São Paulo, domingo, 1 de novembro de 1998

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Incerteza é inevitável

especial para a Folha

Quem precisa de certezas inquestionáveis para tomar decisões sobre o clima não vai encontrá-las no último relatório do IPCC, de 1995. O documento até faz um esforço para orientar a ação de governantes, mas o resultado obtido não é dos mais encorajadores.
No "Sumário para Tomadores de Decisão", que abre o volume, fala-se muito em incertezas. Sobre a correlação entre aumento da concentração de CO2 por ação humana e aumento da temperatura atmosférica, por exemplo, eis o máximo que os autores conseguem afirmar: "É muito baixa a probabilidade de que essas correspondências possam ocorrer por acaso como resultado exclusivo da variabilidade natural interna".
Na realidade, o grau de (in)certeza alcançado parece ter sido suficiente para que se impusesse o chamado princípio da precaução. A sucessão de indícios verificados nas pesquisas levou à convicção de que pode sair mais caro remediar do que prevenir.
E, com efeito, as evidências só fazem acumular-se, a julgar por publicações científicas respeitáveis como "Science" e "Nature". É rara a edição que não traz algum artigo sobre efeito estufa.
Só neste semestre houve dois artigos de peso. No primeiro, caiu por terra um dos principais argumentos dos céticos, a discrepância entre temperaturas atmosféricas medidas na superfície do planeta e valores obtidos por satélites. Havia erro nas medidas dos satélites.
No outro artigo, a análise de centenas de medições de temperatura subterrânea confirmou que a Terra se aqueceu 1C em cinco séculos e que metade disso ocorreu nos últimos cem anos Äo auge da industrialização, quando a concentração de CO2 passou de 280 partes por milhão (ppm) para 360 ppm. (ML)




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