São Paulo, segunda, 5 de outubro de 1998

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ARTIGO
O lado irracional da crise

RUBENS JOÃO TAFNER


O Brasil está sendo assediado por clamores locais e internacionais para que mudanças sejam feitas na política econômica, tais como controle dos fluxos de capitais externos e desvalorizações cambiais, além de outras medidas restritivas do gênero.
Vozes apregoam que o Brasil não conseguirá estancar a sangria de dólares que reduziu as reservas em US$ 20 bilhões em um curtíssimo espaço de tempo.
Pois bem, se você está perdendo o sono achando que o país vai desabar, tranquilize-se. É preciso lembrar que, antes da crise, o Brasil recebeu volume recorde de capital de risco proveniente de investimentos estrangeiros, graças ao vigoroso programa de privatizações, acompanhado de fusões, aquisições e incorporações.
Em outras palavras, o capital de risco investido aqui é um capital de qualidade. Tais investimentos demonstraram de forma inequívoca que os investidores externos crêem no grande potencial de crescimento do Brasil, com visão de médio e longo prazos.
Não há razão para se pensar que as baixas sofridas nas Bolsas brasileiras poderiam sugerir um sinal inverso, ou seja, de que eventualmente os investidores estrangeiros teriam perdido a confiança no Brasil.
A consultoria americana A. T. Kearny realizou uma consulta com presidentes e executivos de 150 empresas americanas, européias e japonesas que, juntas, devem faturar este ano US$ 2 trilhões. A pergunta-chave da pesquisa foi "Qual é o país preferido para futuros investimentos?".
Fora os EUA, que sempre carregam essa preferência, dentre os 25 países mencionados, o Brasil ocupa a 1ª posição. Para o biênio 97/99 estão previstos investimentos de US$ 60 bilhões no país.
Por tudo isso, notamos que as baixas nas Bolsas são resultado de um misto de irracionalidade e pânico do qual somos apenas coadjuvantes.
As sinalizações recebidas dos organismos internacionais de ajuda ao fomento da economia, aliadas às declarações vindas dos EUA de que haverá recursos para ajudar países emergentes em dificuldades, estão trazendo de volta a racionalidade.
Realmente, em determinado momento parecia mesmo que o mundo iria desabar. As Bolsas fazendo recordes de baixa, a procura desvairada de dólares como um provável porto seguro, as moedas locais perdendo valor diante da moeda americana.
Somou-se a isso a Rússia, que, para não fugir da regra, apresenta problemas econômicos e políticos sérios.
Com esse quadro, por ser um país classificado como emergente, é certo que o Brasil não poderia deixar de ser envolvido nessa roleta.
Porém, é preciso considerar que parte da saída de dólares se deu por conta de compromissos que vencem em setembro, agregados à falta de rolagem de operações de crédito e operações preventivas realizadas na expectativa de uma mudança cambial.
O certo é que os investidores estrangeiros depositam uma grande expectativa no desenvolvimento do nosso país. Temos de acreditar em nossa competência e melhorar a auto-estima, o que também nos ajuda a distinguir, medir e compreender os reais fundamentos do "furacão". Confiança é a palavra-chave.


Rubens Tafner é presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF/SP) e vice-presidente do Comitê da International Association Financial Executives Institutes para o Mercosul



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