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MÚSICA DIGITAL
Shawn Fanning afirma que, agora, programa de troca de arquivos não vai ferir mais direitos autorais
Criador do Napster adapta-se a novo tempo
JAKE TAPPER
DO ""THE NEW YORK TIMES"
Todos previam que, em 2000, o mundo passaria por grandes mudanças. Uma delas foi o começo de uma reviravolta no mundo da música, quando um estudante
norte-americano, Shawn Fanning, criou o Napster. O programa de troca de arquivos MP3 fez com que internautas do mundo todo trocassem músicas. O Napster começou a incomodar a indústria fonográfica, que conseguiu uma vitória judicial e forçou
o bloqueio de canções no soft, primeiro de muitos golpes que causou seu fim. Assim que o Napster fechou, surgiram outras opções.
Sexta-feira da semana passada, os ativos do Napster foram colocados em leilão por um lance mínimo de US$ 25 milhões. O prazo final para lances é no dia 21 de
agosto, e o leilão acontece dia 27.
Enquanto os programas de troca de arquivos continuam funcionando, as gravadoras preparam serviços de venda de música on-line. Falando sobre o futuro da
venda de músicas, Shawn Fanning diz não acreditar que ofertas com limitações agradem aos usuários. Ele acha necessário rever a distribuição de canções.
Pergunta - Em julho de 2001, um
juiz distrital ordenou o fechamento do Napster por infringir direitos
autorais. Recentemente, as cinco
grandes gravadoras que o processavam concordaram em participar
de um serviço de streaming de arquivos chamado Rhapsody, na Listen.com, com o qual o consumidor
paga uma taxa para ouvir uma música. O que você acha disso?
Shawn Fanning - É mais um passo no processo, só isso. Elas estão
adotando outra abordagem conservadora para divulgar seus catálogos, para ver se isso exerce algum impacto sobre sua capacidade de vender CDs. Mas os consumidores não vão aceitar serviços
que ofereçam conteúdo limitado.
É preciso que haja alguma maneira de as pessoas ficarem sabendo
sobre os materiais novos que aparecem. Foi isso que moveu o
Napster. Quando ele estava no auge, era fácil encontrar músicas
muito pouco conhecidas.
Pergunta - Qual foi a música que
você mais gostou das que descarregou pelo Napster?
Fanning - Uma gravação ao vivo
do Sublime tocando um cover de
"Zimbabwe", de Bob Marley.
Também gosto de algumas coisas
de hip-hop estrangeiro e de muitas remixagens. Existe um mundo
de trabalhos derivativos, em que
se mudam canções, fazendo faixas mais interessantes.
Pergunta - Você compra música,
mesmo que só de vez em quando?
Fanning - Sim, compro. Apesar
de ter um toca-MP3 no carro, o
processo de carregar coisas nele é
cansativo. Ainda existe um mercado para a compra de CDs.
Pergunta - Uns dois anos atrás,
você era o homem do momento:
aparecia em capas de revistas,
apresentou Britney Spears na entrega dos MTV Video Music Awards.
Deve ter sido bem emocionante.
Fanning - Para mim, foi a parte
mais dura. Algumas coisas eram
novas e interessantes, mas os benefícios não pesaram mais do que
o estresse que me causaram.
Pergunta - Como fã musical, você
deve ter tido uma sensação ruim ao
ser criticado por artistas como Eminem, Neil Young e Johnny Rzeznik,
dos Goo Goo Dolls, que disse que
gostaria "de dar umas porradas no
inútil que inventou" o Napster.
Fanning - No começo, aconteceram coisas que me assustaram.
Mas a maioria de minhas interações com os artistas foi positiva. A
maioria dos artistas vê que o futuro é coisa boa.
Pergunta - Daqui a alguns anos,
descarregar músicas da rede provavelmente será corriqueiro e legal. Você, mais do que qualquer
outra pessoa, é responsável por isso, mas talvez não lucre nada com
isso. Você não se sente sacrificado?
Fanning - Olho as as coisas em
termos de como eu estava antes
do Napster e como fiquei depois.
Eu tinha deixado a faculdade. Estava em Cape Cod, que não é exatamente o centro tecnológico do
universo. Então estou satisfeito.
Pergunta - O que você acha que
vai surgir depois do Rhapsody?
Fanning - Existe um potencial
enorme para as empresas de tecnologia juntarem dados sobre o
que as pessoas ouvem e fazer recomendações a elas. Poderíamos
ter um serviço de streaming semipersonalizado com o qual você teria uma estação de rádio realmente voltada a você. Nós, na empresa
Napster, desenvolvemos um sistema de pagamento e um novo
sistema de compartilhamento de
arquivos. Acrescentamos tudo
que é preciso para que os usuários
possam compartilhar música e,
ao mesmo tempo, pagar aos donos dos direitos sobre a música. A
tecnologia para isso está criada.
Basta conseguir parcerias.
Pergunta - Você tem 21 anos, e,
com todas as idéias que tem para
negócios, aposto que já recebeu
muitas ofertas de trabalho. Você já
pensou em se bandear para o ""lado
escuro"?
Fanning - Não (rindo). Já pensei
em fundar um selo de discos. Faz
falta alguém que promova os artistas de maneira mais inteligente.
Pergunta - Alguns políticos com
os quais a sua empresa já tratou
são candidatos a cantores, como o
senador Orrin Hatch, de Utah, e o
secretário de Justiça, John Ashcroft. Haveria um público interessado em canções de Ashcroft em
MP3 no próximo Napster?
Fanning - Sim, deve existir um
grupo aí fora, em algum lugar.
Pergunta - Pela sua lógica, é por
isso que o Napster deve existir, certo? Para satisfazer a esse nicho?
Fanning - (rindo) Eu não diria exatamente isso.
Tradução de Clara Allain
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