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LITERATURA DIGITAL
Artistas combinam gêneros e usam recursos internéticos para apresentar histórias em um novo formato
"HQtrônicas" revolucionam quadrinhos
PAULO RAMOS
DA REDAÇÃO
Não é uma história em quadrinhos. Há sons e parte das figuras
se movimenta. Também não é um
desenho animado. Há letreiros e
balões de fala na tela do micro. O
que é, então? É uma mistura dos
dois gêneros. São as chamadas
"HQtrônicas", que já estão presentes em mais de mil sites.
A estimativa é do desenhista e
professor universitário Edgar
Franco, 34, autor do único livro
brasileiro sobre o assunto
("HQtrônicas - do Suporte Papel
à Rede Internet", Annablume, 284
págs, R$ 38). A obra compila sua
dissertação de mestrado, defendida em 2001 na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
É criação dele o nome "HQtrônicas". "É um gênero novo. Não
havia um termo para se referir a
ele. Optei por "HQtrônicas" para
deixar claro que é um tipo diferente de história em quadrinhos.
É um quadrinho eletrônico com
todos os recursos que o computador pode oferecer."
Segundo Franco, o número de
sites sobre o assunto dobrou nos
últimos cinco anos. Dois motivos
justificariam o crescimento. O
primeiro: a rede virtual tornaria
mais fácil a divulgação do material. O segundo motivo seriam os
recursos que o computador oferece para a criação das histórias.
A "HQtrônica" mais simples é a
que propõe diferentes alternativas de narrativa para o leitor. Funciona como um labirinto. O desenhista coloca na tela uma seqüência, que termina sempre com uma
cena de suspense. Quem dá continuidade à historia é o leitor, que
tem a opção de clicar em duas (às
vezes em três) possibilidades de
desfecho. A escolha leva a uma
nova tela, que termina com mais
uma rodada de alternativas.
O recurso é o mote da "HQtrônica" brasileira "Linda de Morrer". Criada em 1999, a história
mostra uma moça -em roupas
provocantes- prestes a ser assassinada. O destino dela é uma incógnita. As sucessivas opções que
o leitor tem para escolher levam a
mais de 50 finais. Só um desfecho
salva a protagonista.
Outros formatos de "HQtrônica" têm um grau menor de interação, mas usam mais os recursos
eletrônicos. "A Maldição da Múmia" muda a maneira de leitura
das informações. O internauta
acompanha a história como se desenrolasse um pergaminho.
As histórias podem vir com trilha sonora ou ruídos. É o que faz
Fábio Yabu no site dos Combo
Rangers, o mais conhecido do gênero no Brasil. As aventuras do
grupo de heróis (inspirados no seriado de TV "Power Rangers")
têm vários efeitos sonoros. São
socos, raios e barulhos de explosão. Os sons fazem as vezes das
onomatopéias, comuns nas histórias em quadrinhos comuns.
O balão é mantido na maioria
das histórias virtuais. A pesquisa
de Franco identificou uma resistência em abandonar o recurso,
próprio dos quadrinhos. Para ele,
é o que diferencia uma "HQtrônica" de um desenho animado.
Paulo Ramos é consultor de língua portuguesa da Folha e do UOL.
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