São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


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COMPUTAÇÃO AFETIVA

Abra seu coração

Sistema procura compreender os humanos

Reprodução
Brinco que monitora pressão sanguínea


PAULO BLIKSTEIN
especial para a Folha

"Você teve um dia ruim de trabalho, não é? Quer ir assistir a uma comédia para relaxar?"
De quem você imagina ouvir esta frase? De uma namorada? De um amigo? Se depender dos esforços do grupo de pesquisa em Computação Afetiva, do Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology), você ouvirá isso do seu PC.
Raiva. Ódio. Amor. Alegria. Tristeza. Com a ajuda de sofisticados equipamentos e métodos computacionais, os pesquisadores estão modelando e entendendo como os seres humanos expressam sua emoções, para fazer com que os computadores possam entendê-las. Pelo menos é o que promete a professora Rosalind Picard, diretora de Computação Afetiva do Media Lab. Ela coordena um grupo que pesquisa formas de interação afetiva entre o homem e a máquina.

Acerto de 80%
"Nem todos os computadores devem se preocupar com emoções, mas há situações em que a interação com as máquinas pode ser melhorada se elas souberem se adaptar a seus usuários", diz.
Picard, engenheira elétrica e aficionada por mergulho com tubarões, não brinca: os dispositivos que sua equipe projetou prometem fazer os computadores detectarem emoções humanas com índices de acerto da ordem de 80%.
"Estou muito preocupada com o que vai acontecer às pessoas se elas passarem todas as suas horas interagindo com e por meio de um aparelho que constantemente ignora suas emoções", diz.
A doutoranda Jocelyn Scheirer, que inventou um dos aparelhinhos mais populares do grupo, o Galvactivator, está confiante. "Mesmo os sistemas elementares que estamos fazendo já podem trazer um nível de interação mais interessante (do que os sistemas comuns)."

Ensino afetuoso
O grupo está trabalhando em sete projetos principais, que vão desde a máquina de café afetiva do laboratório até a programação de sistemas educacionais. "Ainda não podemos detectar emoções específicas, mas podemos avaliar o estado de excitação ou de frustração do usuário, e se um certo estímulo é positivo ou negativo", diz Scheirer.
Essa é a base da pesquisa sobre tutores afetivos. Segundo os pesquisadores, a parte do cérebro responsável pelas emoções é a mesma que cuida de boa parte do processo de aprendizado. Os softwares educacionais, normalmente, ignoram o feedback emocional do aluno, o que prejudica o seu rendimento. A idéia do projeto é tentar entender a intuição dos professores reais e incluí-la em softwares educacionais.
Outros projetos do grupo parecem menos ambiciosos, como o Affective Tangibles. Por meio de objetos de uso cotidiano, o usuário poderia expressar suas emoções sem constrangimento. Um desses objetos é o mouse esmagável, que detectaria a tensão ou frustração do usuário quando, por exemplo, o seu "Windows" travasse pela décima vez.
Dispositivos como esse permitiriam que o computador detectasse uma frustração extrema do usuário, como afirma Picard: "Eu me pergunto se a raiva das pessoas contra a Microsoft acontece não apenas porque os produtos as deixam frustradas, mas também porque essa frustração é totalmente ignorada. O computador faz as pessoas se sentirem burras, quando na verdade os computadores é que são burros".

Emoções multiculturais
Mas será que um usuário norte-americano expressa suas emoções da mesma forma que um brasileiro?
Jocelyn Scheirer tem uma resposta: "Não usamos somente dados fisiológicos, mas também áudio e vídeo. Em cada cultura, provavelmente os dados físicos não variam, mas as expressões faciais com certeza devem ser diferentes". Segundo a pesquisadora, depois que os sistemas estiverem funcionando satisfatoriamente, será a vez de pensar em adaptá-los a outras culturas.


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