São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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RISCO TOTAL
Cotistas do Boavista perderam dinheiro por desconhecer as regras dos fundos
Tiro no escuro pode atingir o atirador

da Reportagem Local

Você concentraria as economias de uma vida inteira em fundos de alto risco? Pois o engenheiro aposentado e ex-presidente de uma grande empresa nacional, Benedito Costa, 68, fez isso. Perdeu R$ 800 mil; todas as suas economias.
Você aplicaria todo seu dinheiro em um fundo onde seu capital pode virar pó da noite para o dia? O administrador, com MBA (Master in Business Administration) em finanças, Roberto Martins, aplicou. Perdeu tudo: R$ 270 mil .
Você entregaria R$ 500 mil para seu gerente aplicar em fundos sem assinar nenhum contrato que especificasse o grau de risco a que seu dinheiro está exposto? O economista Eduardo Pamplona, 33, operador de um grande banco, entregou. Perdeu toda a bolada.
Você aplicaria em fundos de um banco que não orienta direito os clientes? O engenheiro Pedro Gonzalez, 46, reclamou ao Folhainvest do atendimento do Boavista ao investidor, em setembro do ano passado. Mas manteve seu dinheiro em três fundos derivativos do banco. Perdeu R$ 62.000.
A lista de investidores que confiaram no banco Boavista e aplicaram nos fundos Hedge 60, que quebrou, no Master 60 e no Derivativos 60, que sofreram pesadas perdas, é interminável.
O que une toda essa gente é uma coisa só: eles confiaram na instituição e nos seus gerentes e entregaram-lhes, cegamente, seu dinheiro. Todos os cotistas dos fundos do Boavista ouvidos pelo Folhainvest foram unânimes em afirmar que nunca receberam ou leram os regulamentos dos fundos. Também não assinaram qualquer contrato; tudo foi feito no "fio do bigode".
"O mercado financeiro funciona na base da confiança", diz Pamplona. Ele aplica também em fundos administrados por outros bancos e diz que em todos eles nunca pediu o regulamento para ler.
"Fomos levados a crer que não havia risco naqueles fundos", diz Denis Mansur, empresário de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Segundo ele, nem o gerente da agência local do Boavista conhecia o regulamento dos fundos. "Ele vendeu o Master 60 como de risco moderado", diz.
Segundo Mansur, o folheto com a descrição do grau de risco do fundo foi substituído por outro na agência, após as perdas. Principal mudança na segunda edição: o grau de risco aumentou. A direção do Boavista, porém, afirma que não houve irregularidade nos fundos e que os cotistas sabiam do risco que corriam.
"Esse episódio tem de fazer melhorar as práticas de captação no mercado", observa o engenheiro Fernando Feher que perdeu quase R$ 30 mil. Deve, também, servir de exemplo para os investidores ficarem mais cautelosos. Afinal, no banco como na banca (do jogo do bicho) vale o que está escrito. (SB)



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