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PERFIL
Luís Stuhlberger, da Hedging-Griffo, administra um fundo cujo patrimônio dobrou em sete meses
"Ganho apostando contra o consenso"
MARA LUQUET
Editora do Folhainvest
ODETE PACHECO
Editora-adjunta do Folhainvest
Se você tivesse aplicado R$ 10
mil em janeiro deste ano em cotas
do fundo Hedging-Griffo Verde,
administrado pela Hedging-Griffo, teria hoje, menos de sete meses
depois, o dobro do dinheiro em
suas mãos - R$ 20,2 mil.
O histórico dessa carteira, que
nasceu em janeiro de 97, exibe um
retorno médio mensal de 4,47%.
Observe que esse foi um período,
no mundo inteiro, de crises sucessivas. Quer saber por que essa carteira rendeu tanto?
A resposta é que seu gestor, Luis
Stuhlberger, um dos sócios da
Hedging-Griffo, se arrisca a perder dinheiro, desde que seja pouco, aproveitando as oportunidades de fazer grandes negócios.
Descubra, nessa entrevista, seu
estilo de gestão. Trata-se da primeira reportagem, de uma série
que a Folha estará publicando,
para mostrar como os mais diferentes estilos de gestão podem
produzir bons resultados.
Folha - Na sua trajetória profissional, há outra carteira que
tenha oferecido ganhos tão altos como os do Verde?
Luis Stuhlberger - Não.
Folha - Foi seu melhor momento?
Stuhlberger - Como gestor,
sim. Mas há outros também interessantes, como em 94, quando
criamos, em parceria com a Linear, o primeiro "hedge fund" do
Brasil. Não é só o dinheiro ou a
performance que importam.
Criar alguma coisa, fazer, de certa
forma, parte da história, é importante.
Folha - Como você entrou no
mercado financeiro?
Stuhlberger - Quando comecei
a trabalhar no mercado de ouro,
em 81. Foi o primeiro ano em que
o ouro foi reconhecido como ativo financeiro.
Folha - Como você operava?
Stuhlberger -Era um estrategista, fazia arbitragens (operações
que buscam ganhos com a diferença de preço de determinado
ativo em diferentes mercados).
Nunca fiz um "trading direcional" (operações curtas que pressupõem uma direção específica
do mercado, de alta ou de baixa).
Parti da hipótese de que o mercado tinha tantas imperfeições que,
sem arriscar quase nada, oferecia
excelentes oportunidades de ganhar dinheiro.
Quando você vai para a asset
(empresa de administração de
carteiras) leva esse estilo para
outros mercados?
Stuhlberger - Sim. O estilo da
minha administração é arbitrar
imperfeições, se houver. De uns
tempos para cá, isso está infinitamente mais difícil.
Folha - Para arbitrar imperfeições, você utiliza muito derivativos (mercados futuros e de opções)?
Stuhlberger - Sim. As imperfeições estão nos mercados futuros e
de opções.
Folha - Os ganhos do fundo
Verde estão nas arbitragens?
Stuhlberger - Meu estilo de
operar é arbitrar imperfeições e
buscar opções que tenham um alto potencial de retorno, com baixo risco. Opções que você tenha
muito pouco a perder e muito a
ganhar. Muitas vezes, perde-se
muito pouco por muito tempo.
Isso não importa. Os valores são
pequenos e, de repente, se você
consegue acertar, o ganho compensa as perdas.
Folha - O lucro do Verde veio
do câmbio?
Stuhlberger - Sim. Compramos
em dezembro e no começo de janeiro. Quer dizer, a gente fez a posição muito antes dos dias fatídicos.
Vocês pegaram toda a alta?
Stuhlberger - Não, uma parte.
Fomos até R$ 1,80 mais ou menos.
Folha - Foi a primeira vez que
você comprou câmbio?
Stuhlberger - Não. Já tinha entrado no mercado em agosto, em
setembro e em outubro. Em cada
uma dessas posições, perdemos
um pouco.
Folha - Como é que você vê as
oportunidades?
Stuhlberger -As oportunidades
são assim: hoje há um consenso
no mercado. Todo mundo pensa
da mesma forma a respeito de um
certo mercado. Aí faço a pergunta: esse consenso está na direção
certa ou errada? Se estiver na direção certa, fico quieto, se achar que
não, identifico a oportunidade.
Nelson Rodrigues dizia que toda a
unanimidade é burra, mas não é
bem burra. O mercado, às vezes,
tem razão; outras vezes, não. O
desafio é identificar a oportunidade: apostar contra o consenso e
acertar. Apostar contra o consenso, em geral, é barato.
Folha - Dê um exemplo.
Stuhlberger - Quando a Bolsa
de Valores, na crise da Rússia,
caiu, as ações do Pão de Açúcar
estavam cotadas a R$ 10; hoje, valem R$ 39. Naquela época, pensei:
alguém está detonando esse papel
para bater R$ 10. Vou comprar.
Quando tem uma crise na Bolsa,
caem os papéis bons, os médios e
os ruins. Os bons não deveriam
cair tanto. Então surge muita qualidade a preços baixos.
Folha - Você investiu contra o
consenso recentemente?
Stuhlberger - Há alguns meses,
havia um consenso de que o câmbio ficaria em R$ 1,75. Eu achava
que superaria os R$ 2. Então, estava barato para comprar, porque,
mesmo que não subisse, eu tinha
pouco a perder.
Folha - Quer dizer que você
ganhou dinheiro?
Stuhlberger - Não, não ganhei.
Na verdade, tentei uma arbitragem com contratos de opções de
dólar (contratos negociados na
Bolsa de Mercadorias e Futuros).
Comprei umas opções, mas, na
hora de vender, perdi o momento. Deixei para vender na sexta-feira à tarde e o Banco Central fez
o leilão (de venda de papéis cambiais, que empurrou para baixo a
cotação do dólar). Mas é assim
mesmo, a vida não é só feita de vitórias.
Folha - Por que você não vendeu na sexta?
Stuhlberger - Achei que o dólar
subiria um pouco mais. Na verdade, nunca imaginei que o Banco
Central faria um leilão naquele
dia. Achava que as revistas de final de semana seriam favoráveis
ao governo, no sentido de denunciar os deputados ruralistas que
estão legislando em causa própria, e haveria, então, uma deterioração dessa força contrária.
Folha - O conceito é o de perder pouco sempre?
Stuhlberger - Perder muito
pouco e operar com sua cabeça
disciplinada para nunca colocar
seu patrimônio em risco, mesmo
que, de cinco eu ganhe um, o importante é não perder muito.
Folha - Neste momento, qual é
o consenso do mercado?
Stuhlberger - Não há consenso.
Nessas épocas, fico fora.
Folha - Quanto tempo você
passa por dia nas mesas de operações?
Stuhlberger - Varia. Houve
uma época, entre 96 e 97, antes da
crise da Coréia, em que não havia
muito o que fazer. Então, você
passa o tempo fazendo outras coisas. É um tédio.
Folha - Ninguém trabalha?
Stuhlberger - Analistas de
ações, de fundos, de mercados futuros seguem na sua rotina. A
compra de títulos públicos e privados continua. Mas eu, na minha especialidade, fico sem ter o
que fazer.
Folha - Você trabalha apenas
nos momentos nervosos?
Stuhlberger - Não. Às vezes, é
nos momentos mais calmos que
tenho chance de comprar uma
coisa barata, para vender e ganhar
num momento nervoso; outras
vezes, quando você chega num
momento nervoso, já é tarde.
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