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+ Livros
Futilidade que vem do berço
Biografia traz
a Revolução
Francesa vista
por Maria
Antonieta, sua
vítima mais
famosa
ISABEL LUSTOSA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nesta minuciosa
biografia de Maria
Antonieta [1755-1793] temos a história da Revolução
Francesa contada do ponto de
vista de sua vítima mais famosa. Décimo quinto filho e oitava
filha mulher da imperatriz da
Áustria, a grande Maria Tereza,
não se previa um futuro muito
grandioso para Antonieta. Destinada a se casar com um dos
netos de Luís 15, ela chegou à
França com 14 anos, sem ter
recebido uma educação formal
adequada e sendo, por natureza, dispersiva e desinteressada
pelos livros. Pode-se dizer que
Maria Antonieta encontrou
seu elemento natural naquela
corte das aparências e do luxo
exagerado. Vocacionada para a
vida nos salões, para o hedonismo tão bem cultivado na corte
de Luís 15, Antonieta pôde ali
desenvolver suas melhores
qualidades: um irresistível encanto pessoal; uma postura altiva e elegante; um jeito gracioso e inconfundível de andar; talento para a dança, o teatro e a
música (tocava harpa).
No momento em que as
idéias de Rousseau penetravam em todos os setores da sociedade, mesmo nos salões da
nobreza, momento em que se
exaltavam a igualdade, o racionalismo, a valorização do homem comum, em que o poder
divino dos reis vinha há muito
sendo desacreditado, o modo
de vida ostentatório da monarquia passou a ser uma prática
perigosa.
Isolados em Versalhes, Antonieta e seus amigos viviam em
um mundo à parte que não se
dava conta das mudanças que
se vinham operando bem ali,
em Paris. Sem interesse nenhum por política, alheia aos
problemas nacionais, tornando-se a rainha também da moda, Maria Antonieta virou o
maior símbolo daquele modo
de vida ultrapassado e irreal de
custo altíssimo para uma nação
economicamente falida. Enquanto iam aumentando gradativamente o volume dos seus
penteados; o rouge de suas faces; o preço de seus vestidos; o
custo da elaborada decoração
de suas residências; a mesada
das pessoas de sua corte pessoal, ia-se construindo a imagem da rainha dissoluta e
egoísta, cada vez mais identificada pelo franceses como "a
austríaca".
Panfletos indecentes
Luís 16, um rei tímido, pusilânime, sem qualquer graça
pessoal, cujas dificuldades sexuais eram de conhecimento
público -o casamento demorou anos para ser consumado-
não tinha uma imagem capaz
de fazer frente à perda da força
simbólica da monarquia. O rei e
a rainha se tornaram o tema
preferencial dos panfletos indecentes aos quais reagiram
com indiferença.
Não avaliando o papel corrosivo que essa propaganda negativa causava a suas imagens
junto ao povo, foram igualmente inábeis no trato com alguns
setores da aristocracia e da
classe política. Desmoralizada
a realeza, quando a Revolução
chegou, Luís 16 e Maria Antonieta não encontraram amparo
nem mesmo entre a família
real. Ela também dividida, com
os Orléans aderindo à causa da
Revolução.
A incapacidade decisória de
Luís 16 seria fatal para o seu
destino e o de sua família. A falta de visão do processo de escalada da violência que teve início
com a queda da Bastilha e a tentativa de assassinato de Maria
Antonieta em Versalhes, seguida pela desastrada tentativa de
fuga para Varennes, quando a
família já se encontrava presa
nas Tulherias, selaram o destino da família real. O resto da
história é a penosa descida aos
infernos, onde o lado mais
cruel da Revolução se revela no
brutal massacre da princesa de
Lamballe e nas humilhações
impostas à rainha na prisão e
durante a ida para o cadafalso.
O aspecto que mais revolta é
o destino de Luís 17, menino arrancado da mãe para ser corrompido e usado contra ela de
maneira infame em seu julgamento. Foi esse processo trágico que permitiu a Maria Antonieta elevar-se acima de sua
própria natureza, demonstrando ser maior na desventura do
que jamais fora na fortuna.
O maior mérito do livro de
Antonia Fraser reside no enorme volume de informações
que, bem concatenadas, permitem acompanhar toda a trajetória de Maria Antonieta. O
texto que, em si, não é muito
elegante, foi prejudicado na
edição brasileira por um certo
descuido em seu tratamento,
evidenciado em muitos parágrafos mal redigidos e de leitura quase incompreensível.
Exemplar disso é a referência
da autora no prefácio a um subtítulo [a mulher extravagante,
infiel e condenada de Luís 16]
(no original, em inglês: extravagant, unfaithful and doomed
wife of Louis XVI) que, de certa
forma, explicaria o sentido da
obra e que foi subtraído da edição brasileira.
ISABEL LUSTOSA é cientista política, historiadora da Casa de Rui Barbosa (RJ) e autora de "D.
Pedro 1º - Um Herói sem Nenhum Caráter"
(Companhia das Letras), entre outros livros.
MARIA ANTONIETA
Autor: Antonia Fraser
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Editora: Record (tel. 0/xx/21/ 2585-2000)
Quanto: R$ 67,90 (574 págs.)
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