São Paulo, domingo, 30 de julho de 2000


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ARQUITETURA
Fenômeno paulistano, preferência pelo estilo, especialmente pela classe média, influencia na venda de imóveis
Neoclássico é curinga no mercado de SP

Luana Fischer/Folha Imagem
O Campos Elíseos, um dos famosos neoclássicos da cidade


DA REPORTAGEM LOCAL

Os empreendimentos no estilo neoclássico estão para o mercado imobiliário de São Paulo como o Gol está para o de automóveis. Ou seja, assim como o carro, que, apesar de ter sido lançado em 1980 continua liderando as vendas, o estilo detém boa parte do mercado imobiliário paulistano.
De janeiro de 96 até hoje, a construtora Cyrela lançou 25 empreendimentos -desses, 18 eram em estilo neoclássico (72%).
Segundo a construtora, a opção foi consolidada depois que a empresa passou a fazer pesquisas antes de lançar novos edifícios. Nas enquetes, 7 em cada 10 entrevistados preferiam o neoclássico.
"Com certeza, há uma faixa considerável de mercado para esse estilo", afirma o consultor imobiliário Hubert Gebara.
Ele, entre outros especialistas, afirma que esse é um fenômeno tipicamente paulistano.
"Talvez seja porque tenhamos como referência os antigos casarões da avenida Paulista ou porque temos uma proximidade com os europeus, pelos imigrantes."
O primeiro neoclássico da Cyrela fora da cidade de São Paulo foi lançado neste ano. Para a surpresa dos executivos da construtora, o flat Meliá Confort Campinas vendeu 300 unidades em um mês.

Valorização
Uma das vantagens do estilo, apontada por quem o defende, é o fato de estar sempre na moda. Nessa lógica, um prédio de pastilhas roxas pode desvalorizar muito depois de a tendência passar, enquanto o neoclássico continua quase no mesmo patamar.
"É um estilo que já nasce velho, por isso tende a desvalorizar menos. Mas é difícil dizer o quanto isso influencia, porque há outros fatores, como a planta e a localização, que pesam no preço", diz Odair Senra, diretor de incorporações da construtora Gafisa.

Túmulo da arquitetura
O neoclássico predomina na cidade há muito tempo, segundo Carlos Lemos, arquiteto, historiador e professor da USP (Universidade de São Paulo).
"A partir da década de 20, houve um incremento nisso. O neoclássico, porém, é um estilo próprio para casas. O que se faz em edifícios é uma reinvenção. Qualquer coisa hoje é neoclássico", afirma Lemos.
A nova onda desse estilo, que atingiu o mercado de prédios, surgiu nos anos 60, com a construtora de Adolpho Lindenberg.
Para Carlos Lemos, a predominância do neoclássico empobrece a cidade. "São Paulo não é só o túmulo do samba, é também o da arquitetura. Esse estilo representa o gosto da classe média paulistana, que é muito conservadora." A opção, na opinião de Lemos, é por economia. "Prédios modernos, com grandes vãos e janelas, custam muito mais caro."
Segundo ele, a vanguarda da arquitetura da cidade está nos prédios comerciais. "Hoje em dia nem se chama mais um arquiteto famoso para fazer residenciais."
(SÉRGIO DURAN)



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