São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2008 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
reportagem de capa Design deve priorizar usuário, não beleza
ENTREVISTA >> Pesquisador critica o "design de sedução", em que a estética é hipervalorizada em detrimento da usabilidade
DA REPORTAGEM LOCAL
O conceito de design ainda é
incompreendido, segundo Luís
Cláudio Portugal do Nascimento, professor do curso de design
da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). FUNÇÃO DO DESIGN Para o especialista, a função do design é criar produtos em que a interface entre a tecnologia, de um lado, e o usuário, do outro, seja "ótima". "Nosso enfoque [na USP] é muito menos de apelo comercial e muito mais de fazer um produto que realmente funcione, que faça com que as pessoas se sintam com poder, e não intimidadas." O professor critica o que chama de "design de sedução", em que a estética é hipervalorizada em detrimento do conjunto de fatores que compõem o projeto de um produto. "Há fatores ambientais, ergonômicos, de produção, de manutenção. O isolamento de um fator causa um desequilíbrio no sistema." APPLE Para Portugal, a Apple perpetrou grandes avanços no segmento de design, "mas há também muito fetiche, muito estilismo e não propriamente design". "A Apple criou uma interface, inicialmente copiada da Xerox, com uma usabilidade muito superior à dos outros computadores até então. E deu um salto qualitativo do ponto de vista da interface. Mas incorre também em muito modismo." CONSUMIDOR O usuário não deve ser visto como mero consumidor, afirma o especialista. "Se você imaginar que está projetando para um consumidor, permite criar artimanhas e fogos de artifício para impressionar. Se você olhar o sujeito do seu projeto como um usuário, humaniza o processo e faz um produto para atender, para servir." CELULARES RUINS Para Portugal, a maioria dos telefones celulares atuais é feita para ser descartável, e suas interfaces ainda são ruins. Os principais problemas, em sua opinião, são a inclusão de funções que nunca serão usadas e as categorias conceituais pouco intuitivas das interfaces gráficas. "Às vezes, o despertador está dentro de uma categoria que você nem sabe o que que quer dizer", exemplifica. "É impressionante como a qualidade em geral dos produtos de tecnologia e outros está muito aquém do que poderia ser." FUTURO "Observe se as pessoas estão ligando um computador facilmente, se elas se sentem suavemente poderosas na hora de entender o manual, ou se elas têm que chamar um técnico para fazer as instalações. Olharemos daqui a uns 20 anos para as nossas interfaces e pensaremos, "como era áspero, como era primitivo"." CAIXAS E COMPRAS O especialista vê falhas nos sites de compras -segundo ele, difíceis de operar- e nos caixas eletrônicos. "É preciso criar um caixa em que você não se sinta frustrado porque só é informado no final da operação de que tinha escolhido uma modalidade errada antes." SUSTENTABILIDADE Para Portugal, computadores revestidos em bambu não passam de "um equívoco total", "uma brincadeira". "Isso é para surfar na moda da sustentabilidade. Sustentabilidade é fazer uma bateria que dure mais tempo. É fazer um produto com uma engenharia correta, que você não precise trocar a cada dois anos." PAPEL CIVILIZATÓRIO "Nós temos que usar a tecnologia de maneira sagrada, com uma consciência de seu papel civilizatório. O design tem que fazer a ponte entre a tecnologia em estado bruto e os seres humanos", afirma. Texto Anterior: Design summit: Desenvolvedores experimentam novas tecnologias Próximo Texto: Evolução das interfaces tornará uso de tecnologia mais intuitivo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |