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CIBERSEXO
Repórter testa os primeiros kits cibervibrotrônicos, que permitem controlar, via Internet, aparelhos que fazem estímulos físicos
Brinquedo erótico é manipulado on line
TRICIA BALDWIN
DA "SALON"
Em 1992, a revista "Future Sex"
publicou sua previsão sobre a maquinaria sexual do novo milênio:
o CSex G-Unit, uma espécie de
traje composto de brinquedos sexuais, entre os quais enormes
"consolos simuladores de pele"
eletrônicos e capacetes de estímulo. Essas roupas cibervibrotrônicas permitiriam que os amantes
se relacionassem de qualquer parte do mundo. Bastaria vestir uma
dessas máquinas do amor e se conectar à Internet, e seu parceiro
poderia controlar à distância as
sensações que propiciariam um
orgasmo devastador -e tudo
sem precisar de camisinha.
O ano 2000 chegou. Diversas
empresas levaram a sério a visão
proposta pela "Future Sex". Na
Internet, podem-se encontrar sites como os da Digital Sexsations
e da SafeSexPlus, que prometem
os primeiros kits cibervibrotrônicos da história. As duas empresas
vendem brinquedinhos eróticos
controlados via Internet.
Você compra um brinquedo especialmente modificado e um
aparelho para ligá-lo ao seu computador, depois instala o software
que vem no pacote, conecta-se à
Internet e voilà! É cibersexo real.
Uma companhia pornô bem
conhecida, a Vivid Entertainment, está criando a primeira vestimenta para cibersexo -a empresa não respondeu ao pedido
de uma demonstração. As duas
outras empresas adoraram a idéia
de me enviar seus mais recentes
produtos cibervibrotrônicos.
As caixas que chegaram eram
discretas -pacotes em papel
marrom e branco, enviados sem o
nome da empresa remetente e
sem nenhuma indicação do conteúdo. Ninguém saberia que conteriam, ocultos sob camadas e
mais camadas de plástico, vaginas
de plástico e enormes vibradores
púrpura em formato de golfinho.
São mais ou menos a mesma
coisa que você encontra em qualquer sex shop, com uma exceção
-cada um deles tem um pequeno cabo branco, com um plugue
na ponta, instalado na traseira.
A idéia é que os parceiros liguem seus computadores, entrem
na Internet, encontrem-se e manipulem os diversos brinquedinhos sexuais que lhes dariam orgasmos estrondosos.
A realidade é bastante diferente.
Ainda que, no teste, apesar de cuidadosamente coordenado, o cibersexo não tenha chegado exatamente a acontecer, eu consegui
aprender um pouco sobre a viabilidade da cibervibrotrônica prática -e também sobre a indústria
do sexo virtual. A seguir, veja as
conclusões de minha experiência.
1. INDÚSTRIA DO SEXO NÃO OFERECE ALTA TECNOLOGIA - O kit da
SafeSexPlus -projetado pela
WebPower, uma companhia cujas atividades incluem a rede de
sexo virtual Internet Friends-
consiste em uma caixa de plástico
bege, bastante malfeita, com pequenas cúpulas de sucção, dois
sensores de luz e uma porta para o
brinquedo sexual a ser usado.
Instale o software e ele oferecerá
um navegador para a Internet
com a imagem de um quadrado,
metade branco e metade cinzento. Prenda a caixa sobre esse quadrado usando as cúpulas de sucção. A idéia é bastante simples:
usar o mouse para controlar as
cores do quadrado e assim controlar a velocidade e as ações do
brinquedo sexual que seu parceiro estiver usando.
Testei duas das caixinhas plásticas -uma delas não funcionou- e terminei por conseguir,
para minha grande surpresa, que
a engenhoca de fundo de quintal
entrasse no ar.
Liguei no modo "piloto automático", e as cores do pequeno
quadrado foram mudando de
preto para branco. E lá estavam as
pérolas falsas do meu vibrador
chacoalhando de um lado para o
outro, e o estimulador de clitóris
vibrando seu formato de golfinho, primeiro rápido, depois devagar e a seguir em círculos, de
acordo com as cores da tela.
