São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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ORÇAMENTO DOMÉSTICO

Preços em alta, renda menor e risco de desemprego farão sobrar mais mês no final do salário

Planeje-se; o dinheiro está mais curto

ISABEL CAMPOS
EDITORA-ADJUNTA DO FOLHAINVEST

Você já parou para pensar que, nos próximos quatro meses, vão chover despesas extras no orçamento da sua família e que o clima natalino, neste final de ano, será bem diferente do de 2000?
Os extras começam nesta sexta-feira com o Dia das Crianças, passam pelos presentes de Natal, Réveillon, férias, IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) até chegarem ao material e uniforme escolar. Pouca gente sabe que os picos de inadimplência no país acontecem nos meses de março e abril por causa das dívidas contraídas para pagar essas despesas.
A questão é que, neste final de ano, além de olhar os extras tradicionais, as pessoas também devem abrir o olho para o turbulento cenário econômico, que inclui risco crescente de desemprego, arrocho salarial e alguns aumentos de preço.
Quem está em época de dissídio coletivo ou chegando perto não deve contar com correção salarial igual à do ano passado. "Em 2000, as condições econômicas eram outras. A maioria das categorias conseguiu zerar as perdas decorrentes da inflação ou ter aumento real. A conjuntura, agora, é bem diferente", diz Wilson Amorim, coordenador técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos). "Em períodos de retração e aumento de desemprego, fica difícil negociar salário", explica Alberto Borges Matias, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP de Ribeirão Preto.
"Historicamente, no segundo semestre, a taxa de desemprego cai e a de agosto é menor que a de julho. Não estamos seguindo esse padrão", diz Amorim. Em julho, a taxa na Grande São Paulo foi de 17,3%; em agosto, 17,7%.
Em razão da crise, a tendência é que as negociações salariais passem a privilegiar a manutenção do emprego em vez de aumentos salariais. Ricardo Humberto Rocha, professor do Labfin (Laboratório de Finanças da USP), diz acreditar que os acordos coletivos que estão para sair deverão girar em torno de aumentos de 5%. De acordo com projeções do governo federal divulgadas na semana passada, o brasileiro terá um ganho real sobre sua renda próximo de zero neste ano.
Na ponta do custo de vida, a inflação está sob controle. Dependendo do índice, talvez feche o ano, no máximo, em 7,5%, diz Matias. Porém, se considerarmos que a inflação talvez não seja reposta nos salários e que há gastos, principalmente na classe média, que não aparecem na coleta de preços dos índices de inflação, a situação é de empobrecimento.
As escolas e universidades, neste mês, começam a enviar os boletos de reserva de matrícula para 2002. Segundo João Paulo Nogueira, diretor da CNA, empresa especializada em consultoria administrativa e financeira para escolas, cada colégio está adotando um critério de reajuste para 2002, mas a maioria pretende elevar a anuidade entre 8% e 10%. "Escolas de cursos extras, como inglês e natação, também deverão reajustar seus preços", afirma Rocha.
As férias deste verão vão custar bem mais do que as do anterior. Neste mês, algumas companhias aéreas elevaram suas tarifas em cerca de 3%. No acumulado do ano, o aumento já chega a 30%.
Planejar a vida financeira, dizem os consultores, é fundamental em qualquer época. Mas, num cenário de retração econômica, como o atual, torna-se uma questão de sobrevivência, um caminho para não entrar nas estatísticas de inadimplência. Segundo a Serasa, de janeiro a setembro, foram protestados 2,3 milhões de títulos de pessoas físicas. Esse número é 86,4% superior ao registrado no mesmo período de 2000.
Outra recomendação é incluir no planejamento um percentual a ser poupado todo mês, para montar um fundo de emergência. Caso esteja difícil guardar dinheiro, no quadro acima, há algumas dicas de como cortar despesas.
"O brasileiro conseguiu economizar 20% de energia elétrica. Quando as pessoas querem, elas conseguem poupar. Basta ter um pouco de disciplina", diz Fábio Colombo, diretor da consultoria Money Maker.


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