São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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"Folhas de Relva"

Creio em ti, minha alma... o outro que sou não deve rebaixar-se diante de ti.
E tu não deves ser rebaixada diante do outro.
Fica à toa comigo na relva... solta esse nó da tua garganta.
Não quero palavras, música ou rima... nem hábitos nem sermões, nem mesmo o que há de melhor,
Amo apenas a quietude, o sussurro de tua voz modulada.
Recordo como nos deitamos em junho, numa manhã de verão tão transparente;
Repousaste a cabeça atravessada sobre meus quadris e suavemente te viraste sobre mim,
E abriste minha camisa no peito e mergulhaste tua língua em meu coração desnudado,
E continuaste até sentir minha barba, e continuaste até segurares meus pés.
Rapidamente ergueram-se e espalharam-se em torno de mim a paz, a alegria e o conhecimento que superam /toda arte e toda argumentação da terra;
E sei que a mão de Deus é ancestral de minha própria mão,
E sei que o espírito de Deus é irmão mais velho de meu próprio espírito,
E que todos os homens já nascidos são também meus irmãos... e as mulheres minhas irmãs e amantes,
E que uma nave da Criação é o amor;
E que sem limite estão as folhas firmes ou caídas nos campos,
E formigas castanhas nos pequenos vãos sob elas,
E o musgo se espalhando pelas cercas serpeantes, e as pedras empilhadas, e o sabugueiro, a erva dos /escrofulosos e a erva dos cancros.


Tradução de EDUARDO FRANCISCO ALVES.


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