Mas então a máquina caiu da tela, por perda de sucção. Quando a
prendi de novo, ela começou a escorregar monitor abaixo. Eu diria
que esse método de fixação por
sucção não é uma maneira confiável ou altamente tecnológica de
atingir um orgasmo.
2. QUATRO BRINQUEDOS SEXUAIS
SIMULTÂNEOS - O kit da Digital
Sexsations é bem melhor que o da
SafeSexPlus. Não só temos software e hardware mais avançados
-uma caixa preta que se conecta
a uma porta serial do computador
e um aplicativo de chat muito elegante- como o treco todo vem
identificado por um elegante e
discreto logotipo preto e verde.
Podem-se conectar quatro brinquedos sexuais diferentes à caixa
preta -digamos, um vibrador Le
Bullette, um Mega Clit Saucer, um
Excitador de Mamilos e um vibrador anal Pleasure Dome-, e cada
um deles pode ser controlado individualmente pelo seu parceiro.
A janela de chat da Digital Sexsations permite que você crie palavras "quentes", que, quando digitadas durante o bate-papo, acionarão um dos brinquedos em níveis diferentes de intensidade.
"Beijo seu traseiro", por exemplo,
fará com que o vibrador anal desembeste, enquanto "acaricio o
seu seio" colocará em ação o Excitador de Mamilos. Você também
pode controlar os brinquedinhos
manualmente, enquanto digita
suas mensagens no teclado.
Mas será que funciona? O lado
físico da coisa é dúbio: tente segurar um vibrador na virilha e um
vibrador anal lá atrás, enquanto
equilibra o Excitador de Mamilos
nos seios e digita palavras tórridas
para o seu amante. Confie em
mim, é impossível.
3. MAIS FÁCIL PARA AS MULHERES - Naquela velha edição da "Future Sex", os editores tinham em
mente o traje sexual do futuro
composto de "um tecido de sensores, uma membrana que imita a
pele humana, capaz de ser usada
na genitália e de digitalizar e registrar toques eróticos e sexuais".
No ano 2000, o traje cibervibrotrônico que temos à mão se compõe da Vagina Vibro-Realística e
do Excitador de Mamilos.
A Vagina Vibro-Realística, de
acordo com as promessas da embalagem, é "uma réplica em tamanho natural e totalmente perfeita
de uma vagina feminina". Nem
em sonhos. O que temos realmente é um pedaço murcho de plástico macio, cor-de-carne, equipado
com um buraco de lábios rosados
no meio e, para completar o modelito, cachinhos horripilantes
imitando pêlos púbicos. É um
brinquedo sexual tão repulsivo
que não consigo imaginar um homem que se respeite colocando de
verdade seu pênis ali.
Há também o RoboSuck, um cilindro plástico de ação a vácuo.
("Sempre pronto e sempre disposto, o RoboSuck une tecnologia
moderna e fabricação artesanal
para satisfazer a ancestral e permanente busca do homem por
uma sucção poderosa.") Não conheço sequer um homem cuja
idéia de diversão sexual seja enfiar
o pênis em um aspirador de pó,
mas quem sabe? Talvez exista.
Em tom semelhante, temos o
Excitador de Mamilos, uma espécie de bomba a vácuo para os
seios. Os comandos enviados por
seu parceiro fazem com que a coisa sugue mais forte ou mais gentilmente, pulsando de um jeito
meio obsceno enquanto engole
sua carne macia com aquela mandíbula plástica. Ao contrário do
que diz a embalagem, essa não é
uma sensação agradável.
Temos o Vibro Mr. Jack (imagine a Vagina Vibro-Realística na
forma de uma boca encimada por
bigode) e, para quem prefere lábios femininos, o Jill Kelly Futurotic Lips. No kit da Digital Sexsations, um homem pode também
prender um pequeno vibrador
-grandiosamente chamado Le
Bullette- diretamente no pênis.
No geral, a cibervibrotrônica está mais adaptada às mulheres, já
que a gama disponível de consolos e vibradores é bastante familiar e útil para muitas meninas
modernas. Para os homens, há séria escassez de brinquedinhos eletrônicos tão eficientes quanto as
palmas de suas mãos.
