São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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MÚSICA
"Violão Virtual" é feito para quem já toca e quer aprender a encadear acordes
CD ensina harmonia a violonista

EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos

Passada a euforia inicial provocada pela abundância de programas educativos musicais no mercado, a chegada de um CD-ROM como "Violão Virtual" -lançado pela MGB (0/xx/21/509-3434)- obriga o consumidor a fazer uma série de questionamentos.
Será que o produto é voltado para iniciantes? Será que eu vou melhorar a minha performance no instrumento com a ajuda do CD? Será que eu vou aprender a solar? A resposta para todas essas perguntas é não.
Esse CD é feito sob medida para o violonista que já tem algum domínio sobre o instrumento e que está interessado em aprender mais sobre harmonia, a arte de encadear acordes -três ou mais notas tocadas simultaneamente.
Ensinada de maneira teórica, a harmonia é um dos tópicos mais espinhosos do aprendizado, pois é o ponto em que música e matemática se encontram.
Isso se reflete até na representação gráfica dos acordes. No sistema adotado pelo "Violão Virtual" -e pela maioria das publicações similares-, um acorde de dó menor com sétima e nona é representado pela cifra Cm7/9.
A grande virtude do produto é fazer com que, mais do que aprender fórmulas de construção de acordes, o usuário conheça a sonoridade deles.

Irresponsabilidade criativa
Dependendo da sensibilidade de quem usa o CD, ficam nítidas as características tristes de um acorde em tom menor, a festividade de um em maior e a tensão de um acorde de quarta.
Pena que os timbres gerados pela placa de som Sound Blaster soem tão artificiais. Apesar do nome do produto, as sonoridades dele são muito mais próximas do piano do que do violão.
Mas esse não é o principal problema do "Violão Virtual". A preocupação com harmonia fez com que fosse posto de lado qualquer esforço para dar ao usuário noções mínimas e, em alguns casos, indispensáveis de ritmo.
Isso pode levar à descoberta de um acorde rico em sonoridade, mas sem saber se ele fica melhor numa batida sincopada de bossa nova ou sobre a rigidez militar de uma marcha.
Mas esse aspecto pode ter seu lado bom. Com um pouco de bom senso, o usuário corre o risco de inventar alguma maneira de dar uma vazão rítmica inusitada a determinado acorde.
Nesse caso, nem é bom saber demais sobre harmonia, pois deixam de existir as regras que limitam os donos de uma saudável irresponsabilidade criativa.
No frigir dos ovos, o "Violão Virtual" se insere naquela categoria de produtos que, em vez de entregar o peixe, fornecem o conhecimento necessário para pescá-lo.



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