São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2000


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CIBERSEXO
Repórter testa os primeiros kits cibervibrotrônicos, que permitem controlar, via Internet, aparelhos que fazem estímulos físicos
Brinquedo erótico é manipulado on line

TRICIA BALDWIN
DA "SALON"

Em 1992, a revista "Future Sex" publicou sua previsão sobre a maquinaria sexual do novo milênio: o CSex G-Unit, uma espécie de traje composto de brinquedos sexuais, entre os quais enormes "consolos simuladores de pele" eletrônicos e capacetes de estímulo. Essas roupas cibervibrotrônicas permitiriam que os amantes se relacionassem de qualquer parte do mundo. Bastaria vestir uma dessas máquinas do amor e se conectar à Internet, e seu parceiro poderia controlar à distância as sensações que propiciariam um orgasmo devastador -e tudo sem precisar de camisinha. O ano 2000 chegou. Diversas empresas levaram a sério a visão proposta pela "Future Sex". Na Internet, podem-se encontrar sites como os da Digital Sexsations e da SafeSexPlus, que prometem os primeiros kits cibervibrotrônicos da história. As duas empresas vendem brinquedinhos eróticos controlados via Internet. Você compra um brinquedo especialmente modificado e um aparelho para ligá-lo ao seu computador, depois instala o software que vem no pacote, conecta-se à Internet e voilà! É cibersexo real. Uma companhia pornô bem conhecida, a Vivid Entertainment, está criando a primeira vestimenta para cibersexo -a empresa não respondeu ao pedido de uma demonstração. As duas outras empresas adoraram a idéia de me enviar seus mais recentes produtos cibervibrotrônicos. As caixas que chegaram eram discretas -pacotes em papel marrom e branco, enviados sem o nome da empresa remetente e sem nenhuma indicação do conteúdo. Ninguém saberia que conteriam, ocultos sob camadas e mais camadas de plástico, vaginas de plástico e enormes vibradores púrpura em formato de golfinho. São mais ou menos a mesma coisa que você encontra em qualquer sex shop, com uma exceção -cada um deles tem um pequeno cabo branco, com um plugue na ponta, instalado na traseira. A idéia é que os parceiros liguem seus computadores, entrem na Internet, encontrem-se e manipulem os diversos brinquedinhos sexuais que lhes dariam orgasmos estrondosos. A realidade é bastante diferente. Ainda que, no teste, apesar de cuidadosamente coordenado, o cibersexo não tenha chegado exatamente a acontecer, eu consegui aprender um pouco sobre a viabilidade da cibervibrotrônica prática -e também sobre a indústria do sexo virtual. A seguir, veja as conclusões de minha experiência.

1. INDÚSTRIA DO SEXO NÃO OFERECE ALTA TECNOLOGIA - O kit da SafeSexPlus -projetado pela WebPower, uma companhia cujas atividades incluem a rede de sexo virtual Internet Friends- consiste em uma caixa de plástico bege, bastante malfeita, com pequenas cúpulas de sucção, dois sensores de luz e uma porta para o brinquedo sexual a ser usado. Instale o software e ele oferecerá um navegador para a Internet com a imagem de um quadrado, metade branco e metade cinzento. Prenda a caixa sobre esse quadrado usando as cúpulas de sucção. A idéia é bastante simples: usar o mouse para controlar as cores do quadrado e assim controlar a velocidade e as ações do brinquedo sexual que seu parceiro estiver usando. Testei duas das caixinhas plásticas -uma delas não funcionou- e terminei por conseguir, para minha grande surpresa, que a engenhoca de fundo de quintal entrasse no ar. Liguei no modo "piloto automático", e as cores do pequeno quadrado foram mudando de preto para branco. E lá estavam as pérolas falsas do meu vibrador chacoalhando de um lado para o outro, e o estimulador de clitóris vibrando seu formato de golfinho, primeiro rápido, depois devagar e a seguir em círculos, de acordo com as cores da tela. Mas então a máquina caiu da tela, por perda de sucção. Quando a prendi de novo, ela começou a escorregar monitor abaixo. Eu diria que esse método de fixação por sucção não é uma maneira confiável ou altamente tecnológica de atingir um orgasmo.

