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ANÁLISE
Uma pequena ideia crítica sobre Chatroulette
LUÍS CARLOS PETRY
ESPECIAL PARA A FOLHA
Chatroulette se constitui em
uma das novas criações englobadas pelo conceito de redes
sociais (ou de relacionamento)
na web 2.0.
O sistema de Chatroulette
viabiliza a situação de "encontros ao acaso" e uma nova forma de entretenimento para os
tradicionais padrões de comunicação. Experiências análogas
anteriores a esse tipo de relação
social, no universo pré-internet, foram levadas a cabo por
companhias telefônicas, na década de 1980, por exemplo,
quando disponibilizavam bate-papos por telefones para grupos de usuários. A proposta telefônica não decolou.
Pesam a favor de Chatroulette alguns elementos, tais como
a presença da imagem, do áudio, do texto e, diga-se de passagem, a surpresa da aleatoriedade. Você entra em um jogo de
diálogo on-line, recebendo um
parceiro de diálogo escolhido
para você randomicamente a
partir da base de usuários
atualmente conectados.
Se o conceito pode ser correto filosoficamente, do ponto de
vista do design de games, Chatroulette é carente em muitos
dos aspectos para defini-lo como um game: faltam-lhe metas,
tarefas, desafios, todos eles previstos ou construídos em uma
sucessão temporal ou de ações.
Do ponto de vista narratológico, não coloca os parceiros na
perspectiva de trilhar um dos
vários caminhos possíveis de
uma narrativa digital dada ou
aberta. O experimento pena,
nesse sentido, pela sua peremptoriedade na construção
de uma relação dialógica.
Mas Chatroulette é extremamente forte ao promover uma
"função lógico-matemática"
(ao modo de uma função matemática do Flash) ao status de
uma categoria para o relacionamento humano: o aleatório ou
randômico.
Ainda que encontros aleatórios possam acontecer em nossa vida noturna com tais características semelhantes, o fator
diferencial aqui é a regulação e
o controle que ficam aos cuidados do site-software Chatroulette, uma espécie de irmão-aproximador-cibernético.
O sistema resolve para nós o
grande problema de decidir, da
iniciativa e o da volição em relação a um alvo: basta entrar no
sistema e você recebe um parceiro de diálogo.
Muitos pensamentos dentro
da líquida cultura pós-moderna certamente podem achar tudo isso muito divertido, mas
outros podem identificar aqui
alguns elementos que tendem
ao enfraquecimento das relações humanas, uma sugestão a
transformá-las em um objeto
descartável, prescindível, resolvido por um simples "Next".
LUÍS CARLOS PETRY é professor doutor da
PUC-SP, do Programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital - Curso
de Tecnologia Superior em Jogos Digitais
LEIA a integra do texto de
Luís Carlos Petry no blog
Circuito Integrado
(folha.com.br/circuitointegrado)
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