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RISCO NO DISCO
Canção de ninar poeta
LEDUSHA SPINARDI
Desaba, anjo, no meu colo. O dia se anuncia na lamúria dos freios dos ônibus, nas portas das padarias se abrindo e as horas
sôfregas atropelam mais
um sol. Suas pupilas se adoçam sob o céu de safira.
Dorme dizendo meu verdadeiro nome, suspenso entre
suspiros e resquícios de
sorriso. Desfruta o tácito
frescor que cultivei na pele
sabendo que virias, saudoso de espumas e travesseiros de plumas: lá de onde
- balbucias - colecionavas lixas. Ficarei ouvindo os
ruídos rotineiros cumprindo sua sina. O jornal vaza a
fresta da porta. A vizinha de
chaves truculentas sai para
a sessão de análise. O cachorro olha o vazio enroladinho na manta xadrez. Minhas pálpebras inventam
um vento de outono. Munida de delicadezas, abano
seu abandono, doce incólume palmeira.
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