São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Marie Curie: Cientista ganhou o Nobel 2 vezes

Maria Curie (1867-1934) deu aulas para ganhar dinheiro. Era uma partidária apaixonada de movimentos clandestinos de apoio ao positivismo político polonês e participou das atividades de uma universidade secreta -progressista e anticlerical- cujo jornal, "Pravda", apregoava o culto à ciência. Maria lia tudo no original: Dostoiévski [escritor russo] e Karl Marx [pensador alemão], os poetas franceses, alemães e poloneses. [...]
Comovida pela pobreza e a ignorância das crianças camponesas, Maria dava aulas a eles após as sete horas devotadas à educação de duas das filhas de seu empregador; ela também leu muitos livros da biblioteca científica que havia na casa.
Durante o verão, Casimir, filho mais velho de Zorawski, um estudante de matemática na Universidade de Varsóvia, apaixonou-se por ela.
Entretanto, a família dele se opôs firmemente ao casamento porque Maria era uma governanta. Embora desiludida, Maria permaneceu com os Zorawski até o fim do seu contrato, na Páscoa de 1889, quase três anos depois. [...] Ela já compartilhava da intensa excitação do mundo científico: Roentgen tinha acabado de descobrir raios invisíveis capazes de atravessar corpos opacos de várias espessuras, expondo placas fotográficas, e de tornar o ar mais condutor.
Seriam eles realmente raios? Um respeitado cientista, Henri Poincaré, tinha apresentado em janeiro de 1896 a hipótese de uma emissão, chamada "hiperfluorescência", da parede de vidro de um tubo de Crookes atingido por raios catódicos. Entrementes, Henri Becquerel, no Museu de História Natural, descobriu que sais de urânio, protegidos da luz por vários meses, emitiam espontaneamente raios cujos efeitos tinham relação com os raios de Roentgen (raios X).
Sua "Nota" sobre isso foi publicada em "Comptes Rendus" da Academia das Ciências em 23/11/ 1896. Mme. Curie ficou entusiasmada com esse assunto tão desconhecido e, como ela mais tarde confessou, que não envolvia nenhuma busca bibliográfica. [...] A vida era dura; então, veio o reconhecimento internacional do trabalho deles. Marie [como passou a ser conhecida] compareceu ao seminário de Pierre em Londres no Royal Institution, em maio de 1903, e, em 5/ 11, compartilhou com ele a Medalha Humphry Davy presenteada pela Royal Society.
O Prêmio Nobel de Física foi outorgado conjuntamente aos dois Curie e a Henri Becquerel pela descoberta da radioatividade (12/12/1903). Por causa da saúde debilitada, eles não foram a Estocolmo receber o prêmio até 6/6/1905. O prêmio foi seguido de muitas outras honrarias, incluindo a medalha Elliott Cresson. [...] Um industrial francês, Armet de l'Isle, confiante de que existiria um futuro para as aplicações médicas e industriais do rádio, construiu uma fábrica em Nogent-sur-Marne, perto de Paris, para extrair rádio de resíduos da pechblenda.

Sem patente
Em 1904, Debierne instalou lá uma sessão que preparava os materiais necessários no laboratório. Os Curie não pediram nenhum royalty e se recusaram a registrar qualquer patente; eles deliberadamente renunciaram a uma fortuna e também declinaram uma oferta muito favorável da Universidade de Genebra em 1900. Permaneceram na França e davam conselho gratuito a quem perguntasse. [...]
O Ministério da Educação Pública pensou em oferecer-lhe uma pensão, como haviam feito com a viúva de Pasteur. Ela recusou: como ainda podia trabalhar, por que privá-la disso? Surpreso, o Conselho Docente decidiu, unanimemente, manter a cátedra de física criada por Pierre em 1904 e outorgá-la a Marie (1º/5/1906). Ela foi confirmada em 1908; pela primeira vez uma mulher ensinou na Sorbonne. [...]
Em 1911, o Prêmio Nobel de Química foi dado a Mme. Curie "pelos seus serviços para o avanço da química com o descobrimento dos elementos rádio e polônio"; foi a primeira vez que um cientista recebeu um tal prêmio duas vezes. A maior parte do dinheiro do prêmio foi diretamente para pesquisa e para amigos. Nessa época, sua saúde estava debilitada; ela deixou a casa no nº 6 da rua du Chemin-de-fer, em Sceaux, onde vivia desde 1906, mudando-se para o nº 36 do Quai de Béthune, mais perto de seu laboratório.


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