|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RISCO TOTAL
Cotistas do Boavista perderam dinheiro por desconhecer as regras dos fundos
Tiro no escuro pode atingir o atirador
da Reportagem Local
Você concentraria as economias
de uma vida inteira em fundos de
alto risco? Pois o engenheiro aposentado e ex-presidente de uma
grande empresa nacional, Benedito Costa, 68, fez isso. Perdeu R$
800 mil; todas as suas economias.
Você aplicaria todo seu dinheiro
em um fundo onde seu capital pode virar pó da noite para o dia? O
administrador, com MBA (Master
in Business Administration) em finanças, Roberto Martins, aplicou.
Perdeu tudo: R$ 270 mil .
Você entregaria R$ 500 mil para
seu gerente aplicar em fundos sem
assinar nenhum contrato que especificasse o grau de risco a que
seu dinheiro está exposto? O economista Eduardo Pamplona, 33,
operador de um grande banco, entregou. Perdeu toda a bolada.
Você aplicaria em fundos de um
banco que não orienta direito os
clientes? O engenheiro Pedro Gonzalez, 46, reclamou ao Folhainvest
do atendimento do Boavista ao investidor, em setembro do ano passado. Mas manteve seu dinheiro
em três fundos derivativos do banco. Perdeu R$ 62.000.
A lista de investidores que confiaram no banco Boavista e aplicaram nos fundos Hedge 60, que
quebrou, no Master 60 e no Derivativos 60, que sofreram pesadas
perdas, é interminável.
O que une toda essa gente é uma
coisa só: eles confiaram na instituição e nos seus gerentes e entregaram-lhes, cegamente, seu dinheiro. Todos os cotistas dos fundos do
Boavista ouvidos pelo Folhainvest
foram unânimes em afirmar que
nunca receberam ou leram os regulamentos dos fundos. Também
não assinaram qualquer contrato;
tudo foi feito no "fio do bigode".
"O mercado financeiro funciona
na base da confiança", diz Pamplona. Ele aplica também em fundos
administrados por outros bancos e
diz que em todos eles nunca pediu
o regulamento para ler.
"Fomos levados a crer que não
havia risco naqueles fundos", diz
Denis Mansur, empresário de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Segundo ele, nem o gerente da
agência local do Boavista conhecia
o regulamento dos fundos. "Ele
vendeu o Master 60 como de risco
moderado", diz.
Segundo Mansur, o folheto com
a descrição do grau de risco do
fundo foi substituído por outro na
agência, após as perdas. Principal
mudança na segunda edição: o
grau de risco aumentou. A direção
do Boavista, porém, afirma que
não houve irregularidade nos fundos e que os cotistas sabiam do risco que corriam.
"Esse episódio tem de fazer melhorar as práticas de captação no
mercado", observa o engenheiro
Fernando Feher que perdeu quase
R$ 30 mil. Deve, também, servir de
exemplo para os investidores ficarem mais cautelosos. Afinal, no
banco como na banca (do jogo do
bicho) vale o que está escrito.
(SB)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|