São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

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segurança

Estudante troca privacidade por celular

INTELIGÊNCIA COLETIVA>>Empresas monitoram rumos da navegação e mais dados da vida digital para afinar mira comercial

JOHN MARKOFF
DO "NEW YORK TIMES"

Harrison Brown, 18, calouro do curso de matemática no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) não precisou calcular muito para perceber que o negócio lhe seria vantajoso: deixando pesquisadores monitorar todos os seus passos on-line, ele ganharia em troca um smartphone. Agora, quando ele liga para outro estudante, os pesquisadores sabem. Quando ele envia um e-mail ou uma mensagem de texto, eles também sabem.
Quando ele escuta música, eles sabem qual é. Sempre que ele estiver com o smartphone com sistema Windows Mobile, os pesquisadores sabem a sua localização.
Brown e cerca de cem outros estudantes que moram em Random Hall, no MIT, concordaram em trocar sua privacidade por smartphones que geram rastros digitais enviados a um computador central. Além de ações individuais, os dispositivos capturam uma imagem em movimento da rede de relacionamentos do dormitório.
Os dados dos estudantes representam uma bolha dentro de um vasto oceano digital de informações que são gravadas por uma rede ainda mais densa de sensores, que vão de telefones e aparelhos de GPS a cartões de identificação de escritórios, que registram nossos movimentos e interações.
Somadas às informações já coletadas por recursos como a navegação na web e o uso de cartões de crédito, os dados são a base de uma área emergente chamada inteligência coletiva.
Impulsionada por novas tecnologias e pela incursão da internet por todos os interstícios da vida cotidiana, a inteligência coletiva proporciona possibilidades poderosas, que vão do aumento da eficiência na área de propaganda ao oferecimento a grupos comunitários de novas formas de organização.
Mas os profissionais reconhecem que, se usadas impropriamente, as ferramentas de inteligência coletiva podem lesar o direito à privacidade. Para Steve Steinberg, cientista computacional que trabalha para um escritório de investimentos em Nova York, há muitas chances de essa ferramenta ser usada indevidamente. A inteligência coletiva poderia tornar viável às empresas de seguro, por exemplo, o uso de dados comportamentais a fim de identificar secretamente pessoas que sofrem alguma doença específica e negar a cobertura do seguro.
De forma semelhante, o governo poderia identificar membros de um grupo de manifestantes por meio do monitoramento de redes de relacionamentos que seriam descobertas pela nova tecnologia.

Novos parâmetros
Nos últimos 50 anos, os norte-americanos têm se preocupado com a privacidade das pessoas na era do computador.
Mas as novas tecnologias são tão poderosas que a proteção da privacidade individual talvez não seja mais a única questão. Agora, com a internet, sensores sem fio e a possibilidade de analisar uma avalanche de dados, o perfil de uma pessoa pode ser traçado sem que ela seja diretamente monitorada.
"Algumas pessoas sugerem que, com as novas tecnologias, verifica-se uma diminuição da expectativa de privacidade", disse Marc Rotenberg, diretor-executivo do Electronic Privacy Information Center, um grupo de defensores do direito à privacidade em Washington.
"Mas o contrário disso pode também ser verdadeiro. Novas tecnologias talvez nos façam expandir nossa compreensão sobre a privacidade e nossa abordagem a respeito do impacto que a coleta de dados tem em grupos de indivíduos e não apenas em uma pessoa", afirma o ativista.
Brown, por exemplo, não se preocupa com a perda de privacidade. Os pesquisadores do MIT o convenceram de que haviam percorrido um longo caminho a fim de proteger toda informação gerada pelo experimento que fosse capaz de revelar a identidade dele. Além disso, diz ele: "No meu modo de ver, todos nós temos páginas no Facebook, e-mail, sites e blogs. Isso é uma gota no oceano em termos de proteção à privacidade".

Poderes do Google
O Google e sua ampla área de mais de 1 milhão de servidores com ferramentas de pesquisa espalhados por todo o globo ainda são o melhor exemplo da força e do potencial de crescimento da inteligência coletiva. O PageRank, algoritmo inventado pelo Google e inicialmente responsável pela qualidade dos resultados das buscas feitas nesse site, ganhou precisão baseando-se na boa-fé inerente aos bilhões de links individuais que as pessoas criam.
A empresa inaugurou um serviço de reconhecimento da fala no início de novembro, inicialmente a partir do iPhone, da Apple, que ganha precisão, sobretudo, por meio do modelo estatístico construído por vários trilhões de termos de busca que os usuários utilizaram na última década.
No futuro, o Google irá tirar vantagem de consultas faladas a fim de prever, de maneira ainda mais precisa, as consultas que os usuários irão fazer.
E, algumas semanas atrás, o Google disponibilizou um serviço de alerta antecipado a fim de localizar focos de gripe, serviço esse que se baseia nas consultas feitas sobre sintomas relacionados a essa doença.

Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS



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