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ARTIGO
O lado irracional da crise
RUBENS JOÃO TAFNER
O Brasil está sendo assediado
por clamores locais e internacionais para que mudanças sejam feitas na política econômica, tais como controle dos fluxos de capitais
externos e desvalorizações cambiais, além de outras medidas restritivas do gênero.
Vozes apregoam que o Brasil
não conseguirá estancar a sangria
de dólares que reduziu as reservas
em US$ 20 bilhões em um curtíssimo espaço de tempo.
Pois bem, se você está perdendo
o sono achando que o país vai desabar, tranquilize-se. É preciso
lembrar que, antes da crise, o Brasil recebeu volume recorde de capital de risco proveniente de investimentos estrangeiros, graças
ao vigoroso programa de privatizações, acompanhado de fusões,
aquisições e incorporações.
Em outras palavras, o capital de
risco investido aqui é um capital
de qualidade. Tais investimentos
demonstraram de forma inequívoca que os investidores externos
crêem no grande potencial de
crescimento do Brasil, com visão
de médio e longo prazos.
Não há razão para se pensar que as baixas sofridas
nas Bolsas brasileiras poderiam sugerir um sinal inverso, ou seja, de que eventualmente os investidores estrangeiros teriam perdido a
confiança no Brasil.
A consultoria americana
A. T. Kearny realizou uma
consulta com presidentes e
executivos de 150 empresas
americanas, européias e japonesas que, juntas, devem
faturar este ano US$ 2 trilhões. A pergunta-chave da
pesquisa foi "Qual é o país
preferido para futuros investimentos?".
Fora os EUA, que sempre
carregam essa preferência,
dentre os 25 países mencionados,
o Brasil ocupa a 1ª posição. Para o
biênio 97/99 estão previstos investimentos de US$ 60 bilhões no
país.
Por tudo isso, notamos que as
baixas nas Bolsas são resultado de
um misto de irracionalidade e pânico do qual somos apenas coadjuvantes.
As sinalizações recebidas dos organismos internacionais de ajuda
ao fomento da economia, aliadas
às declarações vindas dos EUA de
que haverá recursos para ajudar
países emergentes em dificuldades, estão trazendo de volta a racionalidade.
Realmente, em determinado
momento parecia mesmo que o
mundo iria desabar. As Bolsas fazendo recordes de baixa, a procura desvairada de dólares como um
provável porto seguro, as moedas
locais perdendo valor diante
da moeda americana.
Somou-se a isso a Rússia,
que, para não fugir da regra,
apresenta problemas econômicos e políticos sérios.
Com esse quadro, por ser
um país classificado como
emergente, é certo que o Brasil não poderia deixar de ser
envolvido nessa roleta.
Porém, é preciso considerar
que parte da saída de dólares
se deu por conta de compromissos que vencem em setembro, agregados à falta de
rolagem de operações de crédito e operações preventivas
realizadas na expectativa de
uma mudança cambial.
O certo é que os investidores estrangeiros depositam uma
grande expectativa no desenvolvimento do nosso país. Temos de
acreditar em nossa competência e
melhorar a auto-estima, o que
também nos ajuda a distinguir,
medir e compreender os reais fundamentos do "furacão". Confiança é a palavra-chave.
Rubens Tafner é presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF/SP) e vice-presidente do Comitê da International Association Financial Executives Institutes para o Mercosul
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