MARCELO REZENDE
da Reportagem Local

Há som, cor e movimento em Gilles Deleuze. Se não explicitamente em seu pensamento, ao menos em três inusitados produtos -dois CDs, um livro infantil e um vídeo- que acabam de ser lançados no mercado europeu e que levam, de diferentes formas, a marca do filósofo.
"L'Abécédaire de Gilles Deleuze" (Editions Montparnasse, 369 francos) expõe em 7 horas e 33 minutos (distribuídos em três cassetes) os encontros do pensador com a filósofa Claire Parnet, cuidadosamente gravados em vídeo por Pierre-André Boutang. Anunciado como uma grande entrevista, a forma de "L'Abécédaire" se assemelha mais a um jogo.
Seguindo uma regra criada pelo próprio Deleuze, palavras escolhidas quase ao caso -mas sempre em ordem alfabética- são mencionadas ao filósofo, para que ele, "sem grandes artifícios", possa realizar seus comentários. De "animal" à "doença", de "deslocamento" a "zebra".
Supostamente mais descontraído é "L'Oiseau Philosophie" (O Passário Filosofia, Ed. Seuil, 65 francos). Espécie de Deleuze para crianças, o livro reúne trechos de textos, frases e rápidas observações acompanhadas pelo traço da ilustradora Jacqueline Duhême.
Amiga do filósofo desde 1954, Duhême deu início ao projeto pouco antes da morte do autor de "Mil Platôs". Segundo ela, o pensador se mostrou encantado com a idéia de que seus conceitos filosóficos pudessem caber nas mãos de uma garotinha.
Já o Deleuze para dançar é uma invenção de diversas bandas européias e norte-americanas de música eletrônica.
Agrupados nas gravadoras Sub Rosa e Mille Plateaux, os CDs "Folds and Rhizomes for Gilles Deleuze" e "In Memorian Gilles Deleuze" trazem 31 composições de 26 grupos.
Com nomes como Blue Byte, Kerosene, Rome ou El Turco Loco, os conjuntos misturam a voz de Deleuze aos trabalhos dos compositores John Cage, György Ligeti ou ao simples som -distorcido- de batidas em panelas. A intenção, segundo afirmam, é realizar uma "desterritorialização do rock" e, ainda, homenagear um "pensador da mais alta ordem".