São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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Livro de Guimarães Rosa é eleito o principal no gênero de todos os tempos no país; "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas", ambos de Machado de Assis, são o segundo e o terceiro colocados
"Grande Sertão" é o melhor romance brasileiro

Folha Imagem
O escritor Guimarães Rosa (1908-1967), autor de "Grande Sertão: Veredas", publicado em 1956 e eleito o melhor romance brasileiro


da Redação

Apesar de João Guimarães Rosa ser o autor daquele que foi escolhido como o melhor romance da literatura brasileira de todos os tempos, "Grande Sertão: Veredas", a lista elaborada pelo júri a convite da Folha reafirma Machado de Assis como o mais importante romancista do país. O autor carioca, fundador da Academia Brasileira de Letras, tem três obras entre os dez principais romances: "Dom Casmurro", em segundo lugar; "Memórias Póstumas de Brás Cubas", em terceiro; e "Quincas Borba", em sexto.
A lista dos 30 principais romances brasileiros de toda a história seguiu o mesmo modelo da lista internacional. Cada jurado selecionou 30 livros, dispondo os dez primeiros em ordem hierárquica de preferência.
Na lista brasileira, assim como na internacional, predominam textos escritos antes de 1950. Essa distância temporal precisa ser vista, segundo João Alexandre Barbosa, com naturalidade, uma vez que ela é necessária para que o julgamento crítico se estabeleça de modo mais adequado.
A relação dos 30 maiores romances de todos os tempos -ainda dominada por um "modelo realista de legibilidade", segundo João Adolfo Hansen- só traz dois autores vivos: Jorge Amado, com "Terras do Sem Fim" e "Mar Morto", e Rachel de Queiroz, com "O Quinze". Ainda assim, as obras aparecem nas últimas posições e foram escritas no início da carreira dos escritores.
Os livros mais recentes a figurar entre os escolhidos são da década de 70: "Água Viva" (1973) e "A Hora da Estrela" (1977), ambos de Clarice Lispector. A ausência da escritora entre os dez primeiros colocados, aliás, foi o aspecto mais comentado pelos críticos (ela ficou na 11ª e 12ª posições, com "A Hora da Estrela" e "A Paixão Segundo GH").
Para Silviano Santiago, tal resultado é esperado, "pois ela está na "moda' e, no Brasil, como em qualquer parte do mundo, há uma antipatia por quem está na moda. A autora, inclusive, não se ajusta aos princípios norteadores da lista, nenhum desses escritores se aproxima dela, a não ser Guimarães Rosa -e, mesmo assim, nos contos".
De acordo com Leyla Perrone-Moisés, a escritora tem inclusive, neste final de século, maior repercussão internacional do que o autor de "Grande Sertão: Veredas" e "Sagarana".

Os ausentes
Do mesmo modo que o argentino Jorge Luis Borges não pôde ser incluído na relação internacional desde 1900 por ter sido prioritariamente um contista, a delimitação da escolha do júri ao gênero romance fez com que ficassem de fora da lista nacional algumas obras fundamentais da prosa literária brasileira.
Entre as mais citadas pelos jurados estão a prosa memorialística de "Baú de Ossos", de Pedro Nava, "Os Sertões", de Euclides da Cunha, os contos de Dalton Trevisan e toda a obra de Guimarães Rosa, excetuando "Grande Sertão: Veredas".



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