito, mas elas nunca chegam à população." Segundo ele, do total de transações imobiliárias realizadas pelo mercado financeiro em 2001, 53% foram com financiamento bancário. Em 2002, esse índice teve queda acentuada, para 27%. Em 2003 a oferta melhorou, mas, na avaliação do consultor, permaneceu em um patamar baixo: 35%.

Simulação
Segundo especialistas, vale a pena suar um pouco mais para conseguir um financiamento bancário. Isso porque o SFH é considerado o sistema de financiamento imobiliário menos oneroso.
A pedido da Folha, o professor William Eid Júnior, do departamento de Finanças da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas), calculou a diferença entre comprar um imóvel pelo SFH, financiado diretamente com a incorporadora ou por meio de consórcio, considerando juros no patamar de 1% ao mês.
O SFH se confirmou como o mais vantajoso. O consórcio apareceu em segundo lugar, e as incorporadoras como a pior opção (confira as simulações completas do professor João Domiraci Paccez, da FEA/USP -Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade-, nas págs. 3 e 4).
Para o também professor Roy Martelanc, diretor da Fundação Instituto de Administração (ligada à FEA/USP), existe uma tendência de o SFH continuar liderando as opções mais econômicas do mercado. "A TR [que corrige os contratos do sistema] está desvalorizada", analisa.


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