São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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ANÁLISE

Uma pequena ideia crítica sobre Chatroulette

LUÍS CARLOS PETRY
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chatroulette se constitui em uma das novas criações englobadas pelo conceito de redes sociais (ou de relacionamento) na web 2.0.
O sistema de Chatroulette viabiliza a situação de "encontros ao acaso" e uma nova forma de entretenimento para os tradicionais padrões de comunicação. Experiências análogas anteriores a esse tipo de relação social, no universo pré-internet, foram levadas a cabo por companhias telefônicas, na década de 1980, por exemplo, quando disponibilizavam bate-papos por telefones para grupos de usuários. A proposta telefônica não decolou.
Pesam a favor de Chatroulette alguns elementos, tais como a presença da imagem, do áudio, do texto e, diga-se de passagem, a surpresa da aleatoriedade. Você entra em um jogo de diálogo on-line, recebendo um parceiro de diálogo escolhido para você randomicamente a partir da base de usuários atualmente conectados.
Se o conceito pode ser correto filosoficamente, do ponto de vista do design de games, Chatroulette é carente em muitos dos aspectos para defini-lo como um game: faltam-lhe metas, tarefas, desafios, todos eles previstos ou construídos em uma sucessão temporal ou de ações.
Do ponto de vista narratológico, não coloca os parceiros na perspectiva de trilhar um dos vários caminhos possíveis de uma narrativa digital dada ou aberta. O experimento pena, nesse sentido, pela sua peremptoriedade na construção de uma relação dialógica.
Mas Chatroulette é extremamente forte ao promover uma "função lógico-matemática" (ao modo de uma função matemática do Flash) ao status de uma categoria para o relacionamento humano: o aleatório ou randômico.
Ainda que encontros aleatórios possam acontecer em nossa vida noturna com tais características semelhantes, o fator diferencial aqui é a regulação e o controle que ficam aos cuidados do site-software Chatroulette, uma espécie de irmão-aproximador-cibernético.
O sistema resolve para nós o grande problema de decidir, da iniciativa e o da volição em relação a um alvo: basta entrar no sistema e você recebe um parceiro de diálogo.
Muitos pensamentos dentro da líquida cultura pós-moderna certamente podem achar tudo isso muito divertido, mas outros podem identificar aqui alguns elementos que tendem ao enfraquecimento das relações humanas, uma sugestão a transformá-las em um objeto descartável, prescindível, resolvido por um simples "Next".


LUÍS CARLOS PETRY é professor doutor da PUC-SP, do Programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital - Curso de Tecnologia Superior em Jogos Digitais

LEIA a integra do texto de Luís Carlos Petry no blog Circuito Integrado
(folha.com.br/circuitointegrado)



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