São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2000


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Como realocar suas aplicações para evitar perdas com a queda da Selic e aumento da inflação

Seu dinheiro em tempos de juro baixo

SANDRA BALBI
EDITORA DO FOLHAINVEST

PAULA DE SANTIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você aplica em fundos DI, a modalidade mais conservadora do mercado, ponha as barbas de molho. Neste mês e no próximo, o ganho real desses fundos pode ser negativo, e a tendência, até o final do ano, é de rendimentos bem menores do que os do primeiro semestre. "A rentabilidade da poupança também deverá diminuir, pois a TR vai encolher", diz Renato Ramos, diretor de renda fixa da HSBC Asset Management



O que vai morder o seu dinheiro são os juros mais baixos depois da redução da Selic, a taxa básica da economia, para 16,5% ao ano, e uma taxa de inflação maior em julho e agosto, entre 1% e 1,30%, prevista pelos analistas. "A inflação vai ser um pouco maior nesses meses, e com os juros caindo você vai ter rentabilidade negativa. Mas não movimente seu dinheiro por conta disso", alerta Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Os analistas ouvidos pela Folha são unânimes em afirmar que ganhos reais negativos num curto período de tempo não interferem em nada nas suas recomendações de investimentos. "O investidor não deve se preocupar com pequenas pressões inflacionárias localizadas. A inflação só interfere nos investimentos se houver uma elevação significativa da taxa anual", diz Hugo Penteado, economista-chefe e estrategista da ABN-Amro Asset Management.
No entanto, segundo esses analistas, a tendência de queda dos juros é irreversível. "Ganhos reais de 25% ao ano, como ocorria em junho do ano passado, nunca mais", diz acreditar Penteado.
Nos últimos cinco anos os investidores acostumaram-se aos polpudos ganhos da renda fixa - a taxa acumulada do CDI entre agosto de 95 e junho deste ano foi 221,48%. Se o investidor da renda fixa pode embolsar boa parte desses juros, na outra ponta do mercado pagou taxas escorchantes para comprar um carro, uma geladeira ou financiar-se no cartão de crédito e no cheque especial.
O juro acumulado cobrado no comércio, por exemplo, naquele período, totaliza 22.146,17%. "O custo do dinheiro no Brasil é muito alto pois há pouca oferta de crédito", diz Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Segundo ele, as instituições financeiras preferem emprestar para o governo, aproveitando-se dos juros altos. "Só com uma taxa básica inferior a 15% ao ano os empréstimos ao governo ficarão menos interessantes e poderá haver canalização de dinheiro para o crédito", diz acreditar. "Aí, então, os juros cobrados do consumidor poderão cair mais", acrescenta.
O juro no crediário, que em junho estava em 7,40% ao mês, deve cair agora para 7,36%, segundo ele.

Projeção
Os analistas acreditam que não está longe o dia em que a taxa básica de juro da economia chegará ao patamar de 15%. Segundo Simino, a taxa Selic deverá chegar a 15,5% até o final do ano. Outros analistas, como Penteado, projetam uma taxa de 15% ao ano para dezembro. "Há espaço para novas reduções dos juros", diz Penteado. E é com esse movimento futuro que o investidor deve se preocupar e começar, desde já, a pensar em realocar suas aplicações.
Ramos, da HSBC Asset Management, projeta uma taxa média de juros de 14% em 2001 e inflação de 4% ao ano. "Descontados o Imposto de Renda, a taxa de administração do fundo e a inflação, o investidor de um fundo DI vai embolsar um ganho líquido anual de 6% no próximo ano", diz Ramos.
Além disso, o investidor poderá tomar outros sustos com rentabilidades negativas como as previstas para este mês e o de agosto. Como a inflação não é linear, pois está sujeita a picos ocasionais, taxas de rentabilidade reais negativas tendem a ser mais frequentes com os juros baixos.
Por isso, os analistas recomendam que os investidores, especialmente os mais conservadores que ficaram ancorados nos fundos de renda fixa e DI, nos últimos anos, comecem a planejar uma migração organizada para outras aplicações. "O investidor que quiser manter um nível de rentabilidade próximo ao que tinha no passado terá de fazer aplicações de maior risco", diz Simino.

Diversificação
A palavra de ordem dos analistas de investimento, neste momento, é diversificação cautelosa. Com isso, eles querem evitar uma corrida da renda fixa para a renda variável, como ocorreu em novembro do ano passado, quando os fundos DI tiveram rentabilidade negativa e a Bolsa sinalizava uma alta nas cotações.
Segundo Roberto Parenti, diretor do Bradesco, naquela ocasião muitos clientes saíram da renda fixa para fundos de ações. "Não valeu a pena, pois a Bolsa não teve o desempenho esperado no primeiro semestre", diz ele.
Ramos, da HSBC Asset Management, alerta o investidor a não analisar só o curto prazo. Como a tendência é as aplicações de renda fixa oferecerem ganhos reais bem menores, ele recomenda "ver se não vale a pena pôr o dinheiro de longo prazo em outras aplicações de maior risco."
O mercado, dizem os analistas, oferece múltiplas opções de fundos de investimento (leia "dicas" acima). "O mundo não começa e termina no fundo DI", diz Simino. Segundo ele, a Bolsa poderá subir cerca de 18% a partir deste mês até dezembro.
Mas, se você não tem estômago para grandes oscilações, vá devagar. "Os próximos 60 dias ainda serão de grande volatilidade nos pregões." Por isso os analistas recomendam uma recomposição gradual de sua carteira.


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