São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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TECNOLOGIA

Gigantes da informática ainda não chegaram a um projeto rentável

Sistema de telão desafia empresas

DA REUTERS

Parece uma lista VIP de fracassos -Hewlett-Packard, Toshiba, Intel e Philips. Cada uma dessas potências tentou dominar uma tecnologia promissora para produzir televisores de tela grande e pouca espessura chamados LCoS, ou liquid crystal on silicon (cristal líquido sobre silício) e acabou admitindo sua frustração.
"A beira do caminho está cheia daqueles que tentaram e não conseguiram", disse Sandeep Gupta, presidente da MicroDisplay, empresa que projeta circuitos integrados para LCoS.
À medida que o mercado de televisores caminha para telas maiores e melhores, a LCoS é uma das poucas tecnologias que, teoricamente, seriam capazes de substituir os volumosos televisores com tubos de raios catódicos e as caríssimas telas de plasma.
Em um televisor de LCoS, a luz reflete um ou mais microchips feitos de uma camada de cristal líquido e uma camada de transistores, projetando uma imagem sobre a parte dianteira da tela.
As imagens dos aparelhos de LCoS podem ser vivas e brilhantes. Mas, como mais de uma das gigantes da tecnologia já descobriu, a tecnologia LCoS é, também, um buraco negro para o dinheiro investido. Veja, sobre isso, o site www.projectorcentral.com/lcos.htm, em inglês.
Enquanto isso, a Texas Instruments, usando uma outra tecnologia de retroprojeção chamada DLP (digital light projection, projeção digital de luz), vendeu 5 milhões de aparelhos usados em cinemas, projetores e TVs. Sobre essa tecnologia, veja o site em inglês www.dlp.com.

Realidade ou sonho
Um ano atrás, a Intel anunciou, na maior mostra de eletrônicos da América do Norte, que ela reformataria a televisão com produtos LCoS. "É uma realidade", proclamou na época o presidente da Intel, Paul Otellini, em sua palestra na CES de 2004, em Las Vegas.
Ele disse que os televisores com suas telas de alta definição estariam no mercado no final do ano passado.
Essa previsão trouxe um grande embaraço para a maior fabricante de circuitos integrados do mundo: primeiro, a Intel adiou o projeto. Depois, em outubro, a iniciativa foi cancelada. A empresa diz que superestimou o retorno econômico; no entanto, especialistas familiarizados com a tecnologia da Intel dizem que a fabricante de chips tinha um projeto fantasticamente complicado.

Sem surpresas
Isso não foi novidade para Chris Chinnock, analista-sênior da Insight Media, uma empresa que realiza pesquisas para fabricantes de equipamentos de projeção. Ele já havia observado uma série de projetos de LCoS desenvolvidos na década de 90 pela IBM e pela JVC do Japão sendo cancelados ou engavetados. "Isso levanta dúvidas graves em relação à tecnologia", disse Chinnock.
Entre as primeiras grandes empresas que tentaram comercializar televisores LCoS estava a Hewlett-Packard, que, originalmente, esperava grandes volumes de componentes em 1999.
Chinnock, que acompanhou de perto os negócios da HP, disse que o projeto foi engavetado logo em seguida.
"Eles não conseguiram conciliar bom preço e desempenho", afirmou ele.
Em 2002, a Thomson, da França, envolveu-se no projeto de um televisor de US$ 8 mil construído com painéis LCoS da Three-Five Systems. A Three-Five posteriormente desdobrou o negócio de LCoS em uma empresa chamada Brillian, que acabou perdendo um negócio lucrativo com a varejista Sears por causa da escassez de componentes.
Logo antes da Intel abandonar a sua aventura com LCoS, a Philips, gigante holandesa do setor de eletrônicos, desistiu de seu projeto de LCoS, alegando que percebeu que não era "grande o suficiente" para apresentar produtos completamente desenvolvidos rapidamente ao mercado. A japonesa Toshiba Corp. também suspendeu seus planos com LCoS após problemas de suprimento com a Hitachi, disse Chinnock.

Solução atraente
O que é que há com a tecnologia de LCoS que parece destinada ao fracasso e o que faz com que as empresas sempre voltem para ela?
Para alguns, a tecnologia promete uma solução técnica aparentemente linear para um problema enfrentado por toda a indústria de televisores -fabricar televisores magníficos com telas grandes e preço baixo.
É uma idéia especialmente atraente para os fabricantes de chips, desde que as telas de LCoS melhorem mais e mais à medida que os componentes de silício ficam mais avançados.
E isso pode ser feito: a JVC está dando um grande impulso em um projeto de um televisor LCoS neste ano e a Sony está usando a tecnologia em seus projetores de alta definição.
"Se realmente nos aprofundarmos um pouco mais, acho que o que descobriremos e concluiremos é que essas foram abordagens realmente fracassadas da solução LCoS, o que não significa necessariamente que a tecnologia LCoS está morta", afirmou o analista Chinnock.
Entre as empresas que tentaram transformar a tecnologia em um negócio lucrativo está a MicroDisplay (www.microdisplay.com), sediada em San Pablo, Califórnia, que vem desenvolvendo produtos com tecnologia LCoS há uma década.
Gupta, presidente da empresa, disse que o desenvolvimento da tecnologia LCoS pode ser enlouquecedor, com engenheiros resolvendo um problema só para descobrirem uma falha ainda mais profunda. São necessárias oito disciplinas tecnológicas para fabricar um bom produto com LCoS, da perícia óptica ao software para projetar o chip. "É mais do que muitas empresas imaginam", disse ele.
Pelo menos até que a próxima grande empresa de tecnologia tente novamente, a MicroDisplay disse que está na frente. Ela diz que contratou um cliente de TV na Coréia do Sul, a Uneed Systems, e que terá novidades para anunciar no ano que vem.
"Depois de 22 projetos, 320 homens-ano, uma equipe com metade constituída por doutores, e US$ 50 milhões, você acaba tendo um projeto que funciona", afirmou Gupta.


Tradução de Angela Caracik


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