São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 2002

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COMDEX

Leia teste exclusivo do Tablet PC, que aceita comandos na tela por meio de uma caneta; custo-benefício não convence

Computador portátil vira prancheta digital

BRUNO GARATTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Idealizado pela Microsoft, o computador portátil Tablet PC foi um dos principais destaques da feira Comdex, que aconteceu semana passada nos EUA. O aparelho, que será fabricado por várias empresas, tem duas variações. A versão "pura", que é uma prancheta digital, e a versão "híbrida", que é um laptop com tela sensível ao toque.
A Folha testou com exclusividade o modelo Acer TravelMate C100, que pertence à segunda categoria. À primeira vista, ele parece um laptop comum, mas seu diferencial logo fica evidente: a tela pode ser girada e encaixada, transformando o aparelho numa prancheta.
Apesar disso, o TravelMate é leve: pesa apenas 1,4 kg, 100 g a menos do que um tablet "puro" como o ViewSonic V1100 (www.viewsonic.com). Por outro lado, o aparelho esquenta bastante durante a operação, o que pode incomodar o usuário que o carregue como uma prancheta.
A tela de cristal líquido do portátil tem 10,4 polegadas e funciona com resolução de 1.024x768 pontos, mas sua qualidade deixa a desejar: a imagem parece lavada e desfocada, dificultando a leitura de textos. Pode-se contornar esse problema aumentando o brilho da tela, mas a providência reduz a autonomia das baterias, que cai de 2h25min para 2h10min.

Escrita digital
A má qualidade da imagem pode ser atribuída ao sistema de reconhecimento de toque: ao contrário das telas usadas nos micros de mão, que reagem à pressão, o visor do TravelMate usa a tecnologia EMR, que exige uma caneta magnética especial. Embora interfira com a resolução visual, o novo sistema facilita bastante a utilização do Tablet PC -como a tela só reage aos toques da caneta, é possível apoiar as mãos nela.
O TravelMate é fornecido com duas canetas: uma pequena, que pode ser guardada no corpo do aparelho, e outra maior, que traz um recurso bastante interessante -a borracha digital. Se o usuário estiver desenhando e quiser apagar alguma coisa da tela, basta esfregar a extremidade superior da caneta na tela, como se estivesse usando uma borracha comum.
Essa função torna o Tablet PC ideal para desenhistas: com o aparelho, torna-se possível trabalhar diretamente sobre a tela.

Software
O sistema operacional usado é o Windows XP Tablet, que traz alguns incrementos. Há um software para fazer anotações manuscritas, mas ele não chega a impressionar. Mais útil, o programa Windows Journal funciona como um caderno digital -pode-se escrever e desenhar em toda a tela.
O Journal reconhece a caligrafia do usuário e transforma suas anotações em arquivos de texto, mas esse recurso não funciona com o idioma português (a Microsoft afirma estar preparando uma atualização, mas não diz quando ela será lançada). O reconhecimento de escrita em inglês traz um avanço, mas é imperfeito: embora reconheça escrita cursiva -não é preciso grafar caracteres especiais como nos micros de mão-, comete erros frequentes.
O sistema cometeu quatro erros num teste com cem palavras em inglês. Para ter uma idéia do que isso significa, seriam quatro erros só nos dois primeiros parágrafos deste texto. Os resultados também dependem da caligrafia do usuário -os enganos chegaram a 13 no texto de cem palavras.
Quando o usuário faz suas anotações no Journal, elas são transformadas em e-mails que contém o texto reconhecido pelo sistema e uma reprodução gráfica da página manuscrita. A imagem é difícil de transmitir via rede: cada página tem até 577 Kbytes.
O sistema operacional também aceita comandos de voz em inglês, mas alguns usuários podem enfrentar problemas. O manual do TravelMate recomenda que se fale com "sotaque da CNN".

Componentes
O hardware do aparelho é considerável: chip Pentium III de 800 MHz, 256 Mbytes de memória RAM, disco rígido de 27,9 Gbytes (25,2 livres), entradas de modem e rede Ethernet e placa de rede sem fio embutida (padrão 802.11b). Também há duas portas USB e uma entrada Firewire, que pode ser usada na conexão de filmadoras digitais.
A utilização de filmadoras pode ser comprometida pelo disco rígido do TravelMate, que é relativamente lento: durante testes realizados com o programa Sandra 2003, alcançou performance média de apenas 9.000 Kbytes/s, inferior à obtida por discos de 4.200 RPM (rotações por minuto), comuns em micros de mesa antigos.
Apesar do processador de 800 MHz, o sistema se mostrou surpreendentemente moroso, enfrentando alguma dificuldade para executar programas simples, como o Internet Explorer.
Considerando o preço, que não é baixo (R$ 14.200; informações: www.metrocomm.com.br), e a falta de programas adaptados para o uso de caneta, o TravelMate se destaca mais como demonstração de tecnologia, pois sua relação custo-benefício é pouco convincente.


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