4. CIBERVIBROTRÔNICA NÃO É
PARA CASAIS - Quem faz sexo real,
de carne e osso, pelo menos algumas vezes por semana, não tem
muito incentivo para experimentar a variedade virtual. Imagine
conversar com seu marido (ou
mulher, ou namorado ou amante) e sugerir a compra de kits cibervibrotrônicos para que vocês
possam fazer amor on line. Casais
dispostos a isso são muito raros.
A SafeSexPlus parece conhecer
perfeitamente o alvo de seus produtos: a cibervibrotrônica é para
os solteiros que adoram computadores e fazem cibersexo há muito tempo, usando os dedos e os
brinquedos tradicionais para se
divertir com parceiros invisíveis,
e que agora querem controle remoto para essa diversão.
Na Internet Friends Network,
você é encorajado a procurar por
outros proprietários do kit cibervibrotrônico, abrir uma sala privada de chat e ir logo tirando a
roupa (se você tiver uma Web
cam, pode até transmitir o evento
ao vivo).
Ou pode assistir a uma "exibidora" -basicamente o equivalente na Internet a uma estrela
pornô virtual, que cobra para bater papo incrementado por cibervibrotrônica.
5. HISTÓRIAS DE GOSTO DUVIDOSO - Além de fazer sexo on line
com o seu namorado ou procurar
um estranho em algum serviço de
encontros virtuais, você também
pode brincar sozinho.
O SafeSexPlus oferece um modo "piloto automático", que variará aleatoriamente a intensidade da ação do brinquedo.
Já a Digital Sexsations acopla
contos eróticos on line (os "Buzz
Books") aos seus brinquedos. Enquanto você lê, pode ir clicando
em palavras que enviam sinais ao
vibrador. A frase "e ela o girou,
para a frente e para trás", por
exemplo, gerou uma pulsação firme, mas suave, no Le Bullette;
"sugou-o bem fundo" propiciou
uma vibração mais forte; e "enterrou até onde conseguiu" fez com
que meu pequeno dínamo de
plástico verde pulsasse tão forte
que eu mal conseguia segurá-lo.
Mas as histórias são meio estranhas e não excitarão a todos. "Spiralling Desire", um dos contos da
DigitalErotica.net disponíveis em
formato "envenenado" na Digital
Sexsations, fala de uma mulher
sendo estuprada por um alienígena. Isso é erotismo ou terror?
6. ASSISTÊNCIA TÉCNICA PODE
SER UM PROBLEMA - As alegrias do
sexo virtual podem ser reduzidas
a pó quando você liga para a assistência técnica da SafeSexPlus, por
exemplo, depois de brigar com o
software por uma hora sem entender por que não funciona o endereço IP personalizado que deveria permitir que seu parceiro
acionasse o brinquedinho que você está usando, e o técnico só responde dois dias mais tarde.
(Ele deixou uma mensagem em
tom arrogante, comentando apenas: "Deveria funcionar, tente de
novo!".)
7. CIBERSEXO NÃO É MUITO EXCITANTE - Há algo sobre essa confusão de fios, aparelhos, portas seriais e brinquedos horríveis que
elimina o romance da cibervibrotrônica, e esse talvez seja o motivo
pelo qual não consegui convencer
meu parceiro, que usa um Mac, a
pedir um PC emprestado para
que pudéssemos testar os kits.
O mundo do sexo virtual por
controle remoto não é sensível
nem excitante.
A cibervibrotrônica não passa
de masturbação auxiliada por
máquinas, mais ou menos como
o sexo virtual tradicional. Você
vai continuar tentando digitar
com uma das mãos e segurando o
vibrador com a outra. A diferença
é que a pessoa do outro lado pode
controlar a intensidade da ação
do brinquedo.
A cibervibrotrônica ainda se parece muito mais com fazer sexo
com uma máquina do que com
fazê-lo com um ser humano.
Mas esses produtos são a versão
1.0. Tudo indica que isso vai melhorar, que a indústria do sexo,
tão criativa para inventar maneiras de excitar as pessoas, continuará tentando criar produtos de
sexo virtual superiores.
Talvez a tecnologia avance até o
ponto em que o sexo virtual seja
tão satisfatório quanto o real. Se o
fizer, trará novas questões quanto
à natureza do sexo.
Tricia Baldwin é o pseudônimo de uma
jornalista discreta.
Tradução de Paulo Migliacci.
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