|
Próximo Texto | Índice
FILHOS
A classe média gasta 30% da renda para criar dois filhos até os 17 anos; na faculdade, os custos dobram
Eles são lindos, mas custam muito caro
Rossana Lana/Folha Imagem
|
O agente de viagens Murilo Cimatti Calasans gasta cerca de R$ 700, mensalmente, com cada um de seus filhos, Mariana e Pedro |
ISABEL CAMPOS
EDITORA-ADJUNTA DO FOLHAINVEST
Se você ainda não tem filhos,
saiba, antes de continuar a leitura,
que o nosso objetivo não é desencorajar ninguém de seus planos
de constituir uma família. Como
você verá, os filhos são hoje um
investimento muito caro, mas,
como diria qualquer pai ou mãe,
não há dinheiro que compense o
sorriso ou o afago de uma criança.
A realidade é que quem quer
dar o mínimo de conforto aos filhos e uma boa educação não pode ignorar que isso está custando
muito caro e que é preciso planejar e poupar, principalmente para
o período de estudos universitários, quando surgem gastos extras, como automóvel.
Com base no trabalho prestado
por sua empresa de consultoria,
Marcos Silvestre, economista-chefe do Forex Centro Brasileiro
de Orientação de Finanças Pessoais, afirma que hoje uma família
de classe média, com renda líquida mensal de R$ 5.000, com dois
filhos, está gastando cerca de R$
750 ao mês com cada um deles, do
nascimento até os 17 anos (leia tabela ao lado). Ou seja, R$ 9.000 ao
ano ou R$ 153 mil durante esse
período.
Mas o pior vem depois. Segundo Silvestre, entre os 17 e 22 anos,
o custo de um filho universitário
para uma família de classe média
pula para R$ 1.500 ao mês, o que
soma R$ 18 mil ao ano e R$ 90 mil
em cinco anos.
"Se, durante 22 anos, esse dinheiro fosse colocado em um investimento conservador que rendesse 0,5% ao mês, ao final do período o pai teria cerca de R$ 500
mil. No caso de dois filhos, R$ 1
milhão", compara Silvestre.
Vale ressaltar que os dados do
Forex são valores médios que variam conforme a idade da criança
e o perfil da família. "Numa família de classe média alta, esses números podem dobrar."
Silvestre observa também que
hoje em dia não há, como no passado, muita diferença de custos
entre criar uma criança e um adolescente. Tanto um como o outro
têm vida social e atividades extras
intensas. Mesmo quando bebês,
os gastos são similares, pois muitas vezes a mãe trabalha fora e
precisa pagar um berçário ou babá. "Até os 17 anos, os gastos entre
uma fase e outra não oscilam mais
de 20% para baixo ou para cima."
O quadro só muda realmente
quando o jovem entra na faculdade. "O pai e a mãe ficam a pão e
água nessa fase", brinca Silvestre.
Paternalistas, diz, os pais brasileiros não querem que os filhos trabalhem nessa idade e, quando fazem um estágio, não precisam
participar do orçamento.
É uma fase complicada, pois na
cesta de custos surgem itens mais
caros, como carro, celular e vida
social mais dispendiosa. Isso sem
falar na possibilidade de o filho
escolher um curso como medicina, que, dependendo da faculdade, é muito mais caro do que outros, como administração.
Padrão americano
Segundo dados de um estudo
do Departamento de Agricultura
dos EUA, publicado no jornal
"The New York Times", uma família da classe média americana,
com renda anual na faixa dos US$
61,9 mil (R$ 111 mil), gasta cerca
de US$ 290 mil (R$ 521,4 mil) para
criar um filho até os 17 anos.
No Brasil, não existem estatísticas oficiais atualizadas sobre o assunto, mas basta pedir para quem
já é pai ou mãe somar os gastos
com os filhos para levar um susto.
O advogado Marcos Lopes Rocha, 35, e sua mulher, a comerciante Rosane, de Lorena (SP),
pais de Carolina, 6, e padrasto de
João Antônio, 12, gastam com cada um de R$ 450 a R$ 480 por
mês. Esses valores incluem todos
os gastos das crianças, como escola, lazer, vestuário, saúde, brinquedos e alimentação.
O agente de viagens Murilo Cimatti Calasans, 35, de São Paulo,
pai de Pedro, 5, e de Mariana, 3, já
desistiu do terceiro filho. "Adoraria ter mais um, mas é muito caro." Com cada uma das crianças,
ele e sua mulher, Thaïs, 35, que é
sua sócia, gastam cerca de R$ 700
ao mês.
É natação e inglês de um lado,
festinha e roupa de outro, e o dinheiro vai embora. Mas tanto para Rocha como para Calasans, o
item mais caro no orçamento das
crianças é escola, que consome
cerca de 50%. "Infelizmente, com
o mercado de trabalho cada vez
mais competitivo, não há a menor
condição de colocarmos um filho
em um colégio público", diz Rocha.
O fato é que para não passar
aperto nem ter de ver frustrado o
sonho de um filho de se tornar um
médico, o ideal é que os pais comecem o quanto antes a montar
uma reserva para garantir os custos à medida que eles crescem. Se
você ainda não os tem, melhor
ainda. Comece já. Os filhos, além
de lhe trazerem muitas alegrias,
não vão pesar no seu bolso.
Próximo Texto: Frase Índice
|