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Cientistas questionam entusiasmo com a pesquisa
especial para a Folha
Apesar de a pesquisa em computação afetiva estar empolgando
os pesquisadores do Media Lab,
ela não é uma unanimidade entre
os cientistas.
O psiquiatra Henrique Schützer
Del Nero, doutor em engenharia
elétrica e professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP, tem ressalvas.
"As emoções têm uma manifestação externa e uma interna. Ainda não existem modelos que expliquem bem a relação entre a
manifestação aparente de uma
emoção e o estado interno do indivíduo. Uma tentativa de entender e modelar as emoções só pelas
suas manifestações externas é só
metade do caminho", diz.
Del Nero considera a pesquisa
importante, mas acha que precisamos ter cuidado com as palavras: "Os termos são complicados. Muitas vezes os cientistas
criam uma pantomima de nomes
que só atrapalha. Em lugar do termo "computação afetiva", eu usaria "ergonomia afetiva", ou seja,
tornar o uso do computador mais
agradável, levando em consideração algumas manifestações externas de emoções".
Também pós-graduado em filosofia pela USP, Del Nero acha que
é um progresso pensar em uma
interação afetiva entre homem e
máquina: "Se o computador detecta que você está triste, ele poderia travar menos ou mudar a configuração. Não sei se podemos ir
além, por enquanto: não sabemos
a relação das emoções e seus estados internos com os processos racionais. Melhorar a experiência
interativa entre homem e máquina talvez seja possível, mas isso
está muito longe de ser afeto".
O professor também faz outros
questionamentos. Por exemplo:
como saber se o usuário está rindo de algo engraçado ou tentando
enganar o computador?
A psicóloga Ester Regina Duchovni, da Sociedade Brasileira de
Psicanálise, concorda: "Esses
princípios são usados há muito
tempo em aparelhos detectores
de mentiras, e algumas pessoas
conseguem enganá-los".
Ela também vê com ceticismo a
sofisticação que a pesquisa pode
atingir: "É claro que, em um estado de excitação, o batimento cardíaco se acelera. Mas acho que
emoções mais complexas são
muito difíceis de detectar dessa
forma. Ficaríamos restritos a coisas muito primárias".
Duchovni alerta também para o
que considera perigos do projeto:
"Temos que tomar cuidado com
esse tipo de pesquisa e seus subprodutos. Há muitas técnicas psicológicas que, se usadas por leigos, podem levar a conclusões erradas e generalizações. Há sempre uma tentação em banalizar ou
explicar superficialmente o comportamento humano".
O engenheiro Paulo Blikstein (paulob@lsi.usp.br), diretor da Blikstein Consultoria
e da Webkit Informática (www.webkit.com.br), visitou o MIT representando a
Fundação Vanzolini da USP.
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