São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Criador do jogo quer recriar a internet

TUDO NOVO DE NOVO Para Philip Rosedale, o Second Life poderá se transformar em uma nova forma de navegar na rede

KEVIN MANEY
DO "USA TODAY"

Philip Rosedale não criou o Second Life para ser um brinquedo. Ele acredita estar redesenhando a internet, da mesma forma como aconteceu com a invenção do navegador Mosaic ou da World Wide Web. "O que seria fazer sucesso?", pergunta Rosedale. O norte-americano está sentado na cafeteria da Linden Lab, empresa fundada por ele e que administra o mundo on-line Second Life. Sacos de salgadinhos comidos pela metade e tigelas de frutas estão sobre as mesas.
Rosedale usa jeans e um pulôver e tem os cabelos com gel e repicados. Dono de um rosto de beleza clássica e manifestando grande entusiasmo, Rosedale parece um cruzamento de Brad Pitt e Bill Nye, cientista e apresentador do programa "Bill Nye, the Science Guy".
"Não é ter dinheiro", responde, depois de um tempo. "Mas vou olhar para trás e perguntar: fizemos o quanto podíamos para atingir o maior número de pessoas possível?"

Celebridade
Enquanto o Second Life vira um produto de massa, Rosedale se transforma na celebridade da hora no mundo da tecnologia. Cerca de 10 mil internautas ingressam nesse mundo virtual a cada dia. A Reuters criou uma agência virtual de notícias dentro dele, políticos passaram a fazer campanha ali, bandas como o Duran Duran realizam apresentações virtuais e cadeias de hotéis usam o game para testar novos produtos. Mais recentemente, o site chegou às manchetes por disponibilizar o acesso a pedaços de seu código-fonte para acelerar seu desenvolvimento. O Second Life diz possuir mais de 2 milhões de usuários registrados, mas provavelmente apenas 10% desse total participa regularmente do jogo.
A aparência do Second Life é semelhante à do jogo de simulação Sims, com ruas, prédios e avatares, representações gráficas dos usuários, que conversam, constróem, iniciam negócios e saem juntos. O simulador chamou a atenção de especialistas como o cientista-chefe da Sun Microsystems, John Gage, e o chefe de estratégia tecnológica da IBM, Irving Wladawsky-Berger. "As pessoas gostam de interagir de forma mais visceral", diz Wladawsky-Berger, que convenceu a IBM a abraçar o Second Life.
Rosedale é o deus do Second Life, ou talvez o Thomas Jefferson do game: o visionário que criou um sistema e colocou-o em movimento. Desde 1999 o norte-americano insiste no projeto que, por muito tempo, foi visto como um parque de diversões para supernerds. A empresa vem sendo bancada por alguns dos grandes nomes do mundo da tecnologia, como Mitch Kapor, fundador da Lotus, Jeff Bezos, fundador da Amazon, e Pierre Omidyar, fundador do eBay. Ainda assim, quase ficou sem fundos algumas vezes.
Rosedale nasceu em San Diego (EUA), em 1968. "Minha mãe foi a maior incentivadora dos meus vários e bizarros projetos de infância", conta o inventor do Second Life, que ainda criança ganhou dos pais um computador Apple II, o que o deixou eufórico. "Fiz com que árvores crescessem na tela. Foi então que percebi que era possível simular a natureza", relata. O jogo começou a ganhar forma quando, já adulto, Rosedale saiu da RealNetworks, onde trabalhava, e ligou-se à empresa de capital de risco Accel Partners, como empreendedor caseiro. Foi quando Mitch Kapor entrou na jogada.

Investimento
Kapor, uma lenda do setor de computadores pessoais dos anos 1980, reuniu-se com Rosedale pela primeira vez ainda por meio da RealNetworks. Kapor diz ter achado interessantes as idéias de Rosedale sobre um mundo virtual. "Discordei dos valores que a Accel queria investir, o que me deixou livre para dizer: se você quer começar e está procurando um investidor caído dos céus, gostaria de ajudá-lo", conta Kapor. O capital de Kapor foi somado ao da venda da FreeVue, empresa criada por Rosedale e que desenvolvia sistemas de videoconferência. Do montante nasceu a Linden Lab, cujo nome faz referência à rua onde ficava a primeira sede da companhia.
Desde o início, dois conceitos importantes permearam a criação e o desenvolvimento do Second Life. O primeiro foi a forma como o serviço deveria ser visto: uma existência alternativa e que tentaria ser melhor do que a do mundo físico. O segundo, mais sutil, poderá acabar se revelando mais poderoso. Com exceção das salas de bate-papo, a internet é um espaço desprovido de gente. Se alguém está fazendo compras na Amazon, essa pessoa não consegue descobrir se está sozinha ou se há 20 mil outros clientes naquele local naquele momento.
Um dia, os usuários poderão chegar à Amazon pelo Second Life e não mais por meio de um navegador. E então caminharão nas lojas e conversarão com clientes e atendentes. "Hoje está claro que alguma coisa como o Second Life se tornará algo imenso", diz Kapor. "A Linden tem a chance de ser a empresa que fará isso, mas nada está garantido."


Tradução de RODRIGO CAMPOS CASTRO


Texto Anterior: Fotógrafo brasileiro tem galeria virtual
Próximo Texto: Virtual: Especialista fala sobre jogo on-line em blog
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.