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Ponto de Fuga
Fotografia em família
Luciano Ferrez fascina-se pelas transformações que o Rio sofre: o desmonte do morro do Castelo, as construções modernas;
são presenças vivas de metamorfoses
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JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA
Júlio e Luciano eram filhos,
Gilberto era neto do grande Marc Ferrez (1843-1923), fotógrafo do século 19
brasileiro. Esses três descendentes se dedicaram à mesma
arte e seus clichês formam o
objeto de exposição no Centro
Cultural Banco do Brasil (RJ).
Uma passagem do catálogo sintetiza assim: "Gilberto é o viajante e o aventureiro; Luciano
é o engenheiro e o urbanista;
Júlio é o cronista familiar e o
comentarista social".
Esses temas preponderantes
se interpenetram, porém, e as
fotos, atravessando décadas,
conservam um evidente ar... de
família. São prodigiosas e muito mais do que documentos.
Seus autores dominam a luz
como poucos, recusam as simplificações dos contrastes violentos, dosam matizes. As imagens se organizam sempre com equilíbrio e elegância.
Júlio capta cenas que combinam tom mundano e sensibilidade. Sabe sentir a dignidade
apurada, a melancolia delicadamente existencial de seus retratados. Gilberto possui o talento de compor com segurança original paisagens vindas do
Brasil todo e do mundo inteiro.
As colunas brancas e sólidas,
desenhadas para a Carlton
House Terrace pelo arquiteto
John Nash (1752-1835), em
Londres, foram apanhadas por
sua lente em 1952: parecem dirigir-se para o infinito. Essa
perspectiva é compartilhada
por árvores enfileiradas e por
pequenos personagens; o rigor
é estrito, mas tudo vibra de sugestões indizíveis.
Luciano fascinava-se pelas
transformações que o Rio de
Janeiro sofria: o desmonte do
morro do Castelo, as construções modernas. São presenças
vivas de metamorfoses.
A objetiva busca também tipos populares e cenas urbanas
pouco banais, como na formidável série da grande ressaca
ocorrida em 1921.
É um assombro
Em poucas semanas encerra-se "Sassaricando - E o Rio Inventou a Marchinha", no Teatro Carlos Gomes, no Rio. É uma revista musical de Rosa
Maria Araújo e Sérgio Cabral.
Ficou um ano em cartaz, viajou
para várias cidades. Um primor. Evoca o Carnaval que um
dia, no passado, pôde ser leve e
divertido.
Sem a menor vulgaridade,
com um elenco perfeito, encabeçado por Eduardo Dussek e
Soraya Ravenle, as marchinhas
se sucedem. Brilham, têm letras espertas, às vezes críticas,
às vezes poéticas. Foram tratadas musicalmente com talento
e respeito por Luís Filipe de Lima. Quem não viu e puder ir,
corra. Para quem não puder, há
um DVD e um CD duplo do espetáculo (Biscoito Fino).
Fascínio
A arte feita no Brasil durante
o século 19 continua sendo, de
modo geral, pouco amada. Pairam sobre ela dois preconceitos: não seria moderna nem nacional. Mas, já há algum tempo, há sinais de mudança inteligente. Acabam de surgir alguns livros que tratam com amor e
discernimento as artes no Brasil dos oitocentos.
Rafael Cardoso, num volume
bonito, editado pela Record,
agrupa ensaios estimulantes
em "A Arte Brasileira em 25
Quadros (1790-1930)". Sonia
Gomes Pereira escreveu, com
fins didáticos, "A Arte Brasileira do Século 19" (editora C/Arte). Expõe um belo panorama:
para quem começa a se interessar pelo assunto, é a obra indicada. Maraliz Vieira Christo organizou um dossiê sobre a pintura de história para os Anais
do Museu Histórico Nacional:
são estudos aprofundados, trabalhos de especialistas que descobrem e desvendam.
Enfim, Ruth Levy interroga a
arquitetura "fin-de-siècle", no
seu "Entre Palácios e Pavilhões
- A Arquitetura Efêmera da Exposição Nacional de 1908"
(EBA Publicações).
jorgecoli@uol.com.br
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