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COMPORTAMENTO
Saiba manter a classe ao rejeitar ou ser rejeitado no site; internautas sentem culpa ao renegar "amigos"
Especialistas dão dicas de "orkutiqueta"
LUÍS PEREZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Eis que em sua página no Orkut
você recebe um convite para se
tornar amigo de uma pessoa que
nem é assim tão chegada. É o caso
de recusar? Como fazê-lo? E
quando ocorre o inverso -alguém bate na sua cara a porta do
seu círculo de amizades virtual?
Especialistas em regras de convivência deram dicas de "orkutiqueta", explicando como se livrar
dessas "saias justas".
O Orkut (www.orkut.com) está
transformando os relacionamentos, assim como o e-mail e as salas
de bate-papo resgataram o hábito
da escrita e criaram novos códigos, mas ainda valem algumas regrinhas básicas do mundo real.
De acordo com a especialista
em etiqueta Claudia Matarazzo,
45, o nível de relacionamento para aceitar ser amigo orkutiano começa ao se definir que, caso aquela pessoa partilhe de sua amizade,
você não vai se sentir invadido.
"Ela não precisa ser necessariamente íntima, mas alguém que,
por exemplo, se precisasse passar
uma tarde ou uma noite em sua
casa, não o faria se sentir desconfortável", afirma a autora, entre
outros, do livro "net.com.classe".
Segundo ela, é preciso ter a impressão de que a convivência pode ser boa.
Supondo que ocorra um encontro com o "rejeitado" em algum
lugar e que, em tom irônico, ele
tente tirar satisfações por tê-lo eliminado da lista, sempre é possível, segundo Matarazzo, usar como desculpa que o grupo ao qual
você pertence não corresponde ao
que ele iria curtir. "Claro que não
vai colar, mas quem mandou a
pessoa cobrar? Ela deveria se
mancar e não cobrar nada."
Nem tudo, porém, precisa ser
adaptado do mundo real. "Essa é
a vantagem da internet. A vida
virtual deveria ter a vantagem de
nos proporcionar uma escolha
mais livre e descompromissada
das relações e das formalidades",
opina Gloria Kalil, 58, consultora
de moda e autora do livro "Chic".
Aconselha: "Relacione-se só com
quem você quiser".
Para ela, no entanto, o Orkut é
uma boa oportunidade de se livrar de preconceitos em relação a
algumas pessoas -já que há
campos para indicar preferência
por músicas, livros, filmes e culinária, por exemplo. "É uma oportunidade de conhecer melhor esses "conhecidos"."
Para as especialistas em etiqueta, o Orkut, assim como outras
ferramentas e situações da rede,
pode servir para que as pessoas
façam coisas que pessoalmente
não teriam coragem de fazer.
Em relação aos que afirmam
que o Orkut é uma "panelinha
virtual", pois só pode ingressar no
site quem é convidado por um
membro, Claudia Matarazzo tem
uma opinião que se estende à internet como um todo: "Essa conversa de que a rede é democrática
é pura bobagem. É tão segmentada e cheia de regras quanto o
mundo real".
Para saber a reação das pessoas
sobre rejeitar e serem rejeitadas, a
reportagem enviou (via Orkut, é
claro) pedidos para que os membros do site contassem histórias e
"saias justas" curiosas. Os que
responderam terão a sua identidade preservada.
"Tenho uma banda e muita
gente me cadastra porque tem um
disco nosso ou algo assim. Para
ser simpático, adiciono as pessoas
à minha lista. Não conheço todos", diz um músico.
Seguindo a linha "não levo o Orkut tão a sério", outro internauta
respondeu: "Sou um cavalheiro.
Logo há vários desconhecidos na
minha lista, que aceitei porque
pediram. Tanto faz".
Há quem passe por certos problemas existenciais. "Rejeito semanalmente umas dez pessoas.
Depois, sinto-me culpada", diz
uma freqüentadora da comunidade. Outra também confessa: "Já
aceitei uma menina que nunca vi
na frente por simples educação".
Como dica para pessoas que ficam com essa dúvida, Claudia
Matarazzo sugere pensar bem antes de rejeitar o candidato a "amigo". "Que tal esperar um tempo
antes de tomar a decisão? Ou então trate de se livrar de vez do sentimento de culpa."
Em tempo: quem é rejeitado
não fica sabendo. Simplesmente
tem o nome da pessoa que o preteriu eliminado da própria lista.
Uma das entrevistadas rejeitou
três vezes alguém que insistia em
cadastrá-la como amiga. Até que,
quando entrou em seu perfil (no
Orkut, há campos para preencher
preferências pessoais, dados profissionais e até álbum de fotos),
descobriu que era um velho colega de trabalho a quem só conhecia
por um apelido estranho.
Orkutiana há duas semanas, a
psicóloga Maria Emília Benévolo
Fernandes, 25, está encantada
com a possibilidade de achar amigos que não via desde a infância.
"Você acredita que encontrei
um menino que estudou comigo
na terceira série do primário,
quando tínhamos dez anos? Ele é
do Rio [onde ela nasceu] e também está morando aqui. Combinamos de nos encontrar", conta
Fernandes, que já rejeitou vários
candidatos a amigos que tentaram abordá-la simplesmente por
a acharem atraente nas fotos.
Uma publicitária que não quer
ser identificada diz ser muito seletiva. "Contei 34 pessoas que me
pediram autorização, mas, como
eu nunca as havia visto na vida,
não autorizei sua entrada. No
meu Orkut, só entra quem é amigo mesmo", sentencia.
Dizer sim ou não
Outra peculiaridade é que, no
Orkut, a amizade não acontece
naturalmente, aos poucos. Depende de um derradeiro clique de
aprovação -diferentemente do
que ocorre na vida real.
"Acho que não dá para dizer
não a um pedido de amizade. Sugiro que aceite o amigo e, depois,
se quiser, sempre há a opção de
não alimentar a amizade. Isso
acontece na vida real", diz Celia
Ribeiro, 75, escritora gaúcha,
também especialista em etiqueta.
A possibilidade de encontrar características em comum ajuda na
aproximação. "Procuro gente
com afinidades, que goste de jipes
e off-road e que seja da mesma
faixa etária", diz o comerciante
Fernando Krieger, 32.
Ele diz nunca ter sido rejeitado.
"Mas, se isso acontecesse, eu entenderia perfeitamente, pois o Orkut nos dá esse direito. É preciso
aprender a lidar com frustrações.
Além disso, nossas informações
pessoais e até a lista de amigos
acabam sendo uma espécie de
cartão de visitas."
"Orkut é coisa para gente quase
grande, que sabe dizer "não". Se
você não consegue, talvez seja
melhor ficar fora dessa para não
se enrolar", sentencia Claudia
Matarazzo. "A verdade é que a
gente age na vida virtual do mesmo modo que na real. Não conseguimos dizer "não" e depois ficamos atormentados, sem saber o
que fazer", rebate Gloria Kalil.
Ela sugere a quem gasta muito
tempo navegando pelo Orkut repleto de amigos com os quais
quase não interage no dia-a-dia:
"Escreva um lindo textinho explicando que vai se despedir deles,
pois não consegue tempo para se
comunicar com todos. Desculpas,
beijinhos e bye-bye".
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