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Dean levou os blogueiros aos holofotes
LEDA BECK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM SAN FRANCISCO
Em julho de 2003, o partido Republicano reuniu 150
empresários para um almoço
a US$ 2.000 por cabeça para
ouvir o vice-presidente Dick
Cheney e fazer doações em
dinheiro para a campanha de
reeleição de George W. Bush.
Na mesma ocasião, Howard
Dean, um obscuro ex-governador do Vermont, pequeno
Estado rural da Nova Inglaterra, lançou uma campanha
on-line para arrecadar fundos para sua indicação como
candidato presidencial do
Partido Democrata. No fim
das contas, Cheney levantou
US$ 300 mil e Dean, para
surpresa geral, recebeu 70%
a mais de 9.640 cidadãos em
todo o país, que doaram em
média US$ 50 cada um. No
espaço de um ano, relata em
seu livro o coordenador da
campanha, Joe Trippi, Dean
passou de meros 432 para
640 mil voluntários.
Dean não foi eleito presidente dos Estados Unidos
em 2004. Não foi sequer sagrado candidato pelo partido, mas, no início de 2005,
colheu um fruto saboroso:
foi indicado para a presidência nacional do Partido Democrata. Sua indicação foi
um reconhecimento não do
número de votos que obteve
na primária de Iowa em
2004, mas sim de sua habilidade para levantar recursos
rapidamente de maneira que
não comprometa o partido
com indivíduos poderosos
ou interesses especiais. Reconheceu-se em Dean sua
habilidade para devolver a cidadania aos cidadãos por
meio de um canal direto de
participação possibilitado
pela tecnologia.
Mas esse não foi o único
resultado concreto da idéia
pioneira de usar a web massivamente numa campanha
presidencial. Outras conseqüências foram a proliferação de blogs e de sites políticos e a institucionalização da
internet como ferramenta
indispensável em campanhas eleitorais e em movimentos sociais em geral,
além da explosão de um novíssimo mercado de trabalho
(e de negócios) para marqueteiros políticos especializados em campanhas on-line.
Como explica o professor
Fred Turner, do Departamento de Ciências Políticas
da Universidade Stanford,
essa proliferação de blogs, sites e consultores, por si só,
não muda fundamentalmente o ambiente político nem as
instituições. O que a nova
mídia permite, diz ele, é a rápida criação de alianças e de
coalizões para pressionar
aberta e ruidosamente as
instituições e assim conseguir mudanças. "Mas tornar
a oposição visível não é suficiente. É preciso construir
contra-instituições."
"O importante nisso tudo
não é propriamente a tecnologia, que permite algumas
coisas e impede outras", diz
Daniel Kreiss, que blogou a
convenção democrata de
2004 e continua publicando
seu blog enquanto trabalha
num doutorado em ciências
políticas. "O importante
mesmo é como as pessoas
usam a tecnologia. Blogar é
uma resposta ao sentimento
de alienação e de impotência." Ouvir os blogueiros e
engajá-los numa causa -essa é que foi a grande sacada
da campanha de Dean, hoje
imitada à exaustão.
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