São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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LEONARDO BOFF
Teólogo


""Li o "Manifesto Comunista' pela primeira vez em 1962, quando estudava filosofia em Curitiba. Foi num contexto de reflexões sobre ética. E o contexto brasileiro era de um começo de certa mobilização popular e certo sentido de libertação, de nova consciência na perspectiva que Paulo Freire estava suscitando.
Três pontos me impactaram profundamente. Primeiro, a coerência. A força da perspectiva dos oprimidos e também a beleza retórica e denunciatória dessa perspectiva. Segundo, a ética, a dignidade ética da revolução, como resgate da vida, do trabalhador, da dignidade das atividades ligadas à produção e reprodução da vida. Em terceiro lugar, o caráter visionário do "Manifesto'. Ele apresenta um sonho, a construção de uma humanidade reconciliada consigo mesma, com a natureza, a apresentação de um caminho para essa reconciliação final, que é o socialismo como maneira de construir o comunismo para todos. E aí eu percebi a grande força, eu diria judaico-cristã, do "Manifesto', que é o sonho do cristianismo originário, de colocar tudo em comum e de não haver pobres entre os seres humanos. Essa perspectiva me parece duradoura, porque a luta dos seres humanos não é só por pão, é também por sonho, por beleza, por uma reconciliação final. E esse conteúdo é a força permanente do "Manifesto'. Por isso, a celebração agora dos seus 150 anos é uma forma de, neste marasmo cultural em que vivemos, ressuscitar novamente visões e utopias que dêem sentido à atividade humana."



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