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DESATE-SE
Repórter aceita desafio de viver 30 dias conectado à internet sem cabos e conclui que vida wireless faz pouca diferença
Leigo livra-se de fios para conectar micro
WILLIAM GRIMES
DO "NEW YORK TIMES"
A missão era simples. Experimentar o mundo wireless e escrever sobre isso. Fantástico. Uma
pergunta: o que é wireless?
Essa tecnologia sem fios apareceu do nada. Com ela, eu poderia
perambular por minha casa ou
pelo quintal e acessar meus e-mails de um laptop. Com um toca-DVD sem fios, poderia pegar
música do meu PC e reproduzi-la
na TV de cristal líquido.
Eu estava disposto a dar uma
chance ao mundo sem fios. Outras tecnologias tinham melhorado minha vida. Controles remotos e celulares são sem fios. Quem
sabe, transformando minha casa
em uma Xanadu sem fios, eu poderia abrir uma porta para prazeres eletrônicos incontáveis, poupar tempo e atingir uma meta
acalentada: jamais sair de minha
poltrona.
Alistei-me para a experiência e
concordei em viver por um mês
em um mundo sem fios.
O primeiro passo foi adquirir
um roteador (ponto de acesso)
sem fios. O nome não significava
nada para mim, mas a figura na
caixa, sim. Com suas duas antenas, um ponto de acesso se parece
com o que é: orelhas de coelho
que captam os sinais de dispositivos remotos e os transmitem para
o computador. Com as instruções
de uma das equipes de suporte
técnico do jornal, iniciei minha
viagem pela estrada sem fios.
Instalar o ponto de acesso foi rápido. O passo-a-passo em um CD
era à prova de idiotas, quer dizer,
até eu seria capaz de segui-los.
Agora meu micro estava pronto
para receber sinais wireless.
Meu ThinkPad IBM veio equipado com placa wireless, poupando-me de aborrecimentos.
Para me conectar à internet,
bastou ligar o laptop e clicar em
um ícone que ativava meu agente
de rastreamento wireless, um nariz farejador eletrônico chamado
Segue, que detecta os canais wireless disponíveis na região.
O laptop automaticamente fez
contato com meu ponto de acesso
e eu podia perambular conectado.
Para testar o seu alcance, desci
para o porão. A conexão continuou estável. Levei meu laptop
para o fundo do meu quintal, a
cerca de 23 metros de distância do
ponto de acesso. Espantoso. Acessei a rede perto de uma roseira.
Com a chegada de uma nova
versão de um toca-DVD sem fios,
da Gateway, corri para comprá-lo. Como qualquer aparelho do
gênero, o ADC-320 toca discos de
vídeo e pode comunicar-se com
um computador e capturar vídeos, fotos e músicas que podem
ser reproduzidas em uma TV.
Novamente, a configuração foi
fácil. Com um teste inicial, eu cliquei no controle remoto do DVD
para estabelecer comunicação
com meu computador, cliquei
novamente para transferir um arquivo de foto para o DVD e me
sentei para apreciar um show de
slides na TV. Deixei as experiências com música e vídeo para outro dia, sem abusar da sorte.
Tudo ia bem, mas estava ansioso. Haveria um paraíso sem fios lá
fora que eu ignorava? Juntei dois
homens de inteligência confiável
e fomos a um café na Union Square para papear sem fios.
O toca-DVD os impressionou.
"Você está certo quanto à modernidade dele", disse um deles. Mas
alguns defeitos se revelaram.
Primeiro, eu precisava de um
mouse e de um teclado sem fios.
Segundo, eu precisava usar mais a
minha recém-conquistada mobilidade. A alguns passos de distância, na Union Square, você poderia passear e captar toda a sorte de
sinais sem fios. Os bobos podem
ir a algum lugar e pagar pelo acesso. Mas os piratas procuram pontos de acesso e navegam de graça.
Não entendo isso. Não quero
navegar na rede em um parque,
onde não se pode ler a tela se o sol
estiver brilhando.
Brandindo seu celular com câmera digital, um dos meus amigos enviou fotos ao outro amigo,
do outro lado da mesa. Este, com
a caneta na mão, cutucou freneticamente seu palmtop para acessar as imagens. Ambos estavam
em estado de êxtase eletrônico.
"Quero ver seu celular", disse
um deles, e puxei meu aparelho.
"Você está quase pronto para se
tornar um homem totalmente
sem fio", disse o outro. "Você tira
fotos com a câmera do seu celular,
transmite as imagens por infravermelho para o seu palmtop e as
passa por bluetooth para o seu PC
para "bimá-las" para o seu toca-DVD e exibi-las na sua TV".
Eu saí de lá com dor de cabeça.
Tive uma dor de cabeça ainda
maior ao tentar tocar arquivos
musicais no meu DVD sem fios.
Depois de me esforçar muito
para dominar os labirintos do
KaZaA, caí no site do Wal-Mart.
Por US$ 0,88 por música, fiz download de várias canções. Isso é tudo o que consegui. Por mais que
eu tentasse, o toca-DVD não lia os
arquivos. Consegui um contato
com um paciente engenheiro da
Gateway. Ao longo de muitas horas de conversa, enquanto tentávamos diligentemente desemaranhar os nós do meu problema, ele
não conseguiu passar meus arquivos de música do Wal-Mart
para meu toca-DVD, embora ele
tenha descoberto o motivo.
Por meio de tentativa e erro,
descobrimos que as músicas copiadas dos meus próprios CDs
funcionavam maravilhosamente.
As músicas do Wal-Mart, entretanto, consideraram todas as
abordagens do toca-DVD como
uma tentativa de compartilhamento de arquivos ilegais. Um esquema de criptografia chamado
Digital Rights Management (ou
controle de direitos digitais) estava bloqueando meus esforços.
O mouse sem fios, por outro lado, proporcionou uma gratificação instantânea. Em uma liqüidação, comprei mouse e teclado sem
fios por US$ 50. A instalação foi
simples e fácil. Bastou conectar
um pequeno receptor alimentado
por baterias nas portas na parte
traseira do meu computador.
Os novos mouse e teclado, cada
um deles alimentado por duas pilhas comuns, comunicam-se com
o PC por meio do receptor, o que
significa que eu não ficaria mais
com fios enrolados no meu tornozelo esquerdo.
Enquanto as semanas passavam, brinquei com meu novo
equipamento. Baixei videoclipes e
os reproduzi na TV. Vi meus arquivos fotográficos. De tempos
em tempos, toquei as músicas que
eu havia copiado de um CD de James Brown e percebi que o exercício era inútil, já que eu tinha um
aparelho de som e um toca-CD
muito bons na mesma sala da TV.
Munido do laptop, curti o prazer da liberdade de ir para onde
eu quisesse dentro de casa e ainda
desperdiçar um tempo precioso
navegando na internet. Em outras
palavras, eu explorei o meu mundo sem fios, identifiquei seus limites e cheguei a algumas conclusões sobre que diferenças a tecnologia sem fios faria na minha vida.
A resposta é alguma diferença,
mas não muita. O mouse fica. Eu
o adorei. O teclado não faz nenhuma diferença, já que eu não fico
andando com ele de um lado para
outro e o fio do antigo teclado não
se enrosca na minha perna.
O laptop sem fios provou ser
útil, principalmente porque ele
me permite usar a internet quando minha mulher está no computador. Eu não tive mais de ficar
em pé atrás dela, irradiando vibrações hostis. A mobilidade foi
uma vantagem média, mas eu
tendo a não me mover quando estou na frente de um PC. Por outro
lado, eu realmente fiquei acostumado a ficar relaxado na poltrona
usando o laptop para fazer partes
de pesquisas durante os comerciais. Seria difícil abrir mão disso.
O toca-DVD continua sendo
mais um assunto para conversa.
Se eu realmente precisar ver fotos
na minha TV, poderei fazê-lo diretamente da câmera. Se eu fosse
um tipo diferente de ouvinte, poderia criar compilações geniais de
músicas de vários CDs, mantê-las
em arquivos no DVD e tocá-las
pela TV, mas a equação custo-benefício não acrescenta nada.
O homem totalmente sem fios
continua sendo um ideal. Como
um programa rigoroso e exercícios abdominais, uma maratona
ou um esclarecimento espiritual,
ele é uma meta atingível. Não para
mim. Talvez no próximo ano.
Tradução de Angela Caracik
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