|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O pastor que
não leu a Bíblia
DE GENEBRA
Deus levou Antonio, 26,
do arquipélago africano
de Cabo Verde à suíça
Genebra, no meio da Europa.
Ou ao menos é o que ele diz.
Pastor recém-chegado, prega
altivo no altar sem se importar
que nos bancos da igreja sentem-se somente quatro fiéis
nesta quinta-feira à noite.
"Sempre tem gente nova",
comentara antes da chegada de
seu rebanho. "Muitos vêm e
não ficam, mas os que ficam
acabam voltando e trazendo
mais. É o Espírito Santo se manifestando na pessoa."
Esguio, de um olhar direto
que encara o interlocutor sem
fugir nem piscar, o pastor Antonio Tony -ele jura que é sobrenome e não apelido- ainda
está se adaptando.
Chamado
Conta que recebeu um chamado da igreja ordenando que
viesse à Suíça pregar. Antonio
não confirmou à reportagem
durante a conversa no fim do
ano passado, mas uma das fiéis
disse que ele acabara de chegar.
Está aprendendo francês. Já
era pastor em Cabo Verde, mas
está reaprendendo a pregar na
Suíça. Seu exemplo é o pastor
Felipe, o número um do centro,
de quem tenta mimetizar a retórica. Antonio é diferente, domina menos as palavras, mas se
conecta rapidamente com sua
audiência de mulheres de
meia-idade, à qual narra pedaços de sua história e faz pequenas encenações numa espécie
de terapia de grupo.
Como foi parar na Universal?
"Foi coisa de ainda muito jovem", diz, sem explicar, justificando que, se começar a falar
sobre a manifestação do Espírito Santo em sua vida, nem a repórter nem ninguém será capaz de compreendê-lo. Passou
por outras religiões, mas sentiu-se bem só ao achar a atual.
Dali a virar pastor ele não revela quanto tempo levou. Conta só que largou o emprego
num hospital para assumir o
posto, pelo qual recebe, afirma,
uma "ajuda para viver". Mas
que pode, arregala os olhos, levá-lo ainda a qualquer outro lugar do mundo.
Na sua África mesmo, a presença da igreja avança voraz, o
que ele descreve com alegria no
sotaque nativo. "Estão muito,
muito grandes já lá. Aqui na Europa também."
Aprendizado para o púlpito
não houve, admite, apenas uma
vontade de "entender melhor
as coisas".
"Nunca li a Bíblia toda. É porque, se você sabe algumas coisas, já dá para entender tudo",
conclui para si. Ele minimiza a
falta de estudo e treino para
exercer sua atividade e diz
compensá-la com devoção. "É
como na escola. A maioria das
pessoas decora tudo e não entende nada. Estudar assim não
serve, sim ou não?"
(LC)
Texto Anterior: Ministério Público investiga igreja Próximo Texto: México: Reação católica Índice
|