São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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RICHARD RORTY
Filósofo norte-americano

"Li pela primeira vez o "Manifesto Comunista' quando tinha 15 anos. Fazia parte das leituras de um curso a que eu assistia sobre "As Ciências Sociais'. Não achei que a reivindicação de que a propriedade privada devia ser abolida fosse nova ou perturbadora. Tomei isso mais como um ponto pacífico, já que tinha sido criado como (o que naquele tempo era chamado de) um trotskista.
Meus pais eram anti-stalinistas de esquerda que me ensinaram que o capitalismo tornava miseráveis os trabalhadores e camponeses e que algo precisava ser feito. Porém, fiquei seriamente abalado com a idéia de que a história era a história da luta de classes e que a burguesia era o vilão. O problema era que eu parecia ser um moço pequeno-burguês. Meus pais eram jornalistas e nunca tinham trabalhado com as mãos. Eu nunca tinha passado fome e parecia improvável que um dia fosse passar. Quando li o "Manifesto' fiquei com vergonha e culpa, combinadas com uma vaga esperança de que o proletariado vitorioso não viesse a ser muito duro comigo ao tomar o poder.
Anos mais tarde, relendo o "Manifesto', tentei me convencer de que nós da burguesia talvez um dia ainda conseguíssemos tornar burguês o proletariado -tornando, assim, a revolução e mais a luta de classes desnecessárias. Mas era mais fácil manter essa esperança nos Estados Unidos de Harry Truman e Lyndon Johnson do que nos Estados Unidos de hoje."



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