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COMPORTAMENTO
Passado o impacto novidadeiro, começa nos EUA debate sobre o futuro das mobilizações instantâneas
"Flash mobs" enfrentam crise de identidade
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Em algum momento iria acontecer. Passada a febre inicial, as
"flash mobs" -mobilizações de
curtíssima duração organizadas
por e-mail e mensagens via telefone celular- chegam enfim à sua
particular crise de identidade.
Para grande parte do mundo,
elas já deixaram de ser novidade.
Tampouco contam mais com o
fator "surpresa" -os encontros
são programados em listas públicas na internet, nas quais o interessado pode se agendar de acordo com a programação e até sincronizar o relógio para não perder
preciosos segundos.
A dúvida agora é sobre o que vai
acontecer com elas: se sobreviverão como forma de arte, como
uma diversão, como um instrumento de marketing ou se vão
simplesmente perder força e,
eventualmente, desaparecer.
"Vai depender de as pessoas
usarem sua imaginação para pensar coisas novas para fazer que sejam divertidas, mas não perturbadoras ou ilegais", diz Howard
Rheingold, autor do livro "Smart
Mobs" e considerado um dos
maiores especialistas sobre o assunto. Rheingold opina que, se
embicarem para o lado comercial,
as mobs estarão colocando sua
própria sobrevivência em risco.
"Duvido que tenham sucesso.
Não seria autêntico e pareceria
spam", compara ele.
Outro estudioso do assunto, porém, acha que o uso das "mobs"
como uma arma de propaganda
pode ser, sim, uma opção para o
movimento de agora em diante.
"Há um potencial incrível para
as "mobs'", diz Thomas Grow,
responsável pelo site Mob Project,
que cita um exemplo: "Marketing
de guerrilha é aquele em que você
tem uma alguma abordagem incomum na propaganda. A impressão que fica é muito mais memorável", afirma.
Um outro caminho, já tateado
por movimentos semelhantes, é o
de as "mobs" assumirem conotação predominantemente política.
Na semana passada, por exemplo, em meio a diversas mobs sem
sentido aparente programadas
pelos EUA, havia a convocação
para uma aparição de protesto em
San Diego contra o "recall" do governador da Califórnia.
"A disputa é ridícula. Vamos
mostrar como ela é ridícula", dizia o texto-convite, que pedia aos
participantes que aparecessem de
terno e gravata em um prédio federal e gritassem o mais alto possível: "Eu para governador".
Não era um ato isolado: outra
"mob" foi convocada para o mesmo dia (sábado passado) para
protestar em Sacramento, capital
do Estado, contra o legislativo
-considerado por alguns a origem de toda a crise.
A maioria, porém, é ainda pura
e simplesmente diversão mesmo.
"Elas nos dão um motivo para
sorrir nesse mundo de terrorismo
e de muitos outros estresses da vida diária", opina Grow.
A onda de "mobs" começou em
junho passado, com uma mobilização em Nova York. A partir daí,
espalharam-se rapidamente pelo
mundo e chegaram ao Brasil na
semana passada. O princípio é basicamente o mesmo: os participantes são convocados por e-mail
ou por celular para estar em um
determinado lugar em um certo
horário para fazer alguma atividade de curta duração.
A idéia, porém, varia bastante e,
em geral, não faz muito sentido
para quem vê de fora. Depois da
ação conjunta, os participantes se
dispersam rapidamente, de modo
a evitar confusão.
Seja lá por qual caminho, Grow
acredita que elas vieram para
marcar época. "Acho que elas estão se tornando a principal moda
cultural até agora neste século."
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