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LEONARDO BOFF
Teólogo
""Li o "Manifesto Comunista' pela
primeira vez em 1962, quando estudava filosofia em Curitiba. Foi
num contexto de reflexões sobre
ética. E o contexto brasileiro era de
um começo de certa mobilização
popular e certo sentido de libertação, de nova consciência na perspectiva que Paulo Freire estava
suscitando.
Três pontos me impactaram
profundamente. Primeiro, a coerência. A força da perspectiva dos
oprimidos e também a beleza retórica e denunciatória dessa perspectiva. Segundo, a ética, a dignidade ética da revolução, como resgate da vida, do trabalhador, da
dignidade das atividades ligadas à
produção e reprodução da vida.
Em terceiro lugar, o caráter visionário do "Manifesto'. Ele apresenta
um sonho, a construção de uma
humanidade reconciliada consigo
mesma, com a natureza, a apresentação de um caminho para essa
reconciliação final, que é o socialismo como maneira de construir
o comunismo para todos. E aí eu
percebi a grande força, eu diria judaico-cristã, do "Manifesto', que é
o sonho do cristianismo originário, de colocar tudo em comum e
de não haver pobres entre os seres
humanos. Essa perspectiva me parece duradoura, porque a luta dos
seres humanos não é só por pão, é
também por sonho, por beleza,
por uma reconciliação final. E esse
conteúdo é a força permanente do
"Manifesto'. Por isso, a celebração
agora dos seus 150 anos é uma forma de, neste marasmo cultural em
que vivemos, ressuscitar novamente visões e utopias que dêem
sentido à atividade humana."
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