2. QUATRO BRINQUEDOS SEXUAIS SIMULTÂNEOS - O kit da Digital Sexsations é bem melhor que o da SafeSexPlus. Não só temos software e hardware mais avançados -uma caixa preta que se conecta a uma porta serial do computador e um aplicativo de chat muito elegante- como o treco todo vem identificado por um elegante e discreto logotipo preto e verde. Podem-se conectar quatro brinquedos sexuais diferentes à caixa preta -digamos, um vibrador Le Bullette, um Mega Clit Saucer, um Excitador de Mamilos e um vibrador anal Pleasure Dome-, e cada um deles pode ser controlado individualmente pelo seu parceiro. A janela de chat da Digital Sexsations permite que você crie palavras "quentes", que, quando digitadas durante o bate-papo, acionarão um dos brinquedos em níveis diferentes de intensidade. "Beijo seu traseiro", por exemplo, fará com que o vibrador anal desembeste, enquanto "acaricio o seu seio" colocará em ação o Excitador de Mamilos. Você também pode controlar os brinquedinhos manualmente, enquanto digita suas mensagens no teclado. Mas será que funciona? O lado físico da coisa é dúbio: tente segurar um vibrador na virilha e um vibrador anal lá atrás, enquanto equilibra o Excitador de Mamilos nos seios e digita palavras tórridas para o seu amante. Confie em mim, é impossível.

3. MAIS FÁCIL PARA AS MULHERES - Naquela velha edição da "Future Sex", os editores tinham em mente o traje sexual do futuro composto de "um tecido de sensores, uma membrana que imita a pele humana, capaz de ser usada na genitália e de digitalizar e registrar toques eróticos e sexuais". No ano 2000, o traje cibervibrotrônico que temos à mão se compõe da Vagina Vibro-Realística e do Excitador de Mamilos. A Vagina Vibro-Realística, de acordo com as promessas da embalagem, é "uma réplica em tamanho natural e totalmente perfeita de uma vagina feminina". Nem em sonhos. O que temos realmente é um pedaço murcho de plástico macio, cor-de-carne, equipado com um buraco de lábios rosados no meio e, para completar o modelito, cachinhos horripilantes imitando pêlos púbicos. É um brinquedo sexual tão repulsivo que não consigo imaginar um homem que se respeite colocando de verdade seu pênis ali. Há também o RoboSuck, um cilindro plástico de ação a vácuo. ("Sempre pronto e sempre disposto, o RoboSuck une tecnologia moderna e fabricação artesanal para satisfazer a ancestral e permanente busca do homem por uma sucção poderosa.") Não conheço sequer um homem cuja idéia de diversão sexual seja enfiar o pênis em um aspirador de pó, mas quem sabe? Talvez exista. Em tom semelhante, temos o Excitador de Mamilos, uma espécie de bomba a vácuo para os seios. Os comandos enviados por seu parceiro fazem com que a coisa sugue mais forte ou mais gentilmente, pulsando de um jeito meio obsceno enquanto engole sua carne macia com aquela mandíbula plástica. Ao contrário do que diz a embalagem, essa não é uma sensação agradável. Temos o Vibro Mr. Jack (imagine a Vagina Vibro-Realística na forma de uma boca encimada por bigode) e, para quem prefere lábios femininos, o Jill Kelly Futurotic Lips. No kit da Digital Sexsations, um homem pode também prender um pequeno vibrador -grandiosamente chamado Le Bullette- diretamente no pênis. No geral, a cibervibrotrônica está mais adaptada às mulheres, já que a gama disponível de consolos e vibradores é bastante familiar e útil para muitas meninas modernas. Para os homens, há séria escassez de brinquedinhos eletrônicos tão eficientes quanto as palmas de suas mãos.

