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EUA
Prosperidade flexível
Com maioria de fiéis de origem latina,
Universal usa programa de TV e "oração
drive-thru" para se expandir nos EUA
JANAINA LAGE
EM NOVA YORK
Há quem diga que a
crise está muito
mal, que a situação
está ruim para todos. Para todo
mundo, não. Há alguns que estão prosperando, que estão
conquistando. Só não vê dessa
maneira quem não crê em
Deus", afirma, em espanhol, o
pastor Kleiton, do Brooklyn, a
um conjunto de cerca de 250
fiéis no culto de domingo.
A maioria dos fiéis é de origem latina e a prosperidade na
América, a principal motivação
de quem larga tudo para viver
em outro país.
Nos cultos e no programa de
TV intitulado "Pare de Sufrir"
[Pare de Sofrer], exibido pelo
canal Telemundo à 1h30 na região de Nova York, o sucesso financeiro é questão de fé. Em
programa exibido no ano passado, o pastor Wagner, do
Bronx, explica que, sem o aval
de Deus, o fiel não terá êxito na
sua vinda aos EUA.
"A decisão está conectada
com a fé", diz. No programa,
dezenas de pessoas ligam para
pedir que seu nome e a descrição de seu problema sejam
mergulhados num óleo santo.
Desde que chegou a Nova
York, em 1986, a Universal não
para de crescer no país. A igreja
está presente em 20 Estados e
tem maior participação em
áreas de grande presença de
imigrantes latinos, como Flórida, Texas, Nova York e Califórnia. O site da igreja (www.igrejauniversal.org.br) afirma que há 139 templos no país.
Segundo artigo do pesquisador Eric Kramer, a expansão da
igreja foi dividida em três fases.
Na primeira, cresceu em Nova
York e Nova Jersey, depois
chegou, na década de 1990, à
região da Nova Inglaterra e a
Miami. A partir de 1993, cresceu na Califórnia, no Texas e
no Arizona.
Hector Avalos, professor de
estudos religiosos na Universidade do Estado de Iowa, afirma
que a organização funciona como "versão espiritual de Wall
Street", em referência ao discurso de prosperidade e doações à igreja.
No culto, o pastor diz que a
Universal paga mais de US$ 50
mil (cerca de R$ 88 mil) para
exibir o programa de TV na
madrugada e que o dinheiro
vem das doações. A explicação
foi dada após uma fiel testemunhar que procurou a igreja por
meio do programa depois de
ter sofrido com o vício em cocaína e ter tido vontade de se
matar e matar os filhos.
Consolidação
Em algumas regiões do país,
a igreja oferece cultos em inglês. Para Avalos, é sinal de consolidação. "Muitas igrejas que
vieram para os EUA seguiram
caminho similar. Os filhos dos
imigrantes já têm o inglês como
primeira língua", disse. É também sinal de busca de um público mais amplo.
Segundo especialistas, a Universal se inspirou no modelo
dos "tele-evangelistas" americanos, que usavam um discurso
de prosperidade que remonta à
Grande Depressão (decorrente
da quebra da Bolsa de Nova
York, em 1929). Um dos ícones
desse movimento nos EUA, Pat
Robertson, chegou a concorrer
à Presidência no final da década de 1980.
Uma das principais características da Universal nos EUA é
a flexibilidade. De uma região
para outra, há mudanças no
perfil das construções e nas estratégias para chegar ao público. No Texas, a igreja lançou
um "prayer drive-thru" (oração
dentro do carro).
Segundo o noticiário local, a
ideia surgiu porque poucas pessoas andam a pé em Houston.
Os interessados entram no estacionamento do templo,
preenchem uma ficha com seus
problemas e, na parada seguinte, um pastor faz uma oração
relacionada ao assunto e convida os ocupantes do carro a visitarem a igreja.
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