São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 2002

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MÚSICA DIGITAL

Shawn Fanning afirma que, agora, programa de troca de arquivos não vai ferir mais direitos autorais

Criador do Napster adapta-se a novo tempo

JAKE TAPPER
DO ""THE NEW YORK TIMES"

Todos previam que, em 2000, o mundo passaria por grandes mudanças. Uma delas foi o começo de uma reviravolta no mundo da música, quando um estudante norte-americano, Shawn Fanning, criou o Napster. O programa de troca de arquivos MP3 fez com que internautas do mundo todo trocassem músicas. O Napster começou a incomodar a indústria fonográfica, que conseguiu uma vitória judicial e forçou o bloqueio de canções no soft, primeiro de muitos golpes que causou seu fim. Assim que o Napster fechou, surgiram outras opções.
Sexta-feira da semana passada, os ativos do Napster foram colocados em leilão por um lance mínimo de US$ 25 milhões. O prazo final para lances é no dia 21 de agosto, e o leilão acontece dia 27.
Enquanto os programas de troca de arquivos continuam funcionando, as gravadoras preparam serviços de venda de música on-line. Falando sobre o futuro da venda de músicas, Shawn Fanning diz não acreditar que ofertas com limitações agradem aos usuários. Ele acha necessário rever a distribuição de canções.

Pergunta - Em julho de 2001, um juiz distrital ordenou o fechamento do Napster por infringir direitos autorais. Recentemente, as cinco grandes gravadoras que o processavam concordaram em participar de um serviço de streaming de arquivos chamado Rhapsody, na Listen.com, com o qual o consumidor paga uma taxa para ouvir uma música. O que você acha disso?
Shawn Fanning -
É mais um passo no processo, só isso. Elas estão adotando outra abordagem conservadora para divulgar seus catálogos, para ver se isso exerce algum impacto sobre sua capacidade de vender CDs. Mas os consumidores não vão aceitar serviços que ofereçam conteúdo limitado. É preciso que haja alguma maneira de as pessoas ficarem sabendo sobre os materiais novos que aparecem. Foi isso que moveu o Napster. Quando ele estava no auge, era fácil encontrar músicas muito pouco conhecidas.

Pergunta - Qual foi a música que você mais gostou das que descarregou pelo Napster?
Fanning -
Uma gravação ao vivo do Sublime tocando um cover de "Zimbabwe", de Bob Marley. Também gosto de algumas coisas de hip-hop estrangeiro e de muitas remixagens. Existe um mundo de trabalhos derivativos, em que se mudam canções, fazendo faixas mais interessantes.

Pergunta - Você compra música, mesmo que só de vez em quando?
Fanning -
Sim, compro. Apesar de ter um toca-MP3 no carro, o processo de carregar coisas nele é cansativo. Ainda existe um mercado para a compra de CDs.

Pergunta - Uns dois anos atrás, você era o homem do momento: aparecia em capas de revistas, apresentou Britney Spears na entrega dos MTV Video Music Awards. Deve ter sido bem emocionante.
Fanning -
Para mim, foi a parte mais dura. Algumas coisas eram novas e interessantes, mas os benefícios não pesaram mais do que o estresse que me causaram.

Pergunta - Como fã musical, você deve ter tido uma sensação ruim ao ser criticado por artistas como Eminem, Neil Young e Johnny Rzeznik, dos Goo Goo Dolls, que disse que gostaria "de dar umas porradas no inútil que inventou" o Napster.
Fanning -
No começo, aconteceram coisas que me assustaram. Mas a maioria de minhas interações com os artistas foi positiva. A maioria dos artistas vê que o futuro é coisa boa.

Pergunta - Daqui a alguns anos, descarregar músicas da rede provavelmente será corriqueiro e legal. Você, mais do que qualquer outra pessoa, é responsável por isso, mas talvez não lucre nada com isso. Você não se sente sacrificado?
Fanning -
Olho as as coisas em termos de como eu estava antes do Napster e como fiquei depois. Eu tinha deixado a faculdade. Estava em Cape Cod, que não é exatamente o centro tecnológico do universo. Então estou satisfeito.

Pergunta - O que você acha que vai surgir depois do Rhapsody?
Fanning -
Existe um potencial enorme para as empresas de tecnologia juntarem dados sobre o que as pessoas ouvem e fazer recomendações a elas. Poderíamos ter um serviço de streaming semipersonalizado com o qual você teria uma estação de rádio realmente voltada a você. Nós, na empresa Napster, desenvolvemos um sistema de pagamento e um novo sistema de compartilhamento de arquivos. Acrescentamos tudo que é preciso para que os usuários possam compartilhar música e, ao mesmo tempo, pagar aos donos dos direitos sobre a música. A tecnologia para isso está criada. Basta conseguir parcerias.

Pergunta - Você tem 21 anos, e, com todas as idéias que tem para negócios, aposto que já recebeu muitas ofertas de trabalho. Você já pensou em se bandear para o ""lado escuro"?
Fanning -
Não (rindo). Já pensei em fundar um selo de discos. Faz falta alguém que promova os artistas de maneira mais inteligente.

Pergunta - Alguns políticos com os quais a sua empresa já tratou são candidatos a cantores, como o senador Orrin Hatch, de Utah, e o secretário de Justiça, John Ashcroft. Haveria um público interessado em canções de Ashcroft em MP3 no próximo Napster?
Fanning -
Sim, deve existir um grupo aí fora, em algum lugar.

Pergunta - Pela sua lógica, é por isso que o Napster deve existir, certo? Para satisfazer a esse nicho?
Fanning -
(rindo) Eu não diria exatamente isso.


Tradução de Clara Allain


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