São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

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Dean levou os blogueiros aos holofotes

LEDA BECK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM SAN FRANCISCO


Em julho de 2003, o partido Republicano reuniu 150 empresários para um almoço a US$ 2.000 por cabeça para ouvir o vice-presidente Dick Cheney e fazer doações em dinheiro para a campanha de reeleição de George W. Bush. Na mesma ocasião, Howard Dean, um obscuro ex-governador do Vermont, pequeno Estado rural da Nova Inglaterra, lançou uma campanha on-line para arrecadar fundos para sua indicação como candidato presidencial do Partido Democrata. No fim das contas, Cheney levantou US$ 300 mil e Dean, para surpresa geral, recebeu 70% a mais de 9.640 cidadãos em todo o país, que doaram em média US$ 50 cada um. No espaço de um ano, relata em seu livro o coordenador da campanha, Joe Trippi, Dean passou de meros 432 para 640 mil voluntários.
Dean não foi eleito presidente dos Estados Unidos em 2004. Não foi sequer sagrado candidato pelo partido, mas, no início de 2005, colheu um fruto saboroso: foi indicado para a presidência nacional do Partido Democrata. Sua indicação foi um reconhecimento não do número de votos que obteve na primária de Iowa em 2004, mas sim de sua habilidade para levantar recursos rapidamente de maneira que não comprometa o partido com indivíduos poderosos ou interesses especiais. Reconheceu-se em Dean sua habilidade para devolver a cidadania aos cidadãos por meio de um canal direto de participação possibilitado pela tecnologia.
Mas esse não foi o único resultado concreto da idéia pioneira de usar a web massivamente numa campanha presidencial. Outras conseqüências foram a proliferação de blogs e de sites políticos e a institucionalização da internet como ferramenta indispensável em campanhas eleitorais e em movimentos sociais em geral, além da explosão de um novíssimo mercado de trabalho (e de negócios) para marqueteiros políticos especializados em campanhas on-line.
Como explica o professor Fred Turner, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Stanford, essa proliferação de blogs, sites e consultores, por si só, não muda fundamentalmente o ambiente político nem as instituições. O que a nova mídia permite, diz ele, é a rápida criação de alianças e de coalizões para pressionar aberta e ruidosamente as instituições e assim conseguir mudanças. "Mas tornar a oposição visível não é suficiente. É preciso construir contra-instituições."
"O importante nisso tudo não é propriamente a tecnologia, que permite algumas coisas e impede outras", diz Daniel Kreiss, que blogou a convenção democrata de 2004 e continua publicando seu blog enquanto trabalha num doutorado em ciências políticas. "O importante mesmo é como as pessoas usam a tecnologia. Blogar é uma resposta ao sentimento de alienação e de impotência." Ouvir os blogueiros e engajá-los numa causa -essa é que foi a grande sacada da campanha de Dean, hoje imitada à exaustão.


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