São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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EUA

Prosperidade flexível

Com maioria de fiéis de origem latina, Universal usa programa de TV e "oração drive-thru" para se expandir nos EUA

JANAINA LAGE
EM NOVA YORK

Há quem diga que a crise está muito mal, que a situação está ruim para todos. Para todo mundo, não. Há alguns que estão prosperando, que estão conquistando. Só não vê dessa maneira quem não crê em Deus", afirma, em espanhol, o pastor Kleiton, do Brooklyn, a um conjunto de cerca de 250 fiéis no culto de domingo.
A maioria dos fiéis é de origem latina e a prosperidade na América, a principal motivação de quem larga tudo para viver em outro país.
Nos cultos e no programa de TV intitulado "Pare de Sufrir" [Pare de Sofrer], exibido pelo canal Telemundo à 1h30 na região de Nova York, o sucesso financeiro é questão de fé. Em programa exibido no ano passado, o pastor Wagner, do Bronx, explica que, sem o aval de Deus, o fiel não terá êxito na sua vinda aos EUA.
"A decisão está conectada com a fé", diz. No programa, dezenas de pessoas ligam para pedir que seu nome e a descrição de seu problema sejam mergulhados num óleo santo.
Desde que chegou a Nova York, em 1986, a Universal não para de crescer no país. A igreja está presente em 20 Estados e tem maior participação em áreas de grande presença de imigrantes latinos, como Flórida, Texas, Nova York e Califórnia. O site da igreja (www.igrejauniversal.org.br) afirma que há 139 templos no país.
Segundo artigo do pesquisador Eric Kramer, a expansão da igreja foi dividida em três fases. Na primeira, cresceu em Nova York e Nova Jersey, depois chegou, na década de 1990, à região da Nova Inglaterra e a Miami. A partir de 1993, cresceu na Califórnia, no Texas e no Arizona.
Hector Avalos, professor de estudos religiosos na Universidade do Estado de Iowa, afirma que a organização funciona como "versão espiritual de Wall Street", em referência ao discurso de prosperidade e doações à igreja.
No culto, o pastor diz que a Universal paga mais de US$ 50 mil (cerca de R$ 88 mil) para exibir o programa de TV na madrugada e que o dinheiro vem das doações. A explicação foi dada após uma fiel testemunhar que procurou a igreja por meio do programa depois de ter sofrido com o vício em cocaína e ter tido vontade de se matar e matar os filhos.

Consolidação
Em algumas regiões do país, a igreja oferece cultos em inglês. Para Avalos, é sinal de consolidação. "Muitas igrejas que vieram para os EUA seguiram caminho similar. Os filhos dos imigrantes já têm o inglês como primeira língua", disse. É também sinal de busca de um público mais amplo.
Segundo especialistas, a Universal se inspirou no modelo dos "tele-evangelistas" americanos, que usavam um discurso de prosperidade que remonta à Grande Depressão (decorrente da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929). Um dos ícones desse movimento nos EUA, Pat Robertson, chegou a concorrer à Presidência no final da década de 1980.
Uma das principais características da Universal nos EUA é a flexibilidade. De uma região para outra, há mudanças no perfil das construções e nas estratégias para chegar ao público. No Texas, a igreja lançou um "prayer drive-thru" (oração dentro do carro).
Segundo o noticiário local, a ideia surgiu porque poucas pessoas andam a pé em Houston. Os interessados entram no estacionamento do templo, preenchem uma ficha com seus problemas e, na parada seguinte, um pastor faz uma oração relacionada ao assunto e convida os ocupantes do carro a visitarem a igreja.


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