São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2000 |
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Conservador ou moderado?
Testes de perfil de bancos e corretoras têm a precisão dos horóscopos e, muitas vezes, confundem investidor PAULA DE SANTIS DA REPORTAGEM LOCAL O engenheiro civil Guilherme Marangoni, 27, não faz a menor idéia do que é um fundo cambial. Mas ficou curioso depois de responder ao questionário do banco Itaú, preparado para identificar o perfil dos investidores. Apesar de classificá-lo como conservador, o Itaú recomendou que aplicasse parte de seu dinheiro em um fundo cambial, normalmente indicado para proteger investidores com dívida em dólar ou para quem tem forte crença de que o real vai se desvalorizar. Ao preencher teste semelhante, elaborado pelo banco HSBC, Marangoni recebeu o rótulo de investidor defensivo. Nesse caso, as aplicações indicadas foram poupança, CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e fundos DI. Na última tentativa de obter orientação para investir R$ 5.000 por prazo inferior a um ano, Marangoni, sem alterar nenhum dado de suas respostas, preencheu o questionário do site da corretora Souza Barros. Foi para o grupo dos moderados. O melhor para seu dinheiro, desta vez, é uma mistura de fundos de renda fixa com fundos de ações e, até mesmo, uma carteira setorial, que compra apenas ações de empresas energéticas. Marangoni ficou confuso. Não sabe em que categoria de investidor se encaixa e, pior, o que fazer com seu dinheiro. Essa simulação, proposta pelo Folhainvest, mostra que os testes desenvolvidos por bancos e corretoras para orientar as aplicações de seus clientes têm a mesma precisão dos horóscopos. Uma mesma pessoa pode pular de um perfil de investidor a outro sem alterar nenhuma de suas características. Basta mudarem as perguntas. O diretor-gerente da Souza Barros, Eduardo Fonseca, admite que o teste é genérico. "Serve apenas para dar uma pista. É preciso fazer ajustes nas recomendações", diz. Para ele, a participação do pesquisador influi no resultado. "Se a instituição que elabora o teste tem perfil agressivo, seus conceitos serão diferentes e o resultado mudará", diz. Essa é a razão, segundo Fonseca, pela qual os bancos de varejo tendem a recomendar produtos conservadores. "Eles têm a maior parte de seu portfólio fora do mercado de risco." Além disso, ao recomendar investimentos arrojados, os bancos de varejo podem estar, ao mesmo tempo, ameaçando um relacionamento mais profundo, que envolve conta corrente, cartão de crédito, empréstimo pessoal, seguros etc. A insatisfação do cliente com o retorno da aplicação pode significar o divórcio com a instituição. "Na dúvida, somos conservadores na sugestão", diz Rudney Barbosa, gerente de varejo e serviços do Banco do Brasil. "É o dinheiro do cliente que está em jogo, e somos responsáveis por ele", diz. Moacyr Castanho, superintendente de fundos de investimento do banco Itaú, discorda. Para ele, se o cliente não se importar com o risco, não há por que não recomendar um investimento desse tipo. "Se houver transparência, as reclamações não farão sentido." Segundo ele, os fundos cambiais combinam com clientes conservadores porque são considerados uma forma de proteção, não um investimento puro. "Quem tiver de parcelar o pagamento de uma viagem ao exterior ou comprou um carro em dólar, pode precisar." As explicações constam do site da instituição. Antes de definir seu perfil e escolher suas aplicações, é importante conhecer o mercado financeiro. O Folhainvest sugere o questionário ao lado, que continua na página F3, para testar conhecimentos básicos. Próximo Texto: Mercado de capitais: Mercado ficará atento à taxa de juros Índice |
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