4. CIBERVIBROTRÔNICA NÃO É PARA CASAIS - Quem faz sexo real, de carne e osso, pelo menos algumas vezes por semana, não tem muito incentivo para experimentar a variedade virtual. Imagine conversar com seu marido (ou mulher, ou namorado ou amante) e sugerir a compra de kits cibervibrotrônicos para que vocês possam fazer amor on line. Casais dispostos a isso são muito raros. A SafeSexPlus parece conhecer perfeitamente o alvo de seus produtos: a cibervibrotrônica é para os solteiros que adoram computadores e fazem cibersexo há muito tempo, usando os dedos e os brinquedos tradicionais para se divertir com parceiros invisíveis, e que agora querem controle remoto para essa diversão. Na Internet Friends Network, você é encorajado a procurar por outros proprietários do kit cibervibrotrônico, abrir uma sala privada de chat e ir logo tirando a roupa (se você tiver uma Web cam, pode até transmitir o evento ao vivo). Ou pode assistir a uma "exibidora" -basicamente o equivalente na Internet a uma estrela pornô virtual, que cobra para bater papo incrementado por cibervibrotrônica.

5. HISTÓRIAS DE GOSTO DUVIDOSO - Além de fazer sexo on line com o seu namorado ou procurar um estranho em algum serviço de encontros virtuais, você também pode brincar sozinho. O SafeSexPlus oferece um modo "piloto automático", que variará aleatoriamente a intensidade da ação do brinquedo. Já a Digital Sexsations acopla contos eróticos on line (os "Buzz Books") aos seus brinquedos. Enquanto você lê, pode ir clicando em palavras que enviam sinais ao vibrador. A frase "e ela o girou, para a frente e para trás", por exemplo, gerou uma pulsação firme, mas suave, no Le Bullette; "sugou-o bem fundo" propiciou uma vibração mais forte; e "enterrou até onde conseguiu" fez com que meu pequeno dínamo de plástico verde pulsasse tão forte que eu mal conseguia segurá-lo. Mas as histórias são meio estranhas e não excitarão a todos. "Spiralling Desire", um dos contos da DigitalErotica.net disponíveis em formato "envenenado" na Digital Sexsations, fala de uma mulher sendo estuprada por um alienígena. Isso é erotismo ou terror?

6. ASSISTÊNCIA TÉCNICA PODE SER UM PROBLEMA - As alegrias do sexo virtual podem ser reduzidas a pó quando você liga para a assistência técnica da SafeSexPlus, por exemplo, depois de brigar com o software por uma hora sem entender por que não funciona o endereço IP personalizado que deveria permitir que seu parceiro acionasse o brinquedinho que você está usando, e o técnico só responde dois dias mais tarde. (Ele deixou uma mensagem em tom arrogante, comentando apenas: "Deveria funcionar, tente de novo!".)

7. CIBERSEXO NÃO É MUITO EXCITANTE - Há algo sobre essa confusão de fios, aparelhos, portas seriais e brinquedos horríveis que elimina o romance da cibervibrotrônica, e esse talvez seja o motivo pelo qual não consegui convencer meu parceiro, que usa um Mac, a pedir um PC emprestado para que pudéssemos testar os kits.
O mundo do sexo virtual por controle remoto não é sensível nem excitante.
A cibervibrotrônica não passa de masturbação auxiliada por máquinas, mais ou menos como o sexo virtual tradicional. Você vai continuar tentando digitar com uma das mãos e segurando o vibrador com a outra. A diferença é que a pessoa do outro lado pode controlar a intensidade da ação do brinquedo.
A cibervibrotrônica ainda se parece muito mais com fazer sexo com uma máquina do que com fazê-lo com um ser humano.
Mas esses produtos são a versão 1.0. Tudo indica que isso vai melhorar, que a indústria do sexo, tão criativa para inventar maneiras de excitar as pessoas, continuará tentando criar produtos de sexo virtual superiores.
Talvez a tecnologia avance até o ponto em que o sexo virtual seja tão satisfatório quanto o real. Se o fizer, trará novas questões quanto à natureza do sexo.


Tricia Baldwin é o pseudônimo de uma jornalista discreta.
Tradução de Paulo Migliacci.


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