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segurança
Jovem hacker chinês mostra como atua
PERFIL Repórter visita casa de ciberpirata, que apresenta lista de suas vítimas e demonstra como invade o site de uma empresa
DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES"
Com alguns toques rápidos
no teclado, um hacker que
atende pelo codinome Majia
abre uma tela que mostra suas
vítimas mais recentes.
"Essa é uma lista de pessoas
infectadas com o meu cavalo-de-troia", diz, operando em um
apartamento malconservado
na periferia de Changsha, no
centro da China. "Eles nem sequer sabem o que aconteceu."
Uma armadilha on-line criada por ele já enganou, na China
e em outros países, 2.000 pessoas -que, ao clicarem em algo
que não deveriam, acabaram
espalhando inadvertidamente
um vírus que permite ao hacker
assumir o controle de seus
computadores e roubar senhas
de contas bancárias.
Majia, um jovem de fala mansa, recém-formado na universidade e com pouco mais de 20
anos, é um ladrão cibernético.
Ele age secreta e ilegalmente e
faz parte de uma comunidade
de hackers que explora falhas
de software para invadir sites,
roubar e vender dados valiosos.
Ação política
Especialistas em segurança
de internet dizem que a China
possui uma legião de hackers
iguais a Majia. Além de criminosos independentes, há os
chamados hackers patrióticos,
que concentram seus ataques
em alvos políticos.
Com a condição de não ser
identificado, Majia recebeu a
reportagem para falar de sua
atuação. De aparência esbelta e
elegantemente vestido com
roupas pretas, ele estava disposto a contar a sua história.
Como muitos hackers, ele espera ser reconhecido por suas
habilidades, mesmo que para
isso tenha que prezar pelo seu
anonimato para não ser detido.
O jornal "New York Times"
chegou até ele por meio de outro hacker bem conhecido, que
faz parte de um grupo de hackers e que garantiu que Majia é
bom no seu trabalho.
Embora as afirmações de
Majia, claro, não possam ser verificadas, ele está feliz por demonstrar suas habilidades.
Convidou o repórter para ir à
sua casa, onde mostrou como
invadia o site de uma empresa
chinesa. Quando o site apareceu em sua tela, ele criou páginas adicionais e digitou a palavra "invadida" em uma delas.
Majia disse ter se apaixonado
por hacking durante o primeiro
ano de universidade, depois
que seus amigos lhe mostraram
como atacar um sistema.
Depois de obter um diploma
em engenharia, ele aceitou um
emprego em uma agência do
governo, algo que fez em grande parte para agradar os seus
pais. Mas, todas as noites depois do trabalho, ele se volta para sua paixão: hacking.
Consumido pelos desafios ligados a essa atividade, ele lê revistas voltadas para hackers,
troca informações com um pequeno círculo de hackers e escreve códigos maliciosos. Também usa cavalos-de-troia para
se infiltrar em computadores
de outras pessoas, infectá-los e,
assim, ser capaz de assumir o
controle deles.
"A maioria dos hackers é preguiçosa", disse Majia, sentado
na frente do computador em
seu modesto quarto com vista
para um dilapidado complexo
de apartamentos. "Somente alguns de nós conseguem realmente escrever códigos, pois é
essa a parte difícil."
Atrás do dinheiro
A atividade é ilegal na China.
No ano passado, Pequim reviu
e endureceu uma lei que torna
crime a ação de hackers, sujeito
a punições de até sete anos de
prisão. Contudo Majia parece
não se preocupar, especialmente porque a lei em grande
parte não é aplicada com rigor.
Mesmo assim, toma cuidado.
Ele reconhece que, em parte,
o que o atrai é o dinheiro. Vários hackers ganham muito,
disse. E ele parece estar traçando o seu próprio caminho.
Exatamente quanto ganhou
até agora, ele não diz. Mas admite que vende códigos maliciosos para outros; e alardeia
que é capaz de entrar em contas
bancárias de terceiros enquanto opera micros à distância.
O incentivo financeiro é o
que motiva muitos hackers chineses como Majia.
Um desses piratas invadiu o
site do governo norte-americano e realizou, posteriormente,
uma palestra sobre o tema em
uma universidade. Esse hacker
também trabalhou para o ministro da Segurança da China.
Mas muitos tentam lucrar com
dados roubados de grandes corporações ou ensinando como
invadir computadores.
"Eles ganham muito vendendo vírus e cavalos-de-troia para
corromper computadores de
outras pessoas", afirmou Scott
Henderson, autor do livro "The
Dark Visitor: Inside the World
of Chinese Hackers" (O Visitante Secreto: Por Dentro do
Mundo dos Hackers Chineses,
na tradução livre). "Também
invadem contas de jogos on-line e vendem os personagens
virtuais. É muito dinheiro."
Majia mora com os pais, e, no
seu quarto, tem pouca coisa
além de um computador de
mesa, uma conexão de internet
de alta velocidade e um armário.
Não há pintura especial
nem qualquer tipo de decoração. Sua socialização ocorre
principalmente on-line, onde
ele trabalha a partir de aproximadamente 18h30 até 0h30.
Indagado sobre o motivo pelo qual ele não trabalha para
uma grande empresa de tecnologia chinesa, ele olha com desdém e diz que isso limitaria a
sua liberdade.
Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS
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