São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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PARA ONDE VAI TUDO ISSO?

Mudanças de padrões tecnológicos tornam coleções de fotos, e-mails e documentos ilegíveis

Progresso dificulta acesso a dados digitais

KATIE HAFNER
DO "NEW YORK TIMES"

Nos Estados Unidos, 115 milhões de computadores domésticos estão transbordando de tesouros pessoais: milhões de fotografias, músicas de todos os gêneros, trabalhos acadêmicos, grandes romances americanos e, naturalmente, montanhas de e-mails.
Ninguém imaginou ainda uma forma de preservar esses materiais eletrônicos para a próxima década e muito menos para os próximos séculos. Assim como os e-mails indesejados, o problema do arquivamento digital, que parece ser de simples solução, confunde até mesmo os especialistas.
""Salvar um arquivo digital por, digamos, cem anos vai exigir muito trabalho", disse Peter Hite, presidente da Media Management Services, uma empresa de consultoria em Houston. ""Por outro lado, tirar uma fotografia tradicional e apenas colocá-la em uma caixa de sapatos não dá nenhum trabalho." Metade de todas as fotografias já é obtida por meio de câmeras digitais, e a maior parte das imagens nunca sai dos discos rígidos dos computadores pessoais.
O desafio da preservação digital em geral é tão terrível e complexo que a Biblioteca do Congresso dos EUA passou os últimos anos formando comissões e emitindo relatórios sobre o preparo da nação para a preservação digital.
Jim Gallagher, diretor de serviços de tecnologia da informação da Biblioteca do Congresso, disse que a biblioteca, diante de "um dilúvio de informações digitais", embarcou em um projeto multianual e multimilionário, de olho na criação de padrões uniformizados para preservação de material digital, de forma que esse material possa ser lido no futuro, não importando qual equipamento ou software que esteja sendo usado. Presume-se que as máquinas e os formatos de software em uso atualmente vão se tornar obsoletos mais cedo do que tarde.
""Sob todos os aspectos, é um problema global para os maiores governos, para as maiores corporações e mesmo para as pessoas", disse Ken Thibodeau, diretor de arquivos de registros eletrônicos na Administração Nacional de Arquivos e Registros.
Enquanto isso, os proprietários de computadores pessoais se debatem na esfera privada. Gavetas de escrivaninhas e armários estão cheios de computadores obsoletos, pilhas de discos Zip e disquetes de 3,5 polegadas e até de discos removíveis de 5,25 polegadas dos anos 1980. Sem apresentar uma solução clara, os especialistas recomendam que as pessoas copiem seu material, esteja ele em vinil, filme ou papel, para CDs e outros formatos de backup.

Ponto fraco
Mas os mecanismos de backup também podem perder sua integridade. Fitas magnéticas, CDs e discos rígidos estão longe de serem robustos. O tempo de vida dos dados em um CD gravado em um gravador caseiro, por exemplo, pode ser de só cinco anos, se ele for exposto a graus extremos de umidade ou temperatura.
E, se um CD for arranhado, disse Hite, ele pode se tornar inútil. Diferentemente, diz ele, de dados esmaecidos, porém legíveis, impressos em papel, o momento em que um arquivo digital se torna corrompido ou começa a se degradar é indecifrável.
"Estamos acumulando informações digitais mais rápido do que podemos manuseá-las, e mudando para novas plataformas mais rápido do que podemos controlá-las", disse Jeffrey Rutenbeck, diretor do Programa de Estudos de Mídia da Universidade de Denver.

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