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reportagem de capa
Brasil recebe restos high-tech dos EUA
PERIGO >> Mais de mil toneladas de eletrônicos descartados foram enviadas ao país em 2006, diz agência do governo da Califórnia
BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BERKELEY
Em 2006, o Brasil foi parte
do lixão high-tech da Califórnia. De acordo com dados obtidos pela Folha no DTSC (sigla
em inglês para Departamento
de Controle de Substâncias Tóxicas da Califórnia), 1.190 toneladas de lixo eletrônico foram
enviadas do Estado norte-americano ao Brasil naquele ano.
Os dados indicam que o Brasil pode ter ignorado a Convenção da Basileia, um tratado internacional do qual o país faz
parte e que tenta combater o
trânsito internacional de resíduos perigosos dos países desenvolvidos para nações em
desenvolvimento.
O lixo eletrônico -televisores, computadores, celulares e
outros aparelhos eletrônicos
descartados para o uso- é considerado perigoso, pois possui
em sua composição substâncias tóxicas como mercúrio e
chumbo.
Televisores e monitores de
computador, por exemplo, possuem de 20% a 25% de chumbo
em sua composição.
Brasil
O DTSC não especifica que
tipo de aparelho eletrônico foi
enviado ao país.
Em 2007, o ano mais recente
para o qual o DTSC possui dados, não há registros de envio
de lixo eletrônico ao Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente, ouvido pela Folha, diz
não ter informações a respeito.
Os dados do DTSC ainda
mostram que a Califórnia exportou mais de 9.000 toneladas de lixo eletrônico para todo
o mundo em 2006. China, Malásia e Índia são alguns dos países que aparecem na lista.
Essa quantidade, porém, pode ser ainda maior. Os números apresentados pelo DTSC
são fornecidos por aqueles que
"cumprem as regras" do departamento governamental para
exportação.
O trânsito internacional ilegal de lixo eletrônico é apontado por ambientalistas como
um grave e crescente problema
global. A China, por exemplo, é
um dos países mais afetados
por remessas ilegais de aparelhos descartados.
Ambientalistas também estimam que entre 50% a 80% do
lixo eletrônico nos EUA é exportado e apenas cerca de 10%
é reciclado da maneira correta.
Em 2003, a Califórnia efetivou
legislação que proíbe o despejo
de aparelhos eletrônicos sem
uso em seus lixões. De acordo
com um membro do DTSC, porém, o Estado e o país não possuem capacidade para reciclar
todo esse lixo.
Funcionário de uma empresa que coleta esse lixo em Berkeley, região de San Francisco,
disse à reportagem que muitas
empresas acabam exportando
os aparelhos em vez de reciclá-los no país por se tratar de um
negócio mais lucrativo. "Com o
mercado de metais desvalorizado, elas [as empresas] não
veem vantagem em reciclar,"
disse ele.
Legislação internacional
Dentre os mais de 170 países
que participam da Convenção
da Basileia, apenas Afeganistão, Haiti e EUA não a ratificaram. O tratado estabelece severas regras para o trânsito de
substâncias perigosas entre
países participantes e não participantes do tratado.
Essas regras podem ser dribladas por meio de outros acordos internacionais ou da não-ratificação de partes ou emendas ao texto da Convenção.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), grupo de 30
países que produzem mais da
metade da riqueza mundial e
que inclui os EUA, possui regras próprias sobre o assunto.
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