São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2000


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FILHOS
A classe média gasta 30% da renda para criar dois filhos até os 17 anos; na faculdade, os custos dobram

Eles são lindos, mas custam muito caro



Rossana Lana/Folha Imagem
O agente de viagens Murilo Cimatti Calasans gasta cerca de R$ 700, mensalmente, com cada um de seus filhos, Mariana e Pedro


ISABEL CAMPOS

EDITORA-ADJUNTA DO FOLHAINVEST



Se você ainda não tem filhos, saiba, antes de continuar a leitura, que o nosso objetivo não é desencorajar ninguém de seus planos de constituir uma família. Como você verá, os filhos são hoje um investimento muito caro, mas, como diria qualquer pai ou mãe, não há dinheiro que compense o sorriso ou o afago de uma criança.
A realidade é que quem quer dar o mínimo de conforto aos filhos e uma boa educação não pode ignorar que isso está custando muito caro e que é preciso planejar e poupar, principalmente para o período de estudos universitários, quando surgem gastos extras, como automóvel.
Com base no trabalho prestado por sua empresa de consultoria, Marcos Silvestre, economista-chefe do Forex Centro Brasileiro de Orientação de Finanças Pessoais, afirma que hoje uma família de classe média, com renda líquida mensal de R$ 5.000, com dois filhos, está gastando cerca de R$ 750 ao mês com cada um deles, do nascimento até os 17 anos (leia tabela ao lado). Ou seja, R$ 9.000 ao ano ou R$ 153 mil durante esse período.
Mas o pior vem depois. Segundo Silvestre, entre os 17 e 22 anos, o custo de um filho universitário para uma família de classe média pula para R$ 1.500 ao mês, o que soma R$ 18 mil ao ano e R$ 90 mil em cinco anos.
"Se, durante 22 anos, esse dinheiro fosse colocado em um investimento conservador que rendesse 0,5% ao mês, ao final do período o pai teria cerca de R$ 500 mil. No caso de dois filhos, R$ 1 milhão", compara Silvestre.
Vale ressaltar que os dados do Forex são valores médios que variam conforme a idade da criança e o perfil da família. "Numa família de classe média alta, esses números podem dobrar."
Silvestre observa também que hoje em dia não há, como no passado, muita diferença de custos entre criar uma criança e um adolescente. Tanto um como o outro têm vida social e atividades extras intensas. Mesmo quando bebês, os gastos são similares, pois muitas vezes a mãe trabalha fora e precisa pagar um berçário ou babá. "Até os 17 anos, os gastos entre uma fase e outra não oscilam mais de 20% para baixo ou para cima."
O quadro só muda realmente quando o jovem entra na faculdade. "O pai e a mãe ficam a pão e água nessa fase", brinca Silvestre. Paternalistas, diz, os pais brasileiros não querem que os filhos trabalhem nessa idade e, quando fazem um estágio, não precisam participar do orçamento.
É uma fase complicada, pois na cesta de custos surgem itens mais caros, como carro, celular e vida social mais dispendiosa. Isso sem falar na possibilidade de o filho escolher um curso como medicina, que, dependendo da faculdade, é muito mais caro do que outros, como administração.

Padrão americano
Segundo dados de um estudo do Departamento de Agricultura dos EUA, publicado no jornal "The New York Times", uma família da classe média americana, com renda anual na faixa dos US$ 61,9 mil (R$ 111 mil), gasta cerca de US$ 290 mil (R$ 521,4 mil) para criar um filho até os 17 anos.
No Brasil, não existem estatísticas oficiais atualizadas sobre o assunto, mas basta pedir para quem já é pai ou mãe somar os gastos com os filhos para levar um susto.
O advogado Marcos Lopes Rocha, 35, e sua mulher, a comerciante Rosane, de Lorena (SP), pais de Carolina, 6, e padrasto de João Antônio, 12, gastam com cada um de R$ 450 a R$ 480 por mês. Esses valores incluem todos os gastos das crianças, como escola, lazer, vestuário, saúde, brinquedos e alimentação.
O agente de viagens Murilo Cimatti Calasans, 35, de São Paulo, pai de Pedro, 5, e de Mariana, 3, já desistiu do terceiro filho. "Adoraria ter mais um, mas é muito caro." Com cada uma das crianças, ele e sua mulher, Thaïs, 35, que é sua sócia, gastam cerca de R$ 700 ao mês.
É natação e inglês de um lado, festinha e roupa de outro, e o dinheiro vai embora. Mas tanto para Rocha como para Calasans, o item mais caro no orçamento das crianças é escola, que consome cerca de 50%. "Infelizmente, com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, não há a menor condição de colocarmos um filho em um colégio público", diz Rocha.
O fato é que para não passar aperto nem ter de ver frustrado o sonho de um filho de se tornar um médico, o ideal é que os pais comecem o quanto antes a montar uma reserva para garantir os custos à medida que eles crescem. Se você ainda não os tem, melhor ainda. Comece já. Os filhos, além de lhe trazerem muitas alegrias, não vão pesar no seu bolso.


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