São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cientistas questionam entusiasmo com a pesquisa

especial para a Folha

Apesar de a pesquisa em computação afetiva estar empolgando os pesquisadores do Media Lab, ela não é uma unanimidade entre os cientistas.
O psiquiatra Henrique Schützer Del Nero, doutor em engenharia elétrica e professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP, tem ressalvas.
"As emoções têm uma manifestação externa e uma interna. Ainda não existem modelos que expliquem bem a relação entre a manifestação aparente de uma emoção e o estado interno do indivíduo. Uma tentativa de entender e modelar as emoções só pelas suas manifestações externas é só metade do caminho", diz.
Del Nero considera a pesquisa importante, mas acha que precisamos ter cuidado com as palavras: "Os termos são complicados. Muitas vezes os cientistas criam uma pantomima de nomes que só atrapalha. Em lugar do termo "computação afetiva", eu usaria "ergonomia afetiva", ou seja, tornar o uso do computador mais agradável, levando em consideração algumas manifestações externas de emoções".
Também pós-graduado em filosofia pela USP, Del Nero acha que é um progresso pensar em uma interação afetiva entre homem e máquina: "Se o computador detecta que você está triste, ele poderia travar menos ou mudar a configuração. Não sei se podemos ir além, por enquanto: não sabemos a relação das emoções e seus estados internos com os processos racionais. Melhorar a experiência interativa entre homem e máquina talvez seja possível, mas isso está muito longe de ser afeto".
O professor também faz outros questionamentos. Por exemplo: como saber se o usuário está rindo de algo engraçado ou tentando enganar o computador?
A psicóloga Ester Regina Duchovni, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, concorda: "Esses princípios são usados há muito tempo em aparelhos detectores de mentiras, e algumas pessoas conseguem enganá-los".
Ela também vê com ceticismo a sofisticação que a pesquisa pode atingir: "É claro que, em um estado de excitação, o batimento cardíaco se acelera. Mas acho que emoções mais complexas são muito difíceis de detectar dessa forma. Ficaríamos restritos a coisas muito primárias".
Duchovni alerta também para o que considera perigos do projeto: "Temos que tomar cuidado com esse tipo de pesquisa e seus subprodutos. Há muitas técnicas psicológicas que, se usadas por leigos, podem levar a conclusões erradas e generalizações. Há sempre uma tentação em banalizar ou explicar superficialmente o comportamento humano".


O engenheiro Paulo Blikstein (paulob@lsi.usp.br), diretor da Blikstein Consultoria e da Webkit Informática (www.webkit.com.br), visitou o MIT representando a Fundação Vanzolini da USP.

Texto Anterior: Livro mostra bases para a pesquisa
Próximo Texto: Tecnologia: Robô gaúcho compete em basquete nos EUA
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.