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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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TATA AMARAL
UM CÉU DE ESTRELAS /1997

Os policiais estão programados a receber ordens, foi um elenco dócil

Você já vivia de cinema quando realizou "Um Céu de Estrelas"?
Eu vivia de fazer vídeo empresarial. Escrevi o roteiro de "Um Céu" em 1993 e naquele mesmo ano ele foi premiado num concurso do Banespa. Demorou para sair o dinheiro e eu só filmei mesmo em 95. Depois a Riofilme entrou para bancar a finalização. Foi, na verdade, o filme mais barato da época, e acho que até hoje: R$ 380 mil.

Foi seu primeiro projeto de longa ou houve outro antes?
Tive outro, que se chamava "Violeta" e chegou a ser premiado pela Secretaria de Cultura de São Paulo. Era a história da mulher de um jogador de futebol. Um roteiro original meu. Mas descartei porque acho que não tinha muita vontade de fazer. Na verdade, eu não tinha muita vontade de fazer longa. Eu queria fazer cinema. É que eu fazia roteiro de curta, apresentava às comissões, não ganhava nunca. Apareceu esse concurso do Banespa para longas, resolvi entrar. A idéia não foi minha não, foi o Fernando Bonassi [autor do romance que inspirou o filme] que insistiu. O que eu queria filmar mesmo era uma peça dele chamada "Coisas Ruins da Nossa Cabeça", que depois viraria o filme "Latitude Zero", do Toni Venturi. Mas na época os direitos da peça estavam com o Ricardo Pinto e Silva.

O filme foi rodado em super-dezesseis mm. Por quê?
Optei pelo super-16 porque queria imprimir aquele ritmo do jornal "Aqui Agora" [do SBT], com uma câmera que funcionasse naquele nível. Para isso precisava de uma câmera pequena e de mais duração de negativo: o de 35mm tem quatro minutos, o de 16mm, 11. Como tinha essa característica da câmera aparentemente solta, seguindo os atores que evoluíam pela casa, a luz foi colocada no teto. A gente encontrou uma casa e fez uma reforma para que a luz fosse toda aérea, de modo a não ter tripé, a não restringir o ângulo, para que a câmera pudesse imprimir esse registro meio "Aqui Agora", que vai para qualquer lado.

Os movimentos de câmera estavam pré-definidos ou houve muita improvisação no set?
Não era improvisado, não. Eu ensaiava muito a evolução dos atores e marcava muito a câmera. O filme dá só uma impressão de registro espontâneo, mas foi muito elaborado, muito construído.

Aconteceu algum imprevisto durante as filmagens?
Alguns. Por exemplo, a Leona Cavalli quebrou o pulso no teatro, onde ela trabalhava à noite, depois de sair das filmagens. Com isso, ela teve de atuar com uma atadura no pulso, o que me obrigou a introduzir uma cena em que ela bate a mão na parede, se machuca e enfaixa a mão. Outra coisa: no roteiro, a gente previa a presença da polícia. Quando foi para filmar, não havia dinheiro para contratar atores e fazer figurino, então tivemos que recorrer à polícia mesmo. Eles leram o roteiro, chegaram a dizer que a personagem Dalva tinha a "síndrome de Estocolmo", da sequestrada que se envolve afetivamente com o sequestrador. No dia de filmar a invasão policial, eles não chegavam nunca. Não tínhamos dinheiro para mais uma diária, estávamos em pânico. Finalmente eles chegaram. Tinham vindo de uma rebelião em Franco da Rocha, chegaram totalmente no pique. Aí aconteceu uma coisa engraçada. Eu tinha pedido para ser uma invasão mesmo: uns invadiam pelo terraço e outros arrombavam a porta da frente. Tínhamos combinado uma contagem. Davam quatro porradas, a câmera estava atrás deles, aí alguém puxaria do outro lado a porta, que cairia, e nisso as sombras do pessoal entrando pelo terraço se projetariam na parede interna da casa. Eles só tinham que seguir o combinado e entrar. Só que o cara, em vez de abrir com a maçaneta, como a gente pensou, meteu uma coronhada no vidro. Foi um prejuízo, porque tivemos que trocar o vidro da porta. À parte isso, eles representaram bem. Eles estão programados para receber ordens, foi um elenco dócil.

OUTRO FILME: "Através da Janela" (2